Abstract:
RESUMO: As mudanças ocorridas na contemporaneidade no que tange à família, gênero e sexualidade são consideradas uma das mais revolucionárias, afirmando-se a variedade de experiências que giram em torno das suas configurações, sujeitos e relações. Embora considerando essas mudanças ainda é um desafio tratar de relações afetivo-sexuais entre o mesmo sexo, visto que essas pessoas têm passado, ao longo da história, por processos de apagamento e discriminações sendo percebidas, em geral, como desviantes e odiosas. Este estudo trata das experiências de mulheres dissidentes de relacionamentos heterossexuais, com e sem filhas(os), que atualmente vivenciam relações afetivo-sexuais com outras mulheres. O objetivo é compreender como se processa a dinâmica familiar lesboafetiva na vida dessas mulheres no tocante as relações de gênero e sexualidade, com a finalidade de verificar se essa relação afetivo-sexual é vivida de forma mais igualitária quando comparada à relação heterossexual. As relações de gênero são aqui expressas através da divisão sexual do trabalho, onde são destacadas questões relativas às tarefas domésticas, criação dos filhos e provisão econômica da família; a sexualidade é proclamada através das relações afetivo-sexuais vividas por essas mulheres e, destacando questões relativas a casamento, desejo, traição, separação. A discussão teórica inclui as categorias analíticas: família, gênero, e sexualidade, particularizando nesta a lesbianidade. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, cujo tratamento analítico dos dados deu-se através da análise de discurso, com aplicação de entrevistas semiestruturadas junto às mulheres, a fim de apreender os discursos produzidos sobre suas vivências afetivo-sexuais e de gênero no contexto familiar. Os resultados mostram que as relações lesboafetivas apresentam características mais igualitárias que as heterossexuais. A dinâmica familiar e as relações sexuais lesboafetiva são marcadas por certa flexibilidade, diálogo e companheirismo entre o casal, e a autonomia e liberdade no uso do corpo é um princípio fundamental dessa relação. Embora sejam mais igualitárias não significa dizer que tais relações estejam isentas de práticas consideradas machistas. Por fim, no que diz respeito à identidade social, algumas mulheres assumem sua lesbianidade e outras não, o que lhes permite um transito mais flexível em relação às experiências sexuais. --------------- ABSTRACT: The contemporary changes in family, gender and sexuality are considered one of the most revolutionary, affirming the variety of experiences that revolve around their configurations, subjects and relationships. While considering these changes, it is still a challenge to deal with same-sex affective-sexual relationships, as these people have gone through history through erasure and discrimination processes being generally perceived as deviant and odious. This study deals with the experiences of dissident women in heterosexual relationships, with and without daughters, who currently experience affective-sexual relationships with other women. The objective is to understand how the family dynamics in the life of these women are processed in relation to gender and sexuality, in order to verify if this affective-sexual relationship is lived in a more egalitarian way when compared to the heterosexual relationship. Gender relations are expressed here through the sexual division of labor, where issues related to domestic tasks, child rearing and family economic provision are highlighted; Sexuality is proclaimed through the affective-sexual relations experienced by these women, and highlighting issues relating to marriage, desire, betrayal, separation. The theoretical discussion includes the analytical categories: family, gender, and sexuality, particularizing in this the lesbianity. It is a qualitative research, whose analytical treatment of the data occurred through discourse analysis, with the application of semi-structured interviews with women, in order to apprehend the discourses produced on their affective-sexual and gender experiences in the family context. The results show that positive relationships have more egalitarian characteristics than heterosexual ones. Family dynamics and sexual relations are marked by a certain flexibility, dialogue and companionship between the couple, and autonomy and freedom in the use of the body is a fundamental principle of this relationship. Although they are more egalitarian, it does not mean that such relations are free of machist practices. Finally, with regard to social identity, some women assume their lesbianity and others do not, which allows them a more flexible transition to sexual experiences.