Abstract:
RESUMO : Este estudo tem o objetivo de compreender as experiências educacionais que envolveram a população de negros escravizados e libertos, adultos e crianças, na Província do Piauí, no período entre os anos de 1834 a 1888. Neste sentido, buscamos evidenciar as experiências que contribuíram no esforço pelo reconhecimento civilizatório e visibilidade social; conhecer a legislação vigente no século XIX que versa sobre a instrução da população piauiense, particularmente ao que se refere à população negra na referida época; analisar as práticas educacionais desenvolvidas no Piauí oitocentista, com ênfase a ensinar o trabalho. Essa pesquisa histórica, com abordagem qualitativa, orientada pelo paradigma indiciário examinou, como fonte, documentos, localizados no Arquivo Público do Estado, e jornais impressos, disponibilizados na hemeroteca da Biblioteca Nacional Digital. Este estudo apresenta relevância para a construção da historiografia da educação dos negros no Estado do Piauí. A educação da população negra foi proibida nos períodos colonial e imperial no Brasil. As leis da Coroa Portuguesa e do Brasil Império demonstram esse impedimento. Juntamente com essa interdição, os escravizados foram estigmatizados pela cor da pele, como incapazes, brutos e sem subjetividade. Contudo, essa pesquisa apresenta resultados que desmistificam
essas assertivas. Para essa constatação estudamos o povoamento e a atividade econômica do Piauí e localizamos a presença dos negros escravizados nesses processos. Também, verificamos as proibições que impediam as experiências com a instrução e os processos culturais. Nesse aspecto identificamos que os escravizados buscaram alternativas para as aprendizagens e práticas sociais. Para referendar a tese de que a instrução dos negros, quando aconteceu, foi para ensinar o trabalho analisamos as determinações para o ensino no Estabelecimento dos Educandos Artífices e no Estabelecimento Rural de São Pedro de Alcântara. A confirmação da tese foi delineada nas práticas da cultura escolar desenvolvidas nesses dois espaços de instrução. A concentração das atividades nos exercícios profissionais indicia que o ensino de primeiras letras foi negligenciado para dar espaço à aprendizagem dos
ofícios. Para o exercício dessas instituições de ensino foram empregados rigores emprestados do regime escravistas. Nesses espaços, foram praticados regulamentos formais incompatíveis
Palavras-chave: Educação no Piauí. Educação do povo negro. Estabelecimento dos
Educandos Artífices. Estabelecimento Rural de São Pedro de Alcântara.
ABSTRACT : This study aims to understand the educational experiences that involved the population of enslaved and free black people, adults and children, in the Province of Piauí, in the period between 1834 and 1888. In this sense, we seek to highlight the experiences that contributed to the effort for civilizational recognition and social visibility; know the legislation in force in the 19th century that deals with the education of the population of Piauí, particularly with regard to the black population at that time; analyze the educational practices developed in nineteenth-century Piauí, with an emphasis on teaching work. This historical research, with a qualitative approach, guided by the evidentiary paradigm, examined, as a source, documents located in the State Public Archives and printed newspapers available in the newspaper library
of the National Digital Library. This study is relevant to the construction of the historiography of black education in the State of Piauí. The education of the black population was prohibited in the colonial and imperial periods in Brazil. The laws of the Portuguese Crown and Brazilian Empire demonstrate this impediment. Along with this interdiction, enslaved people were stigmatized by the color of their skin, as incapable, brutish and without subjectivity. However, this research presents results that demystify these assertions. To achieve this, we studied the settlement and economic activity of Piauí and located the presence of enslaved black people in these processes. We also verified the prohibitions that prevented experiences with instruction and cultural processes. In this aspect, we identified that enslaved people sought alternatives for learning and social practices. To endorse the thesis that the instruction of black people, when it happened, was to teach work, we analyzed the determinations for teaching at the Establishment of Educandos Artífices and at the Rural Establishment of São Pedro de Alcântara. Confirmation of the thesis was outlined in the school culture practices developed in these two instructional spaces. The concentration of activities on professional
exercises indicates that the teaching of first letters was neglected to make room for learning trades. To exercise these educational institutions, rigors borrowed from the slave regime were used. In these spaces, formal regulations were practiced that were incompatible with learning processes.