Abstract:
RESUMO:
Introdução: O período neonatal estende-se do nascimento ao 28º dia de vida e concentra a maior parte dos óbitos infantis, sofrendo influência da qualidade e do acesso aos serviços de saúde que prestam assistência à gestação, ao parto e ao recém-nascido. A determinação da mortalidade neonatal pode ser entendida como uma complexa interação entre fatores sociodemográficos, assistenciais e biológicos. Identificar os fatores de risco e determinantes é uma ferramenta importante para direcionar políticas e intervenções mais efetivas, avaliando seu sucesso em
diferentes esferas decisórias. Objetivo: Este estudo teve por objetivo verificar os
fatores associados à mortalidade neonatal no Piauí entre os anos de 2010 e 2019.
Metodologia: Trata-se de um estudo transversal retrospectivo com dados
secundários sociodemográficos maternos, gestacionais/assistenciais e neonatais
provenientes do SIM (Sistema de Informação de Mortalidade) e do SINASC (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos) consolidados no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). A amostra foi composta de
5471 óbitos neonatais. Os dados foram organizados em planilhas no software
Microsoft Excel® para avaliação descritiva e para análise bivariada foi utilizado o
teste qui-quadrado de Pearson, complementado pelo V de Cramer, com nível de significância de 5%. A análise estatística foi conduzida através do software IBM® SPSS® 24.0. Resultados: A mortalidade infantil vitimou no Piauí, entre 2010 e 2019, 7668 crianças entre 0 e 1 ano de vida. Destas, 27,8% perderam a vida nas
primeiras 24 horas após o nascimento, 27,3% entre 24h e 6 dias de vida, 16,2% entre 7 e 27 dias de vida. Mais de 71% dos óbitos infantis aconteceram antes
mesmo das crianças alcançarem 1 mês de vida. No decênio estudado, a mortalidade neonatal caracterizou-se por ser, na maioria dos óbitos, de causa evitável, tendo
ocorrido no ambiente hospitalar; neonatos eram do sexo masculino, da cor/raça preta/parda/indígena, com peso ao nascer ≥ 2500g, nascido de parto vaginal, de gravidez única de 37 a 41 semanas gestacionais e com mães entre 20 e 29 anos, com 8 a 11 anos de escolaridade. As variáveis significativamente associadas ao óbito neonatal foram: duração da gestação (!2 = 76.28, gl = 4, " < 0.0001, V =
0,1319) com força moderada e, com força fraca, tipo de parto (!2 = 22.09, gl = 1, " <
0.0001, V = 0,0658), peso ao nascer (!2 = 23.02, gl = 2, " < 0.0001, V = 0,0798) e local de ocorrência (!2 = 17.96, gl = 4, " = 0.0013, V = 0,0573). Conclusão: Os
fatores mais associados ao óbito neonatal precoce foram gestação com duração de 22 a 27 semanas, parto vaginal e sexo masculino. E para o óbito neonatal tardio comportaram-se como fatores de maior associação a gestação com a duração de 28 a 31 semanas, parto cesário, sexo feminino, muito baixo peso e óbito em domicílio.
Houve redução da mortalidade neonatal no Piauí no período estudado, mas com
taxas ainda elevadas que sugerem a necessidade de transformações urgentes no acesso aos serviços de saúde e na qualidade das ações ofertadas.
ABSTRACT
Introduction: The neonatal period spreads from birth up to 28th day of life, concentrates the biggest part of infant deaths and is influenced by quality of care and
access to health services which offers assistance for pregnant women and neonates.
The neonatal mortality determination is a complex interaction between sociodemographic factors, care factors and biological factors. Identifying the epidemiologic factors and determinants is a key tool to drive policies and more efficient strategies, evaluating the global, national, regional and local effectivity. Objective: To verify the associated factors with neonatal mortality in the state of Piauí from 2010 to 2019. Method: It is an observational analytical retrospective sectional study with quantitative secondary data on sociodemographic maternal, gestational/care and neonatal factors originated from the Mortality Information System (SIM) and the Information System on Live Births (SINASC) collected from
Brazilian Department of Informatics of the Unified Health System (DATASUS). The
sample consisted of 5471 neonatal deaths. Analyses were performed using Microsoft Excel and IBM® SPSS 24.0 software to calculate the Pearson’s chi-square test and
Cramer’s V. All statistical tests were conducted at the 5% level of significance.
Results: From 2010 to 2019 7668 children under one year of age died in Piauí.
27,8% died in the first 24 hours after birth, 27,3% died from 24 hours to 6 days
postpartum, 16,2% died from 7 to 27 days postpartum. More than 71% of infant deaths occurred before children even reach one month of age. From 2010 to 2019 neonatal mortality were in most cases preventable and nosocomial, and more prevalent in black/brown/Indian male neonates with birth weight ≥ 2500g, born vaginal delivery of single pregnancy with 37 up to 41 weeks and with maternal age from 20 up to 29 and maternal education from 8 up to 11 years of study. The variables significantly associated with neonatal death were gestational age (!2 =
76.28, gl = 4, " < 0.0001, V = 0,1319) reaching moderate association and, reaching weak association, mode of delivery (!2 = 22.09, gl = 1, " < 0.0001, V = 0,0658), birth weight (!2 = 23.02, gl = 2, " < 0.0001, V = 0,0798) and place of death (!2 = 17.96, gl = 4, " = 0.0013, V = 0,0573). Conclusion: The significantly associated factors with
early neonatal death were pregnancy with age from 22 to 27 weeks, vaginal delivery
and male sex. And the significantly associated factors with late neonatal death were
pregnancy with age from 28 to 31 weeks, cesarean section, female sex, very low birth weight and death at home. A decrease was observed in neonatal mortality in Piauí in the studied period, however rates have maintained elevated. That suggests
the requirement of urgent changes in health care access and quality of services.