Abstract:
RESUMO
Esta pesquisa nasce das minhas implicações pessoais e acadêmicas, tendo como bases teóricas
o pensamento de intelectuais negras/os, o feminismo negro e as teorias decoloniais. O tema-gerador são as (r)existências de jovens mulheres negras e periféricas, estudantes da graduação
na Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Teresina, Piauí. O objetivo geral foi produzir e
analisar confetos (conceitos perpassados por afetos) sobre as vivências e (r)existências de
jovens mulheres negras e periféricas na UFPI. A metodologia utilizada foi a abordagem
sociopoética – uma teoria e prática filosófica de pesquisa grupal que percebe os saberes
populares e acadêmicos iguais em direitos e que utiliza de dispositivos artísticos para
pesquisar com o corpo todo. Através de oficinas em ambiente virtual, o grupo-pesquisador
produziu dados (produções plásticas e relatos orais), que foram posteriormente analisados. O
estudo transversal dos dados revelou duas linhas de pensamento predominantes: 1) os
problemas da identidade das mulheres negras e periféricas; 2) os sentidos de pertencimento na
UFPI. O estudo também apontou que um corpo negro ocupando a universidade ainda
incomoda muita gente e é visto com estranhamento e preconceitos, julgado com base em
estereótipos que dificultam ou impedem a autonomia do ser. Para fazer parte do espaço e dos
grupos – mesmo que sem realmente pertencer a eles – é necessária adequação, adaptação e
assimilação. Então, a identidade da mulher negra e periférica se configura como uma questão
a partir da qual ela tem a possibilidade de pertencer ou se sentir pertencente ao ambiente. Esta
mulher – que não é uma, mas várias – se expressa, se relaciona e ocupa a universidade através
de múltiplos devires e performances do seu corpo-capa-gelatinoso conforme os lugares
ocupados, as pessoas encontradas e os sentimentos de pertencimento. Ser uma mulher negra e
periférica na UFPI é ser: um corpo-forasteiro-da-encruzilhada que ora é observado, ora é
invisibilizado; um corpo-ocupante-da-encruzilhada que invade um espaço que não lhe
pertence, mas o ocupa mesmo assim. A passagem pela encruzilhada é uma ponte-início-meio-fim, etapas e processos onde o corpo atravessa vários obstáculos-caminhos-desconhecidos
impostos ao corpo negro, além de diversos outros obstáculos como: poço-buraco-estranheza,
buraco-vazio-solidão, buraco-de-sempre, labirintos-desafios, rio-espaço-privilegiado. Diante
de tantos desafios e obstáculos, que pode o corpo negro e periférico das jovens mulheres na
UFPI? Ele pode (r)existir através das suas múltiplas potências – cria seus próprios
mecanismos, constrói afetos com semelhantes, dança, pula, voa, é resiliente, é flexível, se
resguarda, sobe as paredes dos labirintos, sai dos buracos, se transforma, se metamorfoseia, se
recria, se reinventa, é um corpo que se recusa a ficar parado ou desistir.
ABSTRACT
This research was conceived from my personal and academic implications, founded
theoretically by the reasoning of black intellectuals, black feminism, and decolonial theories.
The generator theme is the (r)existence of young black and peripheral women, undergraduate
students at the Federal University of Piauí (UFPI), in Teresina, Piauí. The general objective
was to produce and analyze “confetos” (concepts permeated by affection) about the
experiences and (r)existence of young black and peripheral women at UFPI. The methodology
used was the sociopoetic approach – a philosophical theory and practice of group research
that discerns popular and academic knowledge equal in rights and makes use of artistic
devices to research with the whole body. Through workshops in a virtual environment, the
researcher group produced data (plastic productions and oral reports), which were later
analyzed. The cross-sectional study of the data disclosed two predominant lines of thinking:
1) the identity problems of black and peripheral women; 2) the sense of belonging at UFPI.
The study also pointed out that a black body occupying the university still bothers a lot of
people and is seen with estrangement and prejudice, established on stereotypes that obstruct
or inhibit the autonomy of the human being. To be part of the space and the groups – even
without belonging to them – it is crucial to adjust, adapt and assimilate. Therefore, the black
and peripheral women's identity is configured as an issue from which she has the possibility
of being part of the environment. This woman – not one, but several – expresses herself,
relates to, and occupies the university through multiple becomings and performances by her
gelatinous-cape-body according to the occupied places, the people she met, and the sense of
belonging. To be a black and peripheral woman at UFPI is to be: an outsider-crossroads-body
that is sometimes observed, sometimes made invisible; a crossroads-occupant-body that
overruns a space that does not belong to it, but occupies it anyway. Passing through the
crossroads there is a start-middle-ended-bridge, as well as stages and processes where the
body crosses several unknown-obstacle-paths imposed on the black body, in addition to
several other obstacles such as well-hole-strangeness, hole-empty-solitude, the-usual-hole,
challenge-mazes, river-privileged-space. Faced with so many challenges and obstacles, what
can the black and peripheral body of young women at UFPI do? It can (r)exist through its
multiple powers – it creates its mechanisms, builds affections with peers, dances, jumps, flies,
be resilient, be flexible, protects itself, climbs the walls of labyrinths, leaves up holes,
transforms itself, recreates itself if passing through metamorphosis, reinvents itself. It is a
body that refuses to stand still or give up.