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O xenoenxerto de células testiculares isoladas trata-se de uma abordagem
estabelecida recentemente e que recapitula o desenvolvimento dos testículos
sob a pele de camundongos imunodeficientes. Esta técnica permite manusear
diferentes tipos de células testiculares, a fim de investigar as suas interações
durante a organização do testículo. Além disso, esta técnica revela-se útil para
a conservação e armazenamento de material genético de diferentes espécies
de mamíferos ameaçados ou de alto valor zootécnico. O cateto (Tayassu
tajacu) apresenta uma citoarquitetura testicular única, no qual as células de
Leydig estão localizadas em torno dos túbulos seminíferos formando lobos.
Esta característica particular poderia representar um indício importante
relacionado com os mecanismos que regulam o desenvolvimento dos testículos
em mamíferos. Desta forma, este trabalho teve o intuito de investigar a
capacidade de interação funcional das células dos testículos de cateto e de
suíno em retomar o desenvolvimento testicular após a dissociação enzimática.
Para isto, foram utilizados testículos de 6 catetos de três meses e 8 suínos de
30 dias de idade. As suspensões celulares obtidas a partir de cada uma das
espécies foram misturadas e sedimentadas formando os seguintes grupos:
células de Leydig de suíno com túbulos seminíferos de catetos; células de
Leydig de cateto com túbulos seminíferos de suíno, e os controles (suspensões
de cateto e de suíno). Os pellets foram enxertados sob a pele de camundongos
CB-17/SCID castrados e avaliados de 10/16 dias até 8 meses após o enxerto.
Assim, foi observado que de maneira geral houve aumento do peso dos tecidos
ao longo do período investigado. Embora aos 5 meses o menor peso registrado
tenha sido verificado no grupo contendo suspensão pura de suíno. O peso da
vesícula seminal demonstrou uma redução inicial com subsequente
recuperação aos dois 2 meses exceto no animal contendo tecidos formados a
partir da suspensão pura de cateto. As análises histológicas revelaram que aos
10 dias nenhuma estrutura testicular típica foi observada, mas com 16 dias
uma rede testicular central e alguns cordões seminíferos já eram reconhecidos.
No período compreendido entre 1 e 4 meses cordões seminíferos
predominaram em todos os grupos investigados. Entretanto aos 5 meses dois
padrões foram facilmente definidos em função da espécie na qual as células de
Leydig se originaram. Assim os grupos contendo células de Leydig de cateto
não apresentaram evolução do processo espermatogênico, permanecendo
estabilizados em cordões seminíferos Sertoli Cell Only (SCO) até os 8 meses.
O segundo padrão observado está relacionado com a presença da célula de
Leydig do suíno, no qual aos 5 meses espermatides alongadas e paquítenos
foram observados respectivamente na quimera Leydig de suíno e suspensão
pura de suíno. Aos 6 e aos 8 meses foram observados túbulos seminíferos
contendo espermatogênese completa nestes mesmos grupos. A citoarquitetura
testicular típica de cateto com células de Leydig formando cordões entre os
lobos testiculares ficou bem definida aos 8 meses no tecido quimera Leydig de
suíno e túbulos seminíferos de cateto. A expressão de marcadores moleculares
tais como: 3betaHSD, receptor de andrógeno, GATA4 e Ki67, nas células
somáticas e germinativas dos tecidos obtidos a partir da suspensão contendo
quimera Leydig de suíno e suspensão pura de suíno revelou a integridade
funcional destes tipos celulares. Tomados juntos, os resultados obtidos no
presente estudo demonstraram a habilidade de interação entre células
testiculares de diferentes espécies de mamíferos resultando na formação de
um testículo funcional, no qual todos os componentes celulares estavam
preservados. Além disso apesar de pertencerem a espécies diferentes a célula
de Leydig de suíno respondeu a modulação provavelmente promovida pelo
componente tubular de cateto, o que resultou na formação do arranjo testicular
típico dessa espécie silvestre. Neste contexto, estudos mais profundos a fim de
determinar os mecanismos de regulação e interações celulares durante o
desenvolvimento testicular pós-natal ainda serão necessários. |
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