UM GINÁSIO PARA MOCIDADE PICOENSE: CULTURA ESCOLAR DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SECUNDÁRIO (1950-1971)

Abstract

RESUMO Este estudo tem como objeto a cultura escolar do Ginásio Estadual Picoense (GEP), uma escola pública de ensino secundário ginasial, localizada na cidade de Picos, região centro-sul do Estado do Piauí. Analisamos o processo de criação e consolidação desta instituição, gestada entre 1947 e 1950. O recorte temporal foi realizado considerando que a escola foi criada pela lei estadual nº 90, de 20, de janeiro de 1948, e iniciou suas atividades em 1950, sendo a única instituição pública de ensino secundário da cidade até 1971, quando a lei 5.692/71 extinguiu o exame de admissão e transformou todas as escolas públicas do Piauí, fosse Grupos Escolares, Escolas Reunidas, Ginásios ou Colégios em Unidades Escolares. Para a realização desta investigação, foram utilizados referenciais teóricos e metodológicos pautados na Nova História Cultural, tomando como base as categorias conceituais propostas por Escolano Benito (2017), Frago (2005, 2007), Gallego (2008), Graça (2002), Júlia (2001), Lopes (2011, 2017, 2019), Magalhães (1999, 2004, 2008, 2018), Sousa (2005), Souza (2000), Souza (2007), Valente (2001) entre outros. Para a realização do estudo, utilizamos como fontes: documentos oficiais, legislação educacional, escriturário escolar, fontes hemerográficas, fontes imagéticas, autobiografias, livros de história das cidades, objetos da escola, dados estatísticos, entrevistas e questionários. Metodologicamente, realizamos uma pesquisa do tipo qualitativa e historiográfica. Como resultado final do estudo, foi possível identificar que a criação do GEP esteve ligada à ação das elites locais por meio de disputas políticas e de acordos que possibilitaram a concepção de uma instituição de ensino secundário em Picos. Esse contexto de disputas entre as forças políticas do município foi caracterizado pela ação da União Democráticos Nacional (UDN), grupo político denominado pelos adversários de “caretas”, e pelo Partido Social Democrático (PSD), chamados de “macacos”. Essa disputa travou-se principalmente pelo fato de que a criação de um estabelecimento de ensino secundário em Picos era considerada uma ação que gerava grande prestigio social e político. Entre 1950 e 1971, a escola possuiu quatro sedes: a primeira no edifício destinado ao Grupo Escolar Coelho Rodrigues (1950-1954). Neste prédio, eram ministradas pela manhã as aulas do Grupo Escolar, destinadas ao curso primário, e à tarde funcionavam as turmas do GEP, inicialmente com duas turmas: uma masculina e uma feminina. A segunda sede (1954-1959) constituía-se por um conjunto de casas alugadas e adaptadas para que a escola funcionasse. Em 1960, o GEP recebeu sua primeira sede própria e, em 1970, foi inaugurado o prédio que a escola ocupa até os dias atuais. A cultura material do GEP, composta pelo edifício escolar e pelos objetos da escola foram elementos que nos ajudaram a pensar a cultura escolar da instituição. Nas quatro vezes que o GEP mudou de prédio, juntamente com essa mudança, houve alteração significativa na forma como a escola se apresentava para sociedade, sobretudo em seu funcionamento interno e em seus elementos materiais, especialmente o uniforme e a mobília. Além disso, concluímos que o edifício é um lugar, um espaço ocupado pela ação e apropriação dos sujeitos que nele interagem. Dessa forma, estudamos o edifício escolar e outros elementos da materialidade dessa escola, como o uniforme, a caderneta, os livros didáticos e os artefatos materiais, que nos deram indicativos da organização do GEP. A materialidade nos mostrou, ainda, discursos pedagógicos, valores e símbolos que ajudaram-nos a compreender a instituição. Entre os elementos organizacionais, destacamos neste trabalho: o ingresso dos alunos por meio do exame de admissão e o caráter seletivo do certame. Havia ainda a cobrança de anuidades pela Prefeitura 7 Municipal de Picos, pois, embora o GEP tivesse sido criado pelo governo estadual, constatamos que, até 1963, a escola foi mantida pelo município, mesmo tendo sido oficializada pelo Estado em 1961. Analisamos, ademais, os critérios que eram utilizados pelo poder público para de composição de funcionários dessa instituição, bem como observamos que a organização desse quadro se alterou na medida em que o alunado crescia. A cultura escolar do GEP trouxe a Picos práticas sociais até então desconhecidas pela maior parte da população, como o associativismo estudantil, a imprensa escolar e os bailes de formatura, além de ter reforçado as demais festas escolares e os desfiles cívicos de 7 de setembro, que já eram praticados pelas escolas primárias, notadamente, pelo Grupo Escolar Coelho Rodrigues e pela Escola Municipal Landri Sales, colocando em destaque os uniformes e as performances dos estudantes secundaristas. Além disso, percebemos que ser ginasiano em Picos entre as décadas de 1950 e 1970 era sinal de grande prestigio, visto que