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RESUMO Introdução: Estudos indicam que o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados (AUP) podem ser consequência de sintomas de depressão e ansiedade ou mesmo ser fator desencadeador destes Transtornos Mentais Comuns (TMC), por estarem associados a processos inflamatórios, formação de radicais livres e desequilíbrio dos neurotramissores. Embora os TMC sejam comuns atualmente, nota-se ainda lacunas sobre a temática, pois há poucos estudos que avaliaram a associação do consumo alimentar classificados quanto ao grau de processamento (alimentos ultraprocessados) e os transtornos mentais na população adulta e idosa no Brasil. Objetivo: Avaliar a associação entre o consumo de AUP e TMC em adultos e idosos de uma capital do nordeste brasileiro. Métodos: Estudo transversal, de base domiciliar, com adultos (20-59 anos) e idosos (> 60 anos), residentes na área urbana de Teresina, Piauí. Foram coletados dados socioeconômicos e demográficos, de estilo de vida (consumo de álcool, prática de atividade física e tabagismo), presença de TMC, consumo alimentar e medidas antropométricas (peso e altura). O consumo alimentar foi obtido por meio do recordatório alimentar de 24 horas. Os AUP foram agrupados segundo a classificação NOVA, avaliando-se a contribuição calórica destes em relação ao valor energético total da dieta (VET) (%kcal). Para o rastreamento de TMC utilizou-se o Self-Report Questionnaire-20. As análises estatísticas foram realizadas no programa Stata versão 13.0. A associação entre o consumo de AUP (em tercis) e os TMC foi avaliada por meio da análise de regressão logística binária. O estudo foi submetido e aprovado pelo comitê de ética da Universidade Federal do Piauí (parecer nº 2.552.426). Resultados: A prevalência de TMC foi de 28,5%, sendo associado ao sexo feminino (p<0,01), ao ensino fundamental (p= 0,01) e obesos (p=0,006). Dos 495 participantes, a maioria era adulta (73,5%), do sexo feminino (66,9%), de cor de pele parda (62,4%), tinham companheiro (58,7%) e estudou até o ensino médio (41,0%). Em relação aos hábitos de vida, a maioria não consumia bebidas alcóolicas (59,9%), não fumava (77,8%) e eram fisicamente ativos (80,3%). Quanto ao estado nutricional, a maioria tinham excesso de peso (57,1%). A média do consumo de AUP foi maior em adultos na amostra total e na presença de TMC (20,8% e 23,6% do VET), em indivíduos que não fumavam e sem TMC (20,6% e 20,0% do VET) e com ensino superior e sem TMC (24,8% e 24,3% do VET) (p<0,05). Na amostra total no terceiro tercil de consumo de AUP apresentaram maior odds de TMC em relação ao primeiro tercil (OR: 1,58; IC: 0,95-2,65; p=0,03). Em adultos e idosos não foi observado associações estatisticamente significativas. Conclusão: O estudo mostrou que houve associação entre o consumo de AUP e TMC, onde o maior risco de TMC foi associado ao maior consumo de AUP. A média de contribuição calórica do consumo de AUP em adultos foi maior que em idosos quase um terço da população adulta e idosa de Teresina apresentavam TMC. Tais resultados reforçam a importância de ações de educação alimentar e nutricional voltadas para a redução do consumo de AUP, visando a prevenção de TMC.
ABSTRACT Introduction: Studies indicate that excessive consumption of ultra-processed foods (UPF) may be a consequence of symptoms of depression and anxiety or even be a triggering factor of these Common Mental Disorders (CMD), as they are associated with inflammatory processes, formation of free radicals and imbalance of neurotransmitters. Although CMD are currently common, there are still gaps on the subject, as there are few studies that have evaluated the association of food consumption classified according to the degree of processing (ultra- processed foods) and mental disorders in the adult and elderly population in Brazil. Objective: To evaluate the association between UPF consumption and CMD in adults and elderly people in a capital city in northeastern Brazil. Methods: A cross-sectional, home-based study with adults (20-59 years old) and elderly people (> 60 years old) residing in the urban area of Teresina, Piauí. Socioeconomic and demographic data, lifestyle data (alcohol consumption, physical activity and smoking), presence of CMD, food consumption and anthropometric measurements (weight and height) were collected. Food consumption was obtained through the 24-hour food recall. The AUP were grouped according to the NOVA classification, evaluating their caloric contribution in relation to the total energy value of the diet (TEV) (%kcal). For CMD tracking, the Self-Report Questionnaire-20 was used. Statistical analyzes were performed using Stata version 13.0. The association between UPF consumption (in tertiles) and CMD was assessed using binary logistic regression analysis. The study was submitted and approved by the ethics committee of the Federal University of Piauí (opinion No. 2,552,426). Results: The prevalence of CMD was 28.5%, being associated with female sex (p<0.01), elementary school (p=0.01) and obese (p=0.006). Of the 495 participants, most were adults (73.5%), female (66.9%), brown (62.4%), had a partner (58.7%) and studied until high school. average (41.0%). Regarding life habits, most did not consume alcoholic beverages (59.9%), did not smoke (77.8%) and were physically active (80.3%). Regarding nutritional status, most were overweight (57.1%). Mean UPF consumption was higher in adults in the total sample and in the presence of CMD (20.8% and 23.6% of TEV), in individuals who did not smoke and without CMD (20.6% and 20.0% of TEV) and with higher education and without TMC (24.8% and 24.3% of TEV) (p<0.05). In the total sample, the third tertile of UPF consumption had higher odds of CMD in relation to the first tertile (OR: 1.58; CI: 0.95-2.65; p=0.03). In adults and elderly, no statistically significant associations were observed. Conclusion: The study showed that there was an association between UPF consumption and CMD, where the higher risk of CMD was associated with higher UPF consumption. The average caloric contribution of UPF consumption in adults was higher than in the elderly, almost a third of the adult and elderly population in Teresina had CMD. These results reinforce the importance of food and nutrition education actions aimed at reducing UPF consumption, with a view to preventing CMD.