Abstract:
RESUMO
Os estudos que envolvem trabalho e diversidade nem sempre incluem pessoas trans*, grupo
frequentemente conduzido à invisibilidade no contexto organizacional e social. Relacionada à
construção de um trabalho dotado de sentidos, a permanência de pessoas trans* no trabalho é
fundamental à redução das desigualdades, compromisso mundial pactuado na Agenda 2030.
Reconhecendo-se que as experiências vivenciadas pelas pessoas trans* no trabalho costumam
ser obstaculizadas pela discriminação e pela redução de aspirações profissionais, perduram
indagações a respeito dos sentidos do trabalho para este grupo, ainda não contempladas nas
pesquisas sobre o tema. Em atendimento ao chamado de pesquisadores por uma agenda de
pesquisa mais crítica, capaz de reconhecer a influência de gênero e outros marcadores na
construção de sentidos do trabalho, este estudo teve por objetivo compreender o processo de
produção de sentidos do trabalho para pessoas trans*. Para isto, considerou-se que os sentidos
do trabalho não são uma prática concreta, delimitada ou estável. São o resultado de um
processo, efetuado em territorialização e desterritorialização, que se constrói a partir de três
dimensões centrais e, por vezes, contraditórias: humanização, exploração e alienação dos
trabalhadores. Este estudo utilizou uma abordagem qualitativa, tendo a cartografia como
inspiração e alinhamento metodológicos para a produção de dados, que foram analisados sob
as diretrizes da análise cartográfica do discurso. Uma vez que o objeto cartográfico desta
pesquisa não foi a representação formal dos sentidos do trabalho, mas o seu processo de
produção, o percurso foi inspirado em rizomas e multiplicidades, em um movimento de devir.
Para composição do corpus, foram entrevistados trabalhadores de serviços públicos no Brasil,
de quaisquer cargos, vínculos e/ou funções, que se auto identificaram como pessoas trans*. O
recrutamento se fez por meio de contato com secretarias estaduais e de capitais do Brasil, além
da técnica Snowball Sampling. Através da linha analítica da cartografia, buscou-se perceber as
formas, os agenciamentos, as relações e os movimentos que territorializam e desterritorializam
os sentidos do trabalho para pessoas trans*. Os resultados incluíram a identificação do contexto
que envolve o trabalho das pessoas trans* em organizações públicas; a compreensão do
processo de produção de sentidos do trabalho para este grupo, considerando as dimensões de
humanização, alienação e exploração do trabalho; e a apreensão dos movimentos que efetivam
a territorialização e desterritorialização de sentidos do trabalho para pessoas trans*. A análise
cartográfica do discurso permitiu, ainda, desvelar outros movimentos que territorializam
sentidos do trabalho para pessoas trans*, além de revelar mais uma dimensão de sentidos do
trabalho, o que se constitui em contribuição teórica capaz de apoiar a reorientação das teorias e
práticas em Administração, fortalecendo o conhecimento científico acerca dos sentidos do
trabalho e as pesquisas em Administração voltadas para pessoas trans*. Ainda mais, este estudo
discutiu aspectos que poderão pavimentar a formulação de políticas públicas e a elaboração de
estratégias gerenciais em prol de um trabalho mais significativo para este grupo, facilitando sua
permanência no trabalho e contribuindo para a justiça e igualdade social por meio do
reconhecimento das diferenças nas organizações e na sociedade. ABSTRACT
Studies involving work and diversity don't always include trans* people, a group often made
invisible in the organizational and social context. Related to the construction of meaningful
work, the permanence of trans* people at work is fundamental to reducing inequalities, a global
commitment agreed in the 2030 Agenda. Recognizing that trans* people's experiences at work
are often hindered by discrimination and the reduction of professional aspirations, questions
remain about the meaning of work for this group, which have not yet been addressed in research
on the subject. In response to the call from researchers for a more critical research agenda,
capable of recognizing the influence of gender and other markers on the construction of
meaning at work, this study aimed to understand the process of producing meaning at work for
trans* people. To this end, it was considered that the meaning of work is not a concrete,
delimited or stable practice. It is the result of a process, carried out in territorialization and
deterritorialization, which is built on three central and sometimes contradictory dimensions:
humanization, exploitation and alienation of workers. This study used a qualitative approach,
with cartography as the inspiration and methodological alignment for the production of data,
which was analyzed under the guidelines of cartographic discourse analysis. Since the
cartographic object of this research was not the formal representation of the meaning of work,
but its production process, the path was inspired by rhizomes and multiplicities, in a movement
of becoming. In order to compose the corpus, public service workers in Brazil were interviewed,
from any position, job title and/or function, who self-identified as trans* people. They were
recruited by contacting state and capital secretariats in Brazil, as well as using the Snowball
Sampling technique. Through the analytical line of cartography, we sought to understand the
forms, agencies, relationships and movements that territorialize and deterritorialize the
meanings of work for trans* people. The results included identifying the context surrounding
the work of trans* people in public organizations; understanding the process of producing the
meaning of work for this group, considering the dimensions of humanization, alienation and
exploitation of work; and understanding the movements that effect the territorialization and
deterritorialization of the meaning of work for trans* people. The cartographic analysis of the
discourse also made it possible to uncover other movements that territorialize the meanings of
work for trans* people, as well as revealing another dimension of the meanings of work, which
constitutes a theoretical contribution capable of supporting the reorientation of theories and
practices in Administration, strengthening scientific knowledge about the meanings of work
and research in Administration aimed at trans* people. What's more, this study has discussed
aspects that could pave the way for the formulation of public policies and the development of
management strategies in favour of more meaningful work for this group, making it easier for
them to remain at work and contributing to social justice and equality through the recognition
of differences in organizations and society.