Abstract:
RESUMO: A violência de gênero é um problema social grave que comporta múltiplas dimensões, se constitui como questão de saúde pública e direitos humanos. Presente nas mais variadas classes sociais, raças, etnias, idades e nível de escolaridade, se apresenta sob as mais diversas formas e com grandes repercussões para as mulheres, suas famílias e sociedade, em geral, posto que torna-se obstáculo ao desenvolvimento de um país. Visando compreender os reflexos dessa violência, no que se refere à dimensão moral, da saúde e da sexualidade, o objetivo desse trabalho é analisar as marcas deixadas pela violência conjugal na vida de mulheres que denunciaram seus companheiros e\ou maridos em uma Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher – DEAM, em Teresina. Para tal se tomou gênero como categoria analítica, concebendo essas relações como construídas socialmente e as práticas de violência como indicativos de relações desiguais entre os sexos e reflexos de uma sociedade machista e patriarcal. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, cuja coleta de informações se deu através de entrevistas semiestruturadas com a intenção de entender os discursos femininos como produção de sentidos da violência inscrita nos seus corpos e para além desses. O tratamento dos dados deu-se através da análise de conteúdo. Os resultados encontrados revelaram que a violência sofrida pelas mulheres que fizeram parte da pesquisa deixaram marcas profundas e amplas em suas vidas. O comprometimento em relação à saúde é visível e verbalizado parte das mulheres entrevistadas estão em tratamento contra a depressão ou fazendo uso de ansiolíticos e antidepressivos. Algumas sofrem de insônia, hipertensão, distúrbios alimentares, estresse e enxaquecas, sintomas associados ao processo da trajetória da violência sofrida. Quanto à moralidade o medo aparece fortemente em seus discursos. A combinação medo, ameaça, isolamento, culpa e impotência gera baixa autoestima. No tocante a sexualidade relatam sentimentos de nojo e repulsa diante das relações sexuais, sentem-se frias, não desejadas por seus parceiros, feias e gordas. Também foi possível encontrar estratégias femininas de defesa, sobrevivência e resistência diante da situação de violência. Estarem no espaço da DEAM já se constitui numa forma de enfrentamento a violência, pois mesmo que algumas não desejem ver seus companheiros presos, mostrando comportamentos que não visam rupturas abruptas, querem cessar o ciclo de violência conjugal. Diante dos danos morais, sexuais e de saúde causados pela violência e as desigualdades de gênero que ela expressa, parte de um processo cultural fortemente enraizado e retroalimentado através de práticas e discursos, acredita-se que a mudança de tal situação não se processará de forma rápida e nem através de medidas paliativas, acredita-se que mudanças efetivas ocorram através de fortes investimentos em políticas publicas de (re)educação das relações de gênero a partir da desconstrução das hierárquicas que sustentam essas relações através da implantação de um projeto nacional de educação não sexista presente obrigatoriamente nos currículos escolares e nas principais instancias públicas de socialização e construção dessas relações. Se faz necessário ainda um trabalho mais efetivo de (re)educação e ressocialização junto as famílias em situação de violência seguido de acompanhamentos continuados com profissionais especializados.----------------------ABSTRACT: Gender violence is a serious social problem that involves multiple dimensions, is constituted as a matter of public health and human rights. Present in various social classes, races, ethnicities, ages and education level, is presented under the most diverse forms and with great repercussions for women, their families and society in general, since it is an obstacle to the development of a country. To understand the consequences of this violence, with regard to the moral dimension of health and sexuality, the aim of this paper is to examine the marks left by domestic violence in the lives of women who reported their partners or husbands in a Specialized Police Service to Women - DEAM in Teresina. For this it took gender as an analytical category, conceiving these relations as socially constructed and practices of violence as indicative of unequal relations between the sexes and reflections of a patriarchal and sexist society. This is a qualitative research whose information collection was through semi-structured interviews with the intention to understand the speeches as female production of meanings of violence inscribed in their bodies and in addition to these. The data was made through content analysis. The results showed that the violence suffered by women who were part of the research have left deep scars and large in their lives. The commitment in relation to health is visible, part of the women interviewed in depression treatment or making use of anxiolytics and antidepressants. Some suffer from insomnia, hypertension, eating disorders, stress and migraines, symptoms associated with the process of trajectory of violence suffered. As for morality fear appears strongly in his speeches. The combination of fear, threat, isolation, guilt and helplessness generates low self-esteem. Regarding sexuality report feelings of disgust and revulsion in the face of sex, feel cold, unwanted by their partners, ugly and fat. It was also possible to find strategies female defense, survival and resistance to the situation of violence. Being in space DEAM already constitutes a form of coping with violence, because even if some do not wish to see his fellow prisoners, showing behaviors that are not intended to abrupt disruptions, want to stop the cycle of domestic violence. Given the moral, sexual and health damage caused by violence and gender inequalities that it expresses part of a deeply rooted cultural and fed back through practices and discourses , it is believed that the change in this situation will not process so fast, or through palliative measures , it is believed that effective changes occur through strong investment in public policies (re ) education of gender relations from the deconstruction of the hierarchical underpinning these relationships through the implementation of a national education project this does not necessarily sexist in school curricula and in major instances of public socialization and building these relationships . It is necessary to work still more effective (re) education and rehabilitation with families in situations of violence followed by accompaniments continued with professionals.