Abstract:
RESUMO: No Brasil, é notório que o crime de racismo atravessa todas as instituições sociais, e afeta, psicologicamente, boa parte da sociedade. Diante dessa conjuntura, o psicólogo como profissional responsável pelos cuidados das desordens mentais assume papel importante, seja na perspectiva da prevenção de problemas, e/ou na promoção de saúde mental da população. Entretanto, estaria a/o psicóloga/o sendo “formada/o” para lidar com o racismo? Na tentativa de responder essa questão, voltou-se para os documentos que orientam a formação desse profissional. Assim, esse estudo tem como objetivo analisar o tratamento dado à temática racial nos cursos de psicologia em instituições de ensino superior no estado do Piauí. Para viabilizar essa investigação, utilizou-se a abordagem qualitativa do tipo exploratório-descritivo, empregando a análise de conteúdo dos elementos descritos nos ementários de alguns componentes curriculares e seus respectivos referenciais bibliográficos, conforme as ideias de Moraes (2003), Seixas, Coelho, Silva, Yamamoto (2013) e Gil (1999). As fontes das informações foram, também, os Projetos Político-Pedagógicos dos Cursos (PPPC) de psicologia em 3 (três) Instituições de Ensino Superior (IES) do estado do Piauí. Para enviesar as discussões dialogou-se com autores que abordam os percursos históricos da psicologia como Schucman e Martins (2017), Masiero (2005), Mata e Santos (2015), e Espinha (2017). Também foram desenvolvidas discussões no que tange às consequências psicológicas das relações raciais girando em torno das concepções de Fanon (2008), Nobles (2006), (2009), Akbar (2004) e Nascimento (2016). Silva (2016) e Dantas (2010) foram fontes de apoio para discutir o currículo e a formação da/o psicóloga/o. Os resultados discutidos demonstraram que os documentos que norteiam o funcionamento desses cursos não apresentam uma proposta explícita de discutir a questão racial no processo formativo desta/e profissional, mesmo que o racismo seja um crime, e o lócus dessa formação e provável atuação profissional estejam em um estado em que mais de 75% da população é composta por afrodescendentes (IBGE, 2010/2014; COELHO; BOAKARI, 2013), maiores vítimas deste crime secular.
ABSTRACT: In Brazil, it is notorious that the crime of racism crosses all social institutions, and affects, psychologically, much of society. In view of this situation, the psychologist as a professional responsible for the care of mental disorders assumes an important role, either from the perspective of problem prevention, and/or in the promotion of mental health of the population. However, is the psychologist being "trained" to deal with racism? In an attempt to answer this question, we return to the documents that guide the training of this professional. Thus, this study aims to analyze the treatment given to the racial theme in psychology courses in higher education institutions in the state of Piauí. To enable this investigation, we used the qualitative approach of the exploratory-descriptive type, using the content analysis of the elements described in the menus of some curricular components and their respective bibliographic references, according to the ideas of Moraes (2003), Seixas, Coelho, Silva, Yamamoto (2013) and Gil (1999). The sources of the information were also the Political-Pedagogical Projects of psychology courses (PPPC) in 3 (three) Higher Education Institutions (HEIs) in the state of Piauí. To skew the discussions, he was in dialogue with authors who approach the historical paths of psychology such as Schucman and Martins (2017), Masiero (2005), Mata and Santos (2015), and Espinha (2017). Discussions were also developed regarding the psychological consequences of race relations, revolving around the conceptions of Fanon (2008), Nobles (2006), (2009), Akbar (2004) and Nascimento (2016). Silva (2016) and Dantas (2010) were sources of support to discuss the curriculum and training of the psychologist. The results discussed showed that the documents that guide the functioning of these courses do not present an explicit proposal to discuss the racial issue in the formative process of this/and professional, even if racism is a crime, and the locus of this training and probable professional performance are in a state in which more than 75% of the population is composed of Afrodescendants (IBGE, 2010/2014; COELHO; BOAKARI, 2013), the biggest victims of this secular crime.