Abstract:
RESUMO: A leishmaniose felina (LFe), causada por Leishmania spp., é uma zoonose emergente com impacto crescente na saúde pública, especialmente em regiões endêmicas como o Nordeste brasileiro. Este estudo investigou a epidemiologia, manifestações clínicas e alterações histopatológicas da pele na Leishmaniose felina (Felis catus domesticus) de Teresina (PI) e Timon (MA). Realizou-se um estudo transversal com 327 felinos (164 em Teresina; 163 em Timon), por randomização de bairros. Amostras de sangue, foram coletadas para sorologia (ELISA adaptado e para retrovírus), medula óssea e linfonodos para o cultivo e a histopatologia dos animais doentes. Fatores associados à infecção foram determinados por análise de questionários epidemiológicos, complementados por avaliação de fichas clínicas para caracterização dos sinais sugestivos da doença. Dos oito animais doentes, apenas dois (Teresina - PI) foram avaliados complementarmente com hemograma, bioquímica sérica (ureia, creatinina, ALT, AST, albumina/proteína total) e histopatologia da pele. Realizou-se xenodiagnóstico com Lutzomyia longipalpis em um felino com lesões cutâneas para avaliação da capacidade infectiva. Os resultados deste estudo revelaram importantes achados sobre a leishmaniose felina na região Meio-Norte do Brasil. A análise sorológica demonstrou prevalência de 14,63% em Teresina (24/164 animais) e 9,81% em Timon (16/163). A confirmação parasitológica foi obtida em oito animais (3,65% em Teresina e 1,22% em Timon), diagnosticados através de cultura de linfonodos poplíteos, com detecção adicional de amastigotas em esfregaços cutâneos em um animal. Todos os felinos doentes apresentaram manifestações clínicas evidentes. A linfadenomegalia de linfonodos poplíteos foi observada em 100% dos casos (8/8), enquanto somente um felino manifestou lesões cutâneas variadas, incluindo nódulos característicos nas orelhas, dorso e focinho. A alopecia esteve presente em 62,5% dos casos (5/8) e 50% dos animais (4/8) apresentaram perda de peso acentuada. Nos exames complementares realizados em dois animais, os achados hematológicos revelaram leucocitose, anemia e trombocitopenia leve. O perfil bioquímico mostrou hipoalbuminemia, elevação de ureia e aumento de AST. O xenodiagnóstico realizado em um felino sintomático forneceu dados relevantes sobre a transmissão: 40% dos flebotomíneos (24/60) se alimentaram no animal, sendo que 41% (10/24) apresentaram infecção por promastigotas no trato digestivo, com intensidade parasitária classificada como alta carga parasitária. As análises histopatológicas demonstraram alterações epidérmicas significativas, incluindo acantose, espongiose e paraqueratose. Na derme, observou-se infiltrado inflamatório polimorfonuclear com formação de granulomas característicos. Notavelmente, formas amastigotas foram identificadas em todas as amostras de pele analisadas (8/8), confirmando a disseminação tecidual do parasito. A análise epidemiológica identificou dois fatores de risco significativos: o acesso à rua e a convivência com cães. Todos os animais testados foram negativos para FIV e FeLV, excluindo a possibilidade de coinfecções que pudessem agravar o quadro. Os achados de necropsia complementares revelaram rins aumentados e alterações hepáticas degenerativas. Felinos da região Meio-Norte do Brasil apresentam infecção ativa por Leishmania spp., com manifestações clínicas e histopatológicas sugestivas para a doença. Os resultados reforçam o potencial desses animais no ciclo zoonótico, destacando a necessidade de inclusão da LFe em programas de vigilância
ABSTRACT: Feline leishmaniasis (FeL), caused by Leishmania spp., is an emerging zoonosis with increasing public health impact, particularly in endemic regions such as Northeast Brazil. This study investigated the epidemiology, clinical manifestations, and histopathological skin changes in feline leishmaniasis (Felis catus domesticus) in Teresina (Piauí) and Timon (Maranhão). A cross-sectional study was conducted with 327 cats (164 in Teresina; 163 in Timon), randomized by neighborhood. Blood samples were collected for serology (adapted ELISA and retrovirus testing), while bone marrow and lymph nodes were sampled for culture and histopathology in diseased animals. Factors associated with infection were determined through epidemiological questionnaire analysis, supplemented by clinical record evaluation to characterize disease-related signs. Of the eight diseased animals, only two (from Teresina - PI) underwent additional assessment, including complete blood count, serum biochemistry (urea, creatinine, ALT, AST, albumin/total protein), and skin histopathology. Xenodiagnosis using Lutzomyia longipalpis was performed on one feline with skin lesions to assess infectivity potential. The results revealed significant findings on feline leishmaniasis in Brazil's Mid-North region. Serological analysis showed a prevalence of 14.63% in Teresina (24/164 animals) and 9.81% in Timon (16/163). Parasitological confirmation was obtained in eight animals (3.65% in Teresina and 1.22% in Timon), diagnosed via popliteal lymph node culture, with additional amastigote detection in skin smears in one animal. All infected cats exhibited evident clinical manifestations. Popliteal lymphadenomegaly was observed in 100% of cases (8/8), while only one feline presented varied skin lesions, including characteristic nodules on the ears, back, and snout. Alopecia was present in 62.5% of cases (5/8), and 50% of animals (4/8) showed marked weight loss. In the two animals that underwent additional testing, hematological findings revealed leukocytosis, anemia, and mild thrombocytopenia. Biochemical profiles indicated hypoalbuminemia, elevated urea, and increased AST. Xenodiagnosis in one symptomatic feline provided relevant transmission data: 40% of sandflies (24/60) fed on the animal, with 16.6% (10/60) showing digestive tract infection by promastigotes, classified as high parasitic load. Histopathological analysis demonstrated significant epidermal changes, including acanthosis, spongiosis, and parakeratosis. The dermis exhibited polymorphonuclear inflammatory infiltrate with characteristic granuloma formation. Notably, amastigote forms were identified in all skin samples analyzed (8/8), confirming tissue dissemination of the parasite. Epidemiological analysis identified two significant risk factors: outdoor access and cohabitation with dogs. All tested animals were negative for FIV and FeLV, ruling out potential coinfections that could worsen the condition. Additional necropsy findings revealed enlarged kidneys and degenerative liver changes. Cats in Brazil's Mid-North region exhibit active Leishmania spp. infection, with clinical and histopathological manifestations suggestive of the disease. These findings reinforce the potential role of felines in the zoonotic cycle, highlighting the need to include FeL in surveillance programs.