Abstract:
RESUMO: Esta tese propõe o déficit de eticidade democrática na esfera do mercado em Honneth
mediante a seguinte hipótese de investigação: o mercado, longe de ser uma esfera
integrada à eticidade democrática, funciona como um campo produtor de patologias
sociais devido à reprodução de assimetrias estruturais que corroem a liberdade social. A
teoria do reconhecimento de Honneth, ao não incorporar suficientemente uma crítica ao
poder econômico, limita-se a uma visão normativa insuficiente para enfrentar as injustiças
geradas pelo capitalismo contemporâneo. Para o alcance de nosso objetivo, inicialmente
analisamos de forma geral a contribuição da teoria honnethiana do reconhecimento à
teoria crítica em relação aos fundamentos da autonomia, da autorrealização e das
patologias sociais, bem como falhas e contradições do pensamento do autor, tal como a
ambiguidade do conceito de autonomia individual (liberdade) entendida como
autorrealização. Tal ambiguidade se dá pelo fato de a teoria do reconhecimento falhar em
relação ao aspecto crítico e diagnóstico da teoria crítica. Nossa defesa é de que as
condições práticas e materiais das relações entre os indivíduos nunca são simétricas,
produzindo o reconhecimento distorcido. De forma geral, evidenciamos a tentativa de
Honneth de realizar um diagnóstico crítico emancipatório verificando algumas patologias
sociais como: invisibilidade social, reificação e racionalização instrumental.
Apresentamos o tema do neoliberalismo contemporâneo. A crítica ao neoliberalismo
encontra-se exposta em Paradoxes of Capitalist Modernization, onde Honneth faz a
distinção entre dois tipos de capitalismo, um ‘social-democrata’ e um ‘neoliberal’, bem
como a consideração de que as ordens neoliberais, diferentemente das social-democratas,
de acordo com Hartmann e Honneth (2006) são problemáticas do ponto de vista da teoria
do reconhecimento, pois é paradoxal por criar uma situação na qual a própria tentativa de
instituir normas de liberdade acaba que por impedir as condições de possibilidade para a
realização da mesma. Expomos também as bases da teoria honnethiana do
reconhecimento, bem como a análise da ideologia e do poder e a crítica de autores como
Deranty, McNay e Thompson que apontaram limitações e falhas na teoria de Honneth.
Apresentamos o tema do mercado capitalista: sistema x integração social, tomando como
referência a teoria habermasiana do desacoplamento entre sistema e mundo da vida e a
crítica de Honneth em relação a Habermas. Assim, foi realizada uma crítica a uma noção
honnethiana de progresso moral e social no capitalismo, bem como à tentativa de Honneth
de inserir o mercado capitalista na esfera de liberdade social. Tomamos como obra
principal, O direito da liberdade, onde Honneth intensifica sua ênfase na normatividade
das formas econômicas em oposição à crítica estrutural do capitalismo. Desse modo,
Honneth tem como objetivo mostrar como as práticas morais racionais são historicamente
incorporadas à realidade social. O problema do não cumprimento do projeto honnethiano
de uma eticidade na dimensão do mercado acontece devido (i) ao caráter ambíguo do
conceito de autonomia individual (liberdade) entendido como autorrealização; (ii) por não
explicitar empiricamente o suposto sucesso da revolução neoliberal por ele defendido; e
(iii) devido ao caráter problemático de desenvolvimento moral e social nas sociedades de
mercado. Depreendemos, portanto, que o déficit de eticidade democrática na esfera do
mercado não só revela as insuficiências do diagnóstico honnethiano, mas também
corrobora a necessidade de abordagens mais radicais que integrem as críticas estruturais
ao capitalismo, sem negligenciar a articulação entre reconhecimento, redistribuição e a
superação das patologias sociais.
ABSTRACT: This thesis proposes the deficit of democratic ethics in the sphere of the market in
Honneth through the following research hypothesis: The market, far from being a sphere
integrated into democratic ethics, functions as a field that produces social pathologies due
to the reproduction of structural asymmetries that erode social freedom. Honneth's theory
of recognition, by not sufficiently incorporating a critique of economic power, is limited
to a normative vision that is insufficient to address the injustices generated by
contemporary capitalism. To achieve our objective, we initially analyze in general terms
the contribution of Honneth's theory of recognition to critical theory in relation to the
foundations of autonomy, self-realization and social pathologies, as well as flaws and
contradictions in the author's thought, such as the ambiguity of the concept of individual
autonomy (freedom) understood as self-realization. This ambiguity occurs because the
theory of recognition fails in relation to the critical and diagnostic aspect of critical theory.
Our defense is that the practical and material conditions of relations between individuals
are never symmetrical, producing distorted recognition. In general, we highlight
Honneth's attempt to carry out a critical emancipatory diagnosis by verifying some social
pathologies such as: social invisibility, reification and instrumental rationalization. We
present the theme of contemporary neoliberalism. The critique of neoliberalism is
exposed in Paradoxes of Capitalist Modernization, where Honneth distinguishes between
two types of capitalism, one 'social-democratic' and one 'neoliberal', as well as the
consideration that neoliberal orders, unlike social-democratic ones, according to
Hartmann and Honneth (2006), are problematic from the point of view of the theory of
recognition, as it is paradoxical for creating a situation in which the very attempt to
establish norms of freedom ends up preventing the conditions of possibility for its
realization. We also expose the bases of Honneth's theory of recognition, as well as the
analysis of ideology and power and the criticism of authors such as Deranty, McNay and
Thompson who pointed out limitations and flaws in Honneth's theory. We present the
theme of the capitalist market: system vs. social integration, taking as reference
Habermas's theory of the decoupling between system and lifeworld and Honneth's
critique of Habermas. Thus, we criticize a Honnethian notion of moral and social progress
in capitalism, as well as Honneth's attempt to insert the capitalist market into the sphere
of social freedom. We take as our main work, The Right to Freedom, where Honneth
intensifies his emphasis on the normativity of economic forms in opposition to the
structural critique of capitalism. In this way, Honneth aims to show how rational moral
practices are historically incorporated into social reality. The problem of the non-
fulfillment of Honneth's project of ethics in the market dimension occurs due to (i) the
ambiguous nature of the concept of individual autonomy (freedom) understood as self-
realization; (ii) because he does not empirically explain the supposed success of the
neoliberal revolution he defends; and (iii) due to the problematic nature of moral and
social development in market societies. We therefore conclude that the deficit of
democratic ethics in the market sphere not only reveals the shortcomings of the
Honnethian diagnosis, but also corroborates the need for more radical approaches that
integrate structural criticisms of capitalism, without neglecting the articulation between
recognition, redistribution and the overcoming of social pathologies.