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RESUMO: Introdução: A endocardite infecciosa (EI) representa um risco significativo para crianças
com cardiopatias congênitas ou portadoras de próteses valvares, podendo ser decorrente de
bacteremia associada a procedimentos odontológicos invasivos. Dentre os microrganismos
mais envolvidos nessa patologia, destacam-se os estreptococos do grupo viridans, cujos
perfis de virulência incluem adesão e formação de biofilme. Embora a profilaxia antibiótica
(PA) com amoxicilina (AMX) seja recomendada como prevenção à EI, a crescente
resistência dos estreptococos orais a esse antibiótico compromete sua eficácia, evidenciando
a necessidade de antibióticos alternativos e de estratégias complementares que possam
diminuir a bacteremia, como o uso de antissépticos. Objetivo: Avaliar o perfil fenotípico de
adesão e formação de biofilme de estreptococos orais resistentes à amoxicilina (EORA), bem
como sua suscetibilidade a antibióticos alternativos e à clorexidina (CHX). Material e
Métodos: Vinte e cinco cepas de EORA, previamente isoladas da cavidade bucal de crianças
cardiopatas com risco para EI, foram analisadas por meio de ensaios in vitro. A adesão à
matriz extracelular (MEC) foi avaliada por meio da incubação das bactérias por 1,5 hora em
poços de placas revestidos com colágeno do tipo I. A formação de biofilme de 24 horas foi
analisada utilizando-se a coloração por cristal violeta. A susceptibilidade antimicrobiana foi
determinada pelo método de difusão em ágar com discos dos antibióticos azitromicina (AZI),
claritromicina (CLA), eritromicina (ERI) e clindamicina (CLI), com a subsequente
verificação da presença dos fenótipos de resistência M e MLS. Também foi determinada a
concentração inibitória mínima (CIM) da CHX e seu efeito, na concentração de 0,12%, sobre
biofilmes pré-formados, por meio do ensaio metabólico do XTT. Os dados foram analisados
estatisticamente utilizando-se ANOVA de uma ou duas vias, seguida dos pós-testes
apropriados, sendo o nível de significância fixado em 5%. Resultados: A maioria dos EORA
(84%) apresentou alto padrão de adesão à MEC. Quanto à formação de biofilme, 64% foram
classificadas como fortes formadores de biofilme, enquanto 32% foram considerados
moderados produtores. Foi observada uma elevada taxa de resistência aos macrolídeos, em
que 60% das cepas apresentaram resistência simultânea à ERI, AZI e CLA. Em contraste, a
CLI manteve ampla eficácia, com 96% dos isolados classificados como sensíveis. Apenas
uma cepa apresentou resistência à CLI, com concomitante resistência aos três macrolídeos
testados, caracterizando-a como multirresistente, já que também apresentava resistência à
AMX. A CIM da CHX foi de 2 μg/mL para todos os isolados, e o tratamento com CHX a
0,12% eliminou a viabilidade dos biofilmes (p<0,0001). Conclusão: Os EORA
demonstraram alta capacidade de adesão à MEC e formação de biofilme. Verificou-se
também uma preocupante prevalência de resistência aos macrolídeos. No entanto, a CHX
mostrou-se altamente eficaz frente às formas planctônicas e organizadas em biofilme dos
isolados testados.
ABSTRACT: Introduction: Infective endocarditis (IE) poses a significant risk for children with
congenital heart disease or prosthetic valves and may result from bacteremia associated with
invasive dental procedures. Among the most frequently implicated microorganisms in this
condition are viridans group streptococci, whose virulence traits include adhesion and
biofilm formation. Although antibiotic prophylaxis (AP) with amoxicillin (AMX) is
recommended to prevent IE, the increasing resistance of oral streptococci to this antibiotic
compromises its effectiveness. This highlights the need for alternative antibiotics and
complementary strategies to reduce bacteremia, such as the use of antiseptics. Objective:
To evaluate the phenotypic profile of adhesion and biofilm formation of amoxicillin-resistant
oral streptococci (AROS), as well as their susceptibility to alternative antibiotics and
chlorhexidine (CHX). Materials and Methods: Twenty-five AROS strains, previously
isolated from the oral cavity of children with heart disease at risk for IE, were analyzed
through in vitro assays. Adhesion to the extracellular matrix (ECM) was assessed by
incubating the bacteria for 1.5 hours in collagen type I-coated wells. Biofilm formation after
24 hours was analyzed using crystal violet staining. Antimicrobial susceptibility was
determined by agar diffusion against azithromycin (AZI), clarithromycin (CLA),
erythromycin (ERI), and clindamycin (CLI), followed by the identification of M and MLS
resistance phenotypes. The minimum inhibitory concentration (MIC) of CHX was
determined, as well as its effect at 0.12% on preformed biofilms using the XTT metabolic
assay. Data were statistically analyzed by one- or two-way ANOVA, followed by
appropriate post hoc tests, with a significance level of 5%. Results: Most AROS strains
(84%) exhibited a high adhesion pattern to ECM. Regarding biofilm formation, 64% were
classified as strong biofilm producers, while 32% were moderate producers. A high rate of
moderate or intermediate resistance to macrolides was observed, with 60% showing
simultaneous resistance to ERI, AZI, and CLA. In contrast, CLI remained broadly effective,
with 96% of strains classified as sensitive. Only one strain was resistant to CLI and
simultaneously resistant to all three macrolides tested, characterizing it as multidrug-
resistant due to its concurrent resistance to AMX. The MIC of CHX was 2 μg/mL for all
isolates, and treatment with CHX at 0.12% eliminated biofilm viability (p < 0.0001).
Conclusion: AROS strains demonstrated high adhesion capacity to ECM and significant
biofilm-forming ability. A concerning prevalence of macrolide resistance was identified.
Nevertheless, CHX proved to be highly effective against both planktonic and biofilm-
associated forms of the tested isolates. |
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