RELAÇÕES RACIAIS E DISCRIMINAÇÃO NA ESCOLA: uma prática educativa emancipatória em construção?

Abstract

RESUMO: Esta pesquisa discute como temática central a prática educativa emancipatória de 04 (quatro) professoras afrodescendentes, articulada às questões políticas, relações raciais e discriminação na escola. Define como objetivo geral: entender a prática educativa de algumas professoras afrodescendentes em sala de aula e como objetivos específicos: descrever experiências destas professoras em sua vida escolar; caracterizar (as) atividades das mesmas em sala de aula; analisar comparativamente as suas experiências vividas, em sala de aula, como alunas e, posteriormente, como professoras, na perspectiva de desvelar a natureza das relações raciais na prática educativa atual, dispondo a seguinte questão: De que forma as experiências de discriminação destas professoras afrodescendentes (e outras) podem contribuir para a produção de uma prática educativa de ações emancipatórias? Adota como eixos da discussão: prática educativa, discriminação/preconceito, formação profissional e educação emancipatória. Aproveita contribuições de diferentes autoras/es para discutir: prática educativa, Freire (1996, 2014), Libâneo (2000), Zaballa (1998); discriminação/preconceito: Boakari (2003, 2010, 2013), Gomes (2006, 1995, 2010); emancipação: Adorno (1995), Jaehn (2005); formação: Giroux e Mclaren (1997), dentre outras/os. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa do tipo etnográfico. Tem como participantes quatro professoras do ensino fundamental, anos iniciais (1º ao 5º ano), que atuam em uma escola pública municipal da cidade de Caxias-MA. Para o acesso às informações, emprega técnicas da etnografia: observação participante, entrevista não-estruturada e o diário de campo como instrumento de apoio utilizado para a realização dos registros das informações, apoiada em André (2010, 2012), Bogdan e Biklen (1994), Macedo (2000). Para a análise das informações, utiliza as orientações da análise de conteúdo, apoiadas em Bardin (2011). As constatações das análises apontam a existência de uma disposição das professoras para atuarem quanto aos comportamentos de discriminação manifestos em suas ações pontuais e emergenciais, de acordo com o grau de sua ocorrência, e possíveis consequências físicas e emocionais. Entretanto, dentro do processo de ensino e aprendizagem, ainda percebe-se a existência de práticas tradicionais não questionadoras, fruto de um currículo ainda distante das questões subjetivas, voltadas às realidades das diversidades contemporâneas, relacionadas às questões das diferenças, no caso atual, à afrodescendência, que ainda não é problematizada como objeto de conhecimento crítico transformador. Desse modo, o presente estudo, a partir das discussões acerca da formação de professor, de um currículo ajustado para a real existência de um pensar/fazer escolar multicultural e dialógico sobre as vivências e experiências identitárias, permite vislumbrar o desenvolvimento de um processo de ensino-aprendizagem reflexivo, podendo contribuir para a construção de uma prática educativa emancipadora. Considerando as histórias do Brasil, país que ainda é racista e machista, cuja escola não incorporou as diversidades de seu cotidiano, o que dizer sobre uma prática educativa emancipadora? É esta a questão que não se cala.....ABSTRACT: In this research we discuss ascentral subjectthe emancipatory educational practice of four afro-descendant female teachers, articulated to political issues, racial relations and discrimination in school. We define as a general objective: to understand the educational practice of some afro-descendant teachers in classroom and as specific objectives: to describe these teachers‟ experiences in their school life;to characterize their activities in classroom;comparatively analyze their experiences lived in the classroom as students and later as teachers, in the perspective of unveiling the nature of racial relations in the current educational practice, providing the following question: How do the experiences of discrimination of afro-descendant teachers (and possibly others) may contribute to the production of an educational practice of emancipatory actions?We adopt as discussion axes: education practice, discrimination/prejudice, professional formation and emancipatory education. We make use of different authors‟ contributions to discuss: educational practice, Freire (1996, 2014), Libâneo (2000), Zaballa (1998); discrimination/prejudice: Boakari (2003, 2010, 2013), Gomes (2006, 1995, 2010); emancipation: Adorno (1995), Jaehn (2005); formation: Giroux; Mclaren (1997), among others.This is a study of qualitative nature of the ethnographic type as a research aspect. We have as participants, four female elementary school teachers, from the initial years (1st to 5th grade) working in a municipal public school in the city of Caxias, MA.To access the information, weemploy methods and techniques of ethnography:such as participant observation, unstructured interview and the field diary as a support tool to record information, supported in André (2010, 2012), Bogdan; Biklen (1994), Macedo (2000).For information analysis, we use the guidelines of the content analysis, supported by Bardin (2011).Analysis findings indicate the existence of teachers‟ willingness to act on the discriminatory behaviors revealed in their punctual and emergency actions according to the occurrence degree and possible physical and emotional consequences.However, due to the traditional, non-questioning practices of teaching and learning, from an instructional curriculum that focuses on measuring results, which adapted to the realities of contemporary diversities, to questions related to the differences, in this case, to the afro-descendancy, are still not problematized as objects of transforming critical knowledge.However, within the process of teaching and learning, the existence of non-questioning traditional practices is still perceived, as a result of a curriculum that is still far from the subjective questions, focused on the contemporary diversities‟ realities, related to the differences questions, in this case, to the afro-descendancy, which is not problematized as an object of transforming critical knowledge yet. Thus, this study,based on discussions about teacher formation and a curriculum adjusted to the real existence of a multicultural and dialogic school-based thinking/doing about experiences and identities, allows us to glimpse the development of a reflective teaching-learning process, and may contribute to the construction of an emancipatory educational practice.Considering Brazil history, a country that is still racist and sexist, whose school did not incorporate the diversities of its daily life, what one can say about an emancipatory educational practice? This question is not silent.