Abstract:
RESUMO: Estima-se que há aproximadamente 1 bilhão de pessoas com algum tipo de deficiência no
mundo. No Piauí, cerca de 10,8% dos habitantes enfrentam algum tipo de limitação funcional.
O território piauiense tem um elevado número de espécies animais devido à variedade
vegetacional. No entanto, ainda é reduzido o número de pesquisas que envolvam pessoas com
deficiência (PcD) na etnobiologia e ciências ambientais. Nesse sentido, a pesquisa destaca a
necessidade de uma abordagem mais inclusiva e adaptada que considere as especificidades
linguísticas e culturais das PcD, especialmente das pessoas surdas, em relação à interação com
a fauna. Considerando esse panorama, o trabalho tem como objetivo compreender como
ocorre a inclusão de pessoas com deficiência em pesquisas dos campos etnobiológicos e
ambientais, explorando especificamente o conhecimento que pessoas surdas têm sobre a
fauna. Sendo assim, realizamos uma revisão sistemática no primeiro capítulo onde mapeamos
a distribuição geográfica e os temas de pesquisa envolvendo PcD. No segundo capítulo,
buscamos identificar como as variáveis socioeconômicas influenciam no conhecimento
faunístico das pessoas surdas, meios de aquisição e sentimentos associados. No terceiro,
discutimos a aplicabilidade de diferentes métodos de coleta de dados na pesquisa com pessoas
surdas, identificando desafios, limitações e potenciais adaptações para aprimorar a
acessibilidade científica. Os dados foram obtidos no período de abril a outubro de 2023 e
analisados através de síntese temática e análise estatística. Identificamos que, os temas mais
frequentes nas pesquisas investigadas foram ensino de ciências e biologia, seguido de
educação ambiental, tendo com frequência o uso do modelo social da deficiência. Dentre as
origens dos saberes relacionados aos animais, identificamos a tradição como fonte principal,
seguido da mídia, as variáveis socioeconômicas não foram significativas para a construção do
conhecimento e atribuição dos sentimentos. Observamos, também, que as pessoas surdas
tendem a ter mais sentimentos positivos pelos animais domésticos. Por fim, percebemos que
as pessoas surdas pouco estão inseridas nas pesquisas que envolvem a etnobiologia, temáticas
ambientais e PcD, além disso são necessárias mais pesquisas que tragam pessoas surdas para
o centro das discussões, bem como, a construção de material didático sobre a fauna adaptado
para o ensino de pessoas surdas.
ABSTRACT: It is estimated that there are approximately 1 billion people with some type of disability in the
world. In Piauí, approximately 10.8% of the population faces some type of functional
limitation. The territory of Piauí has a high number of animal species due to the variety of
vegetation. However, the number of studies involving people with disabilities (PwD) in
ethnobiology and environmental sciences is still limited. In this sense, the research highlights
the need for a more inclusive and adapted approach that considers the linguistic and cultural
specificities of PwD, especially deaf people, in relation to their interaction with fauna.
Considering this panorama, the work aims to understand how the inclusion of people with
disabilities in research in the ethnobiological and environmental fields occurs, specifically
exploring the knowledge that deaf people have about fauna. Therefore, we conducted a
systematic review in the first chapter where we mapped the geographic distribution and
research topics involving PwD. In the second chapter, we sought to identify how
socioeconomic variables influence the faunal knowledge of deaf people, means of acquisition
and associated feelings. In the third section, we discuss the applicability of different data
collection methods in research with deaf people, identifying challenges, limitations, and
potential adaptations to improve scientific accessibility. The data were collected from April to
October 2023 and analyzed through thematic synthesis and statistical analysis. We identified
that the most frequent themes in the research investigated were science and biology teaching,
followed by environmental education, with frequent use of the social model of disability.
Among the origins of knowledge related to animals, we identified tradition as the main
source, followed by the media; socioeconomic variables were not significant for the
construction of knowledge and attribution of feelings. We also observed that deaf people tend
to have more positive feelings towards domestic animals. Finally, we noticed that deaf people
are little included in research involving ethnobiology, environmental themes, and PwD. In
addition, more research is needed that brings deaf people to the center of discussions, as well
as the creation of teaching material on fauna adapted for teaching deaf people.