Abstract:
RESUMO:A leishemaniose visceral (LV) é uma zoonose parasitária causada pela espécie Leishmania
infantum nas Américas. O cão doméstico é considerado o principal reservatório e, no ambiente
urbano, a LV em gatos vem ganhando destaque. Entretanto, a participação destes animais no
ciclo biológico da L. infantum era desconhecida. Portanto, o objetivo geral deste estudo foi
avaliar a participação do gato doméstico (Felis catus) no ciclo epidemiológico da LV. Foram
examinados 307 gatos, os quais foram submetidos à anamnese para verificar a ocorrência de
sinais clínicos relacionados à leishmaniose, coleta de sangue para exame hematológico,
quantificações bioquímicas, sorologia para retrovírus e sorologia para leishmaniose, aspirado de
linfonodo poplíteo e medula óssea e raspado de pele com lesão para confirmar a infecção pelo
método de pesquisa direta de Leishmania. As Leishmania isoladas dos gatos foram submetidas a
estudos moleculares (PCR-RFLP e sequenciamento) para identificação das espécies, 12 dos
animais infectados foram submetidos a xenodiagnóstico para verificar a capacidade de infectar o
vetor e cinco foram necropsiados para estudo histopatológico de baço, fígado e rim. Um dos
gatos com LV e um cão saudável foram utilizados para testar a possibilidade de transmissão da
doença do gato para o cão. Os resultados deste estudo revelaram que os gatos se infectam por L.
infantum e foi observada uma prevalência de 6,5% no exame parasitológico, 12,1% no ELISA e
9,1% no TR DPP®. Os gatos infectados estavam presentes em todas as zonas demográficas da
cidade. As principais alterações clínicas e laboratoriais observadas nos animais com LV foram:
linfadenopatia, alopecia, emagrecimento, lesão ulcerativa na pele, nódulos na pele, redução
significativa nos valores de hemácias e hematócrito, presença de Leishmania em baço, hepatite,
degeneração hepática e infiltrados inflamatórios em rim. Os 20 gatos positivos para LV estavam
infectados pela espécie L. infantum e o sequenciamento apontou não haver diferença entre os
parasitos isolados de gatos com os de cães publicados no GenBank. 67% dos animais submetidos
ao xenodiagnóstico infectaram o vetor e a transmissão da LV do gato para o cão foi confirmada.
Conclui-se que a LV em gatos de Teresina-PI apresenta elevada prevalência e foi demostrado
que gatos infectados por L. infantum são capazes de infectar o vetor biológico Lutzomyia
longipalpis e transmitir a infecção para outro indivíduo não infectado, confirmando a
participação ativa destes animais no ciclo epidemiológico da LV.
ABSTRACT:Visceral leishmaniasis (LV) is a parasitic zoonosis caused by the Leishmania infantum species in
the Americas. The domestic dog is considered the main reservoir and, in the urban environment,
LV in cats has been gaining prominence. However, the participation of these animals in the
biological cycle of L. infantum was unknown. Therefore, the general objective of this study was
to evaluate the participation of the domestic cat (Felis catus) in the epidemiological cycle of VL.
A total of 307 cats were examined, which were submitted to anamnesis to verify the occurrence
of clinical signs related to leishmaniasis, blood collection for hematological examination,
biochemical quantifications, serology for retroviruses and serology for leishmaniasis, aspiration
of popliteal lymph node and bone marrow and scaling of skin scraping with lesion to confirm the
infection by the direct search method of Leishmania. The isolated Leishmania of the cats were
submitted to molecular studies (PCR-RFLP e sequencing) to identify the species, 12 of the
infected animals were submitted to xenodiagnosis to verify the infection of the vector and five
were necropsied for histopathological study of spleen, liver and kidney. One of the cats with LV
and a healthy dog were used to test the possibility of transmission of cat disease to the dog. The
results of this study show that the cats are infected by L. infantum and a prevalence of 6.5% was
observed in parasitological examination, 12,1% in ELISA and 9.1% in TR DPP®. Infected cats
were present in all demographic areas of the city. The main clinical and laboratory abnormalities
observed in animals with VL were: lymphadenopathy, alopecia, weight loss, ulcerative lesions
on the skin, nodules on the skin, significant reduction in red blood cell and hematocrit values,
presence of Leishmania in spleen, hepatitis, liver degeneration and inflammatory infiltrates in
kidney. The 20 LV-positive cats were infected by the L. infantum species and the sequencing
showed no difference between the parasites isolated from cats and those from dogs published in
GenBank. 67% of the animals submitted to xenodiagnosis infected the vector and the LV
transmission from the cat to the dog was confirmed. It is concluded that LV in Teresina-PI cats
presents high prevalence and it has been demonstrated that cats infected by L. infantum are able
to infect the biological vector Lutzomyia longipalpis and transmit the infection to another
uninfected individual, confirming the active participation of these animals in the epidemiological
cycle of LV.