Abstract:
RESUMO: A presença indígena no Piauí foi invisibilizada por um longo período pelos meios de produção de conhecimento local, onde sedá grande peso à produção históriográfica.O estado foi um dos últimos do Brasil a reconhecer e admitir a existência de uma história indígena e a considerar o ressurgimento de uma cultura autóctone. A resistência a este reconhecimento se baseia na ideia de extermínio total desses grupos, replicada nos registros oficiais. Os grupos que tem reivindicado recentemente o reconhecimento enquanto grupos indígenas passam por diferentes tipos de desconfiança, pelos diferentes setores da sociedade piauiense, que suspeitam, na maioria dos casos, de uma "repentina" autodeclaração, baseada em critérios que consideram "fictícios"visto não apresentarem, os indivíduos e grupos reivindicantes, uma distintividade cultural e fenotípica que os caracterizem como indígenas, baseadas numa representação da idealização do protótipo xinguano. No município de Queimada Nova no sudeste do Piauí, um grupo indígena vinculado a etnia Kariri, demanda reconhecimento pelos órgãos competentes. A localização geográfica em que esse grupo se encontra denuncia tal vinculação - em uma região fronteiriça entre os estados do Piauí, Pernambuco e da Bahia, área de ocorrência desse grupo. No mesmo local há também outros grupos étnicos como; grupos quilombolas que detêm um amplo reconhecimento nos movimento sociais por sua organização política.Também encontramos, nesta região de fronteiras, um grande fluxo de ciganos e grupos de brancos que se casam entre si e são denominados de "coelhos". Este trabalho tem como objetivo investigar as condições locais que favoreceram esta ocorrência de "etnogênese", analisando o papel das relações intersocietárias (com grupos quilombolas) na formação de uma identidade étnica, considerando a peculiaridade do espaço geográfico onde estas se desenrolam e os limites físicos e simbólicos (fronteiras físicas e étnicas) no qual estão inseridos. ABSTRACT: The indigenous presence in Piauí was made invisible for a long period of time by the local means of production of knowledge, where it is given much weight to historiographic production. The state was one of the last in Brazil to recognize and admit the existence of an indigenous story and consider the resurgence of an autochthonous culture. The resistance to this recognition is based on the idea of total extermination of these groups, replicated in the official records. The groups that have been recently claiming the recognition as indigenous groups go through different kinds of distrust by the many sectors of Piauí‘s society, that suspect, in the majority of the cases, of a ―sudden‖ self-declaration, based on criteria they regard ―fictitious‖, since they, both individuals and claiming groups, a distinct cultural and phenotypical that characterize them as indigenous, based on a representation of the idealization of the Xinguan prototype. In the municipality of Queimada Nova in Piauí‘s southeast, an indigenous group linked to the Kariri ethnicity, demands recognition by the competent institutions. The geographic location in which this group is situated denounces such link – in a border region between the states of Piauí, Pernambuco and Bahia, area of occurrence of this group. In the same place there are other ethnic groups such as quilombolas, which detain an ample recognition in the social movements because of their political organization. We also find in this border region a great flux of gypsies and groups of white people that intermarry and are called ―rabbits‖. This work has the goal of investigating the local conditions that favored this occurrence of ―ethnogenesis‖ analyzing the role of intersocietary relationships (with quilombola groups) in the formation of a ethnic identity, considering the peculiarity of geographic space where these identities unfold and the physical and symbolic limits (physical and ethnic borders) in which they are inserted.