Abstract:
RESUMO: A questão de pesquisa que suleia esta tese é: como as ancestralidades africanas,
afro-brasileiras e indígenas (afropindorâmicas) são mobilizadas na luta pelo território? O
objetivo geral é analisar como as ancestralidades africanas, afro-brasileiras e indígenas são
mobilizadas, na dinâmica cotidiana, pelos moradores do Quilombo Urbano da Boa
Esperança, convergindo em força e instrumentos de luta pelo território. Os objetivos
específicos são: apresentar as categorias/contextos da pesquisa; entender a dinâmica da luta
pelo território no Quilombo Urbano da Boa Esperança, por meio da interseccionalidade;
identificar as ancestralidades africana, afrodescendente e indígena no Quilombo Urbano da
Boa Esperança, na luta pelo território; refletir, por meio da interseccionalidade, como as
ancestralidades africanas, afro-brasileiras e indígenas são mobilizadas pelos moradores no
Quilombo Urbano da Boa Esperança, na luta pelo território. Trata-se de pesquisa de
abordagem qualitativa, exploratória, com aporte bibliográfico e documental, em que se
prioriza autorias negras, femininas e brasileiras. O cenário da pesquisa é o Quilombo Urbano
da Boa Esperança, localizado na zona norte da cidade de Teresina-PI, território tradicional
que luta pela permanência em suas casas. Os dados documentais foram cotejados do Projeto
Mulheres nos Terreiros da Esperança (2018), produção audiovisual realizada com a
comunidade, que tematiza a ancestralidade e a luta pelo território. As transcrições dos áudios
do Projeto possibilitaram a coleta de dados organizados em tabelas a partir dos contextos:
ancestrais/ancestralidade, luta pelo território e tecnologias ancestrais. A escrevivência
(Evaristo, 2017) foi utilizada como recurso de escrita e produção de conhecimento por
reconhecer que as minhas experiências enquanto mulher negra atravessam a forma como vivo
e pesquiso. Dialogo com os intelectuais quilombolas Antonio Bispo dos Santos, o Nêgo
Bispo (2015, 2023) e Selma Dealdina (2020); pesquistadores negros Beatriz Nascimento
(2018), Abdias do Nascimento (2017, 2018), Lélia González (2020), Maria Sueli Rodrigues
de Sousa (2021), Leda Maria Martins (2021). Com eles adensamos o debate teórico que
sustenta esta tese e reconstruímos, do ponto de vista epistêmico, os contextos centrais deste
trabalho: ancestralidade, quilombo, luta pelo território e moradia. Destaca-se a
interseccionalidade, que permite a leitura e análise de como os entrecruzamentos de
estruturas de poder operam nas vivências das mulheres negras, (Akotirene, 2019; Collins;
Bilge, 2021), que foi utilizada para a análise dos dados. Quanto aos resultados, notou-se que:
a comunidade da Av. Boa Esperança tem se identificado enquanto Quilombo Urbano da
Esperança: de comunidade tradicional em virtude dos fazeres de olaria e vazante e da
religiosidade de matriz africana foi-se percebendo que a forma de organização da vida,
território e política são afrodescendentes e quilombolas. A luta da Boa Esperança também é
sankofa: no Brasil a luta de povos indígenas, tradicionais e afrodescendentes pelo território e
moradia é constante e rememora a própria luta para manutenção dos territórios pelos povos
indígenas na invasão do Brasil e o sequestro em massa de africanos para escravidão e
ocupação territorial. O Museu virtual e a Casa Maria Sueli são mecanismos de preservação
das ancestralidades; histórias faladas, escritas e representadas; tecnologias ancestrais;
encontros, trânsitos e processos entre a comunidade e a cidade e produção de futuro.
ABSTRACT: The research question that guides this thesis is: how are African, Afro-Brazilian and
indigenous (Afropindoramic) ancestries mobilized in the struggle for territory? The general
objective is to analyze how African, Afro-Brazilian and indigenous ancestries are mobilized,
in everyday dynamics, by the residents of Quilombo Urbano da Boa Esperança, converging in
strength and instruments of struggle for territory. The specific objectives are: present the
research categories/contexts; to understand the dynamics of the struggle for territory in
Quilombo Urbano da Boa Esperança, through intersectionality; identify African,
Afro-descendant and indigenous ancestries in Quilombo Urbano da Boa Esperança, in the
struggle for territory; reflect, through intersectionality, how African, Afro-Brazilian and
indigenous ancestries are mobilized by residents in Quilombo Urbano da Boa Esperança, in
the fight for territory. This is research with a qualitative, exploratory approach, with
bibliographic and documentary support, in which black, female and Brazilian authors are
prioritized. The research setting is the Quilombo Urbano da Boa Esperança, located in the
north of the city of Teresina-PI, a traditional territory that fights to remain in their homes. The
documentary data was collated from the Projeto Mulheres nos Terreiros da Esperança (2018),
an audiovisual production carried out with the community, which focuses on ancestry and the
struggle for territory. The Project's audio transcriptions made it possible to collect data
organized in tables based on the contexts: ancestors/ancestry, struggle for territory and
ancestral technologies. The escrevivência (Evaristo, 2017) was used as a writing and
knowledge production resource to recognize that my experiences as a black woman permeate
the way I live and research. Dialogue with quilombola intellectuals Antonio Bispo dos
Santos, Nêgo Bispo (2015, 2023) and Selma Dealdina (2020); black researchers Beatriz
Nascimento (2018), Abdias do Nascimento (2017, 2018), Lélia González (2020), Maria Sueli
Rodrigues de Sousa (2021), Leda Maria Martins (2021). With them, we deepen the
theoretical debate that supports this thesis and reconstruct, from an epistemic point of view,
the central contexts of this work: ancestry, quilombo, fight for territory and housing.
Intersectionality stands out, which allows the reading and analysis of how the intersections of
power structures operate in the experiences of black women, (Akotirene, 2019; Collins;
Bilge, 2021), which was used for data analysis. Regarding the results, it was noted that: the
community of Av. Boa Esperança has identified itself as Quilombo Urbano da Esperança: a
traditional community due to the making of pottery and ebb and religiosity of African origin,
it was realized that the way of organization of life, territory and politics are Afro-descendants
and quilombolas. The struggle for Boa Esperança is also sankofa: in Brazil the struggle of
indigenous, traditional and Afro-descendant peoples for territory and housing is constant and
recalls the struggle for the maintenance of territories by indigenous peoples in the invasion of
Brazil and the mass kidnapping of Africans to slavery and territorial occupation. The virtual
Museum and Casa Maria Sueli are mechanisms for preserving ancestries; spoken, written and
performed stories; ancestral technologies; meetings, transits and processes between the
community and the city and production of the future.