Abstract:
RESUMO
A violência doméstica contra a mulher é um dos desafios mais importantes e complexos para os países,
especialmente para os países colonizados, pelos efeitos negativos que tem sobre a saúde, o
desenvolvimento econômico e social, a segurança e a paz social. Em São Tomé e Príncipe, de acordo
com o art. 5º da lei 11/2008, violência doméstica e familiar contra mulher é qualquer ação ou omissão
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial. A partir das experiências de mulheres santomenses, a presente pesquisa trata da violência
doméstica contra mulheres em São Tomé e Príncipe. A abordagem é construída a partir de perspectivas
decoloniais, com enfoque – embora não exclusivamente - nas abordagens de autoras como Maria
Lugones e Oyèronké Oyěwùmí. As relações de gênero são pensadas considerando as particularidades
do processo de colonização ocorrido no país, bem como as configurações socioeconômicas pós-independência, marcadas pelas desigualdades sociais, sofridas principalmente pelas mulheres. A
pergunta de pesquisa nesse trabalho é: de que forma se caracteriza a violência doméstica contra mulher
em São Tomé e Príncipe? Nesse sentido, objetivo geral é analisar como se caracteriza a violência
doméstica contra mulher em São Tomé e Príncipe. Esse objetivo se dá necessidade de compreender o
fenômeno da violência e como essas mulheres experenciam essa violência a partir de uma perspectiva
decolonial, me colocando como uma pesquisadora santomense no qual permitiu minha aproximação da
realidade e das experiências das mulheres entrevistadas com sensibilidade e cumplicidade. Perante
questão e o objetivo apresentado, o que argumento nesta dissertação é que: olhar para a violência de
gênero vivida por mulheres em São Tomé e Príncipe requer olhar para essa violência como resultado da
produção de relações históricas, entre elas as que produziram gênero na medida em que se manifesta no
contexto social. Para sustentação teórica e empírica deste trabalho foram consultados documentos, entre
os quais, artigos científicos, artigo de opinião, livros, dissertações relacionadas com o tema, o Código
Penal, leis, decretos, Recenseamento Geral da População e Habitação, Inquérito Demográfico e
Sanitário, Constituição da República de São Tomé e Príncipe. Depois, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas, adequadas para os fins desta investigação, possibilitando questionamentos mais
direcionados, dispostos por pontos temáticos a serem respondidos livremente, mas com certa abertura a
outras intervenções relacionadas aos objetivos da pesquisa. O estudo contempla uma abordagem
narrativa no qual consiste em entender a experiência em um processo de colaboração entre pesquisadora
e sujeito, coletando histórias sobre determinado tema onde a investigadora encontrará informações para
entender determinado fenômeno. Desse modo, a importância deste tipo de pesquisa está justamente
nesse olhar que se volta para si mesmo e auxilia o sujeito a compreender seus processos de formação e
a influência do contexto e do outro em sua própria formação ou constituição. Os resultados indicam que
São Tomé e Príncipe ainda enfrenta colonialidade de gênero e que a violência doméstica contra a mulher
ainda não é reconhecida socialmente como crime. Em muitos casos, tanto homens como mulheres
acreditam que certos comportamentos por parte das mulheres justificam a violência. Assim, conclui-se
advogando: que é necessário (re) criar um enfrentamento institucional multissetorial, que alcance várias
dimensões sociais, a fim de promover as garantias de uma cidadania segura e autônoma para
meninas/mulheres; que é necessário que se ensine as mulheres a conhecer seus direitos sobre seus corpos
e suas vidas: que se deve focar na educação dos meninos/homens para que estes conheçam até onde vão
o direito deles e, sobretudo, o direito das mulheres.
ABSTRACT
Domestic violence against women is one of the most important and complex challenges for countries,
especially for colonized countries, due to the negative effects it has on health, economic and social
development, security and social peace. In São Tomé and Príncipe, according to art. 5 of Law 11/2008,
domestic and family violence against women is any action or omission based on gender that causes
death, injury, physical, sexual or psychological suffering and moral or property damage. Based on the
experiences of São Tomé and Príncipe women, this research deals with domestic violence against
women in São Tomé and Príncipe. The approach is built from decolonial perspectives, with a focus -although not exclusively - on the approaches of authors such as Maria Lugones and Oyèronké Oyěwùmí.
Gender relations are considered considering the particularities of the colonization process that occurred
in the country, as well as the post-independence socioeconomic configurations, marked by social
inequalities, suffered mainly by women. The research question in this paper is: how is domestic violence
against women characterized in São Tomé and Príncipe? In this sense, the general objective is to analyze
how domestic violence against women is characterized in São Tomé and Príncipe. This objective is
necessary to understand the phenomenon of violence and how these women experience this violence
from a decolonial perspective, placing me as a Santomean researcher in which she allowed me to
approach the reality and the experiences of the women interviewed with sensitivity and complicity. In
view of the question and the objective presented, what I argue in this dissertation is that: looking at
gender violence experienced by women in São Tomé and Príncipe requires looking at this violence as a
result of the production of historical relationships, among them those that produced gender to the extent
where it manifests itself in the social context. For theoretical and empirical support of this work,
documents were consulted, among which, scientific articles, opinion articles, books, dissertations related
to the theme, the Penal Code, laws, decrees, General Population and Housing Census, Demographic and
Health Survey, Constitution of the Republic of São Tomé and Príncipe. Then, semi-structured interviews
were carried out, suitable for the purposes of this investigation, allowing more targeted questions,
arranged by thematic points to be answered freely, but with a certain openness to other interventions
related to the research objectives. The study contemplates a narrative approach in which it consists of
understanding the experience in a collaborative process between researcher and subject, collecting
stories on a certain topic where the researcher will find information to understand a certain phenomenon.
In this way, the importance of this type of research is precisely in that look that turns to itself and helps
the subject to understand his formation processes and the influence of the context and the other in his
own formation or constitution. The results indicate that São Tomé and Príncipe still faces gender
coloniality and that domestic violence against women is not yet recognized socially as a crime. In many
cases, both men and women believe that certain behaviors on the part of women justify violence. Thus,
it concludes by advocating: that it is necessary to (re) creat e a multisectoral institutional confrontation,
which reaches several social dimensions, in order to promote the guarantees of a secure and autonomous
citizenship for girls / women; that it is necessary to teach women to know their rights over their bodies
and their lives: that it is necessary to focus on the education of boys / men so that they know how far
their right and, above all, the right of women go.