Abstract:
RESUMO: O presente trabalho tematiza as significações das representações de corpos de
mulheres articuladas pelas relações de gênero. A poeta angolana Paula Tavares,
com sua obra Amargos como os frutos, é o sujeito/objeto da presente pesquisa, que
foi estudado a partir de três planos de análise: corpo subversivo, corpo subalterno e
corpo amante lidos, lírica e teoricamente, com vistas a compreender os sentidos e
as estruturas das significações de cada eixo analítico. O elo principal entre eles foi
aspectos relacionados a processos de emancipação feminina. O objetivo geral do
trabalho foi pesquisar representações de mulheres em processos diversos de
autonomia sociopolítica e afetiva, que emergem da poesia de Paula Tavares na obra
Amargos como frutos, articuladas na relação dessas com seus próp rios corpos e
com aqueles do sexo masculino, confrontadas com paradigmas culturais de
comportamentos naturalizados e estabelecidos para mulheres e homens na
sociedade angolana. E foram objetivos específicos: investigar, na poesia de Paula
Tavares, formas de domínio do masculino sobre o feminino; averiguar
representações de insubordinação da sexualidade feminina inscritas em poemas de
Paula Tavares que expressam uma busca pelo domínio do próprio corpo; e
examinar poemas de Paula Tavares que abordam relações consensuais e amorosas
entre amantes, nas quais as alteridades se relacionam de maneira mais equânime,
redesenhando, assim, as fronteiras entre masculino e feminino, de forma a perceber
se os limites postos para os comportamentos entre os gêneros podem ser
transpostos, deslocando mulheres e homens para experiências mais horizontais de
gênero e sexualidade. Fazem parte do marco teórico que subsidiou esta pesquisa
autores como Beauvoir (1967; 1970), Bourdieu (1995, 2002), Bozon (2004), Butler
(2000; 2003), Ducados (2004), Firestone (1970), Giddens (1993), Grassi (2001),
Lakoff (2010), Louro (2000), Machado (1998; 2000), Saffioti (1987; 2004), Silva
(2009), Spivak (2010), Pateman (1993), Touraine (2007), Weeks (2000). Sobre a
produção poética de Paula Tavares, houve a contribuição de teóricos como Chaves,
Macêdo, Secco (2006), Matta (2011), Mantolvani (2016), Secco (2011; 2013), Souza
(2010). Foram categorias adotadas para a análise: corpo, gênero, patriarcado,
subversão, subalternidade, dentre outras. As categorias teóricas que orientaram a
leitura possibilitaram identificar registros diversos da corporeidade feminina, que foi o
pressuposto do problema de pesquisa, formulado através da seguinte questão:
como as mulheres são representadas na poesia de Paula Tavares, pela obra
Amargos como frutos? A metodologia utilizada neste trabalho foi pesquisa
bibliográfica qualitativa, orientada pelos três eixos de análise: submissão,
transgressão e equidade. Nas considerações finais, destacam -se os perfis plurais do
eu lírico feminino, como a submissão presente em poemas nos quais as mulheres
não têm direito à condição de sujeito. Assim como há transgressão em poemas nos
quais as mulheres possuem autonomia sobre si mesma. Porém, há perfis femininos
que estabelecem relações permeadas por sentimentos de reciprocidade amorosa,
nos quais as relações de poder tornam-se difusas e fragmentadas. Dessa forma, a
diversidade de performances femininas questiona padrões sexistas, assim como
elabora mulheres emancipadas. Isso impulsiona e fortalece novos padrões de
comportamento. ABSTRACT: This work thematizes the meaning of representations of women’s bodies articulated
by gender relations. The collection of poems, Amargos como os frutos, by Angolan
writer Paula Tavares is the corpus of this research, which is structured in three levels
of analysis: subversive body, subaltern body, and loving body, observed, lyrically and
theoretically, with the objective of understanding the meanings and sense structures
of each analytical axis. The general objective of the work was to research
representations of women in diverse processes of sociopolitical and affective
autonomy which emerge from the poetry of Paula Tavares in Amargos como os
frutos, articulated in their relationships to their own bodies and to those of the
masculine gender, confronted with cultural paradigms of behavior naturalized and
established women and men in the Angolan society. The specific objectives of the
research were: to investigate, in the poetry of Paula Tavares, forms of male
domination over women; to verify in poems by Paula Tavares representations of
insubordination of feminine sexuality, expressing a search from the part of women to
have mastery over their own body; and to examine poems by Paula Tavares which
deal with consensual loving relationships between woman and man, in which both
sexes relate with each other in a more equitable way, thus redesigning the
boundaries between women and men, in order to perceive if gender behaviors can
be transposed, leading women and men to more horizontal experiences of gender
and sexuality. Beauvoir (1967; 1970), Bourdieu (1995, 2002), Bozon (2004), Butler
(2000; 2003), Ducados (2004), Firestone (1970), Giddens (1993), Grassi (2001),
Lakoff (2010), Louro (2000), Machado (1998; 2000), Saffioti (1987; 2004), Silva
(2009), Spivak (2010), Pateman (1993), Touraine (2007), and Weeks (2000) are
some authors who support theoretically the research. In relation to Paula Tavares’
poetic production critics like Chaves, Macêdo, Secco (2006), Matta (2011),
Mantolvani (2016), Secco (2011; 2013), Souza (2010) were reviewed. The categories
investigated for the analysis were: gender, patriarchy, subversion, subalternity,
among others. The theoretical categories which guided the reading and analysis of
the poetic texts enabled the identification of different perceptions of the female
corporeality, which was the presupposition of the research problem formulated
through the following question: how women are represented in Paula Tavares’ book
of poems Amargos como os frutos? The methodology used in this work was the
qualitative bibliographic research, paying attention to the three axes of analysis:
submission, transgression, and equity. As final consideration, it is highlighted the
plural profiles of the feminine lyrical I, presenting submission, as in the poems in
which women have not yet fully obtained the condition of subject; or transgression,
as in poems in which women present a certain level of autonomy. There are feminine
profiles, however, which stablish relationships marked by love reciprocity, in which
the power relations become diffuse and fragmented. This way, the diversity of
feminine performances present in the poetics of Paula Tavares questions sexist
standards, as well as tend to construct emancipated women, thus provoking and
strengthening new standards of behavior