Abstract:
RESUMO: A doença inflamatória intestinal (DII) compreende um espectro de doenças que se caracterizam por uma inflamação crônica do trato gastrointestinal (TGI) sem uma causa ou patógeno específico. A gabapentina (GBP) é um fármaco anticonvulsivante, mas estudos prévios mostram que ela é eficiente em reduzir danos inflamatórios gástricos e diminuir o processo inflamatório agudo. Durante as colites há aumento de substâncias que atuam na via dos endocanabinóides, que são importantes para a proteção do cólon durante o desenvolvimento do processo inflamatório intestinal. Assim, este trabalho objetiva analisar o efeito anti-inflamatório da GBP na colite induzida por ácido acético (AA) em camundongos e observar se este mecanismo de ação se dá pela via farmacológica dos endocanabinóides. Foram usados camundongos swiss machos (25–30 g), divididos em grupos de 6 animais. A indução da colite foi realizada utilizando AA (6%, 200 μL) e tratados via intra peritoneal (i.p.) com GBP nas doses de 0,1; 0,3; 1,0 mg/kg ou dexametasona (2 mg/kg, subcutânea – s.c.) com 17 h ou 17:30 h após a indução da colite, respectivamente. Após isso, foram realizados ensaios experimentais para bloquear a ação dos receptores endocanabinóide CB1 e CB2 utilizando seus antagonistas AM 251 (3 mg/kg, i.p.) e AM 630 (1 mg/kg, i.p.), respectivamente. Após 18 h da indução da colite os animais foram eutanasiados e uma amostra de 5 cm do cólon foi retirada para avaliação dos escores macroscópicos e microscópicos de lesão, peso úmido e análises bioquímicas onde foram verificados a atividade da enzima mieloperoxidase (MPO), níveis de glutationa (GSH) e malonildialdeídeo (MDA). Os grupos de animais que receberam apenas AA intracolônico demonstrou um maior aumento do número de lesões inflamatórias intestinais apresentando aumento dos parâmetros inflamatórios macro e microscópicos, além de apresentar aumento significativo do peso úmido do colón e da concentração de MPO no tecido intestinal, bem como apresentaram redução da formação de GSH e aumento nos níveis de MDA e citocina IL1- β quando comparado ao grupo salina. O tratamento com a GBP na concentração de 1,0 mg/kg apresentou uma redução da lesão intestinal de forma significativa por diminuir a atividade da enzima MPO e dos marcadores de estresse oxidativo in vivo e citocina (IL1- β) quando comparado ao grupo AA. Ainda foi visto que o bloqueio dos receptores endocanabinóides não teve influência na redução da inflamação do cólon do intestino pela GBP após avaliar os parâmetros macro e microscópico de lesão, peso úmido, na atividade da enzima MPO, níveis de GSH, MDA e IL1- β quando comparado ao grupo GBP. Os resultados mostram que o AA foi eficaz em induzir a retocolite ulcerativa (RCU); que a GBP reduz a inflamação no cólon causada pelo AA, porém, seu efeito é provavelmente independente da via dos receptores endocanabinóides, não sendo estes envolvidos na redução do efeito inflamatório da RCU induzida experimentalmente, mostrando que esta via não representa uma alternativa terapêutica promissora para pacientes com RCU. ABSTRACT: Inflammatory bowel disease (IBD) comprises a spectrum of diseases characterized by chronic inflammation of the gastrointestinal tract (GIT) without a specific cause or pathogen. Gabapentin (GBP) is an anticonvulsant drug, but previous studies have shown that it is effective in reducing gastric inflammatory damage and decreasing the acute inflammatory process. During colitis there is an increase in substances that act in the pathway of endocannabinoids, which are important for the protection of the colon during the development of inflammatory bowel process. Thus, this work aims to analyze the anti-inflammatory effect of GBP on acetic acid (AA) -induced colitis in mice and to observe whether this mechanism of action occurs through the pharmacological pathway of endocannabinoids. Male swiss mice (25-30 g) were divided into groups of 6 animals. Colitis induction was performed using AA (6%, 200 μL) and treated intraperitoneally (i.p.) with GBP at doses of 0.1; 0.3; 1.0 mg / kg or dexamethasone (2 mg / kg, subcutaneous - s.c.) at 17 h or 17:30 h after induction of colitis, respectively. After that, experimental trials were performed to block the action of endocannabinoid receptors using their antagonists AM 251 (3 mg / kg, i.p.) and AM 630 (1 mg / kg, i.p.), respectively. After 18 h of colitis induction the animals were euthanized and a 5 cm sample of the colon was removed for assessment of macroscopic and microscopic lesion, wet weight and biochemical analyzes where the activity of the myeloperoxidase enzyme (MPO), levels of Glutathione (GSH) and malonildialdehyde (MDA). The groups of animals that received only intracolonic AA showed a greater increase in the number of inflammatory bowel lesions presenting an increase in the macro and microscopic inflammatory parameters, besides presenting a significant increase of the humid weight of the colon and the concentration of MPO in the intestinal tissue, as well as presented Reduction of GSH formation and increased levels of MDA and IL-1 cytokine when compared to saline group, whereas treatment with 1.0 mg / kg GBP showed a significant reduction of intestinal damage by decreasing MPO enzyme activity and markers of oxidative stress in vivo and cytokine (IL-β) when compared to AA group. It was also observed that endocannabinoid receptor blockade had no influence on the reduction of intestinal colon inflammation by GBP after assessing macro and microscopic parameters of injury, wet weight, MPO enzyme activity, GSH, MDA and IL-1 levels When compared to the GBP group. Results show that AA was effective in inducing ulcerative colitis (RCU); However, its effect is independent of the endocannabinoid receptor pathway and is not involved in reducing the inflammatory effect of experimentally-induced RCU, showing that this pathway is not a promising therapeutic alternative for patients with RCU.