a escola era a única instituição de ensino secundário pública do município e, como consequência disso, por muitos anos, foi frequentada por sujeitos de diferentes grupos sociais.ABSTRACT This study has as its object the school culture of the Picoense State Gymnasium (GEP), a public high school, located in the city of Picos, central-south region of the state of Piauí. We analyzed the process of creation and consolidation of this institution, managed between 1947 and 1950. The time frame was taken considering that the school was created by state law No. 90, of January 20, 1948, and began its activities in 1950, being the only public high school in the city until 1971, when Law 5.692 / 71 extinguished the entrance exam and transformed all public schools in Piaui, whether School Groups, Gathered Schools, Gyms or Colleges in School Units. For this research, we used theoretical and methodological references based on the New Cultural History, based on the conceptual categories proposed by Escolano Benito (2017), Frago (2005, 2007), Gallego (2008), Grace (2002), Julia (2001), Lopes (2011, 2017, 2019), Magalhães (1999, 2004, 2008, 2018), Sousa (2005), Souza (2000), Souza (2007), Valente (2001) and others. For the study, we used as sources: official documents, educational legislation, school clerks, hemerographic sources, imagery sources, autobiographies, city history books, school objects, statistical data, interviews and questionnaires. Methodologically, we conducted a qualitative and historiographic research. As a final result of the study, it was possible to identify that the creation of the GEP was linked to the action of local elites through political disputes and agreements that enabled the design of a secondary education institution in Picos. This context of disputes between the political forces of the municipality was characterized by the action of the National Democratic Union (UDN), a political group called opponents "grimaces", and the Social Democratic Party (PSD), called "monkeys". This dispute was mainly due to the fact that the creation of a secondary school in Picos was considered an action that generated great social and political prestige. Between 1950 and 1971, the school had four headquarters: the first one in the building for the Coelho Rodrigues School Group (1950-1954). In this building, the Group Group's classes were taught in the morning, intended for the primary school, and in the afternoon, the GEP classes worked, initially with two classes: one male and one female. The second headquarters (1954-1959) consisted of a set of rented houses adapted for the school to function. In 1960, the GEP received its first headquarters, and in 1970 the building that the school occupies until today. The material culture of the GEP, composed by the school building and the school objects, were elements that helped us to think about the school culture of the institution. In the four times that the GEP changed buildings, along with this change, there was a significant change in the way the school presented itself to society, especially in its inner workings and in its material elements, especially the uniform and the furniture. In addition, we conclude that the building is a place, a space occupied by the action and appropriation of the interacting subjects. Thus, we study the school building and other elements of the materiality of this school, such as the uniform, the book, textbooks and material artifacts, which gave us indicative of the organization of the GEP. Materiality also showed us pedagogical discourses, values and symbols that helped us understand the institution. Among the organizational elements, we highlight in this work: the entrance of the students through the entrance exam and the selective character of the competition. There was also the collection of annuities by the City Hall of Picos, because, although the GEP had been created by the state government, we found that, until 1963, the school was maintained by the municipality, even though it was officialized by the state in 1961. . In addition, we analyzed the criteria that were used by the 9 public power for the composition of employees of this institution, and observed that the organization of this situation changed as the students grew. GEP's school culture brought to Picos social practices hitherto unknown to most of the population, such as student associations, the school press and proms, in addition to reinforcing the other school parties and civic parades of September 7, which were already practiced by primary schools, notably the Coelho Rodrigues School Group and the Landri Sales Municipal School, highlighting the uniforms and performances of high school students. In addition, we realized that being a junior high school student in Picos between the 1950s and 1970s was a sign of great prestige, since the school was the only public secondary school in the municipality and, as a result, for many years was attended by subjects. from different social groups.