Abstract:
RESUMO
Esta dissertação examina os fenômenos das injustiças ambientais e da segregação socioespacial
na formação do espaço urbano de Picos, município situado no centro-sul do Piauí e reconhecido
como polo regional devido à sua importância para cidades adjacentes. A expansão urbana
desordenada, aliada às particularidades geológicas e geomorfológicas do município, resultou
em diferenciações socioespaciais e paisagísticas. Esse processo é acentuado pelo racismo
ambiental, que se manifesta na distribuição desigual e direcionamento de populações negras
para regiões estigmatizadas, economicamente desfavorecidas e altamente expostas a riscos e
vulnerabilidades socioambientais. O propósito central da pesquisa é analisar as regiões do
município com maior concentração de residentes negros e os mecanismos de racismos que
perpetuam estereótipos culturais, estabelecendo uma hierarquia urbana vinculada às injustiças
ambientais e segregação socioambiental. Esse estudo adota uma abordagem qualitativa,
interdisciplinar, fundamentada no materialismo histórico e dialético. Emprega análise empírica
e outros métodos de análise com foco em nuances particulares da realidade investigada,
revelando subjacentes questões raciais, ambientais e sociais, apontando ainda, para possíveis
transformações. A pesquisa se baseou, em sua fase inicial, em revisão teórica e documental,
englobando dados do IBGE de 2010 e do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Além disso,
utilizou-se de registros diários, através do diário de campo, entrevistas e conversas com
indivíduos familiarizados com o contexto social analisado, bem como de fotografias, imagens
e cartografia para uma análise sociológica mais aprofundada. Os resultados apontam que os
grupos étnico-raciais mais vulneráveis, durante a evolução do espaço urbano de Picos, foram
relegados a áreas onde as injustiças ambientais são prevalentes, enfrentando desafios como
inundações, deslizamentos e carência de infraestrutura urbana básica. Este cenário impede a
mobilidade social deste grupo, confinando-o a áreas marcadas por desigualdades
socioambientais. Tal enfoque, sugere ser necessário considerar o território sob uma perspectiva
racial, de cor, renda e classe como aspectos fundamentais para que seja compreendida a
diferenciação socioespacial e a exposição desigual da população negra do município às
injustiças ambientais em comparação com a população não negra da cidade, de modo que o
Poder Público e os agentes sociais superem as desigualdades nas condições sociais de vida da
população negra do município, entendidas como dimensão do racismo estrutural brasileiro.
ABSTRACT
This dissertation examines the phenomena of environmental injustices and socio-spatial
segregation in the formation of the urban space of Picos, a municipality located in the south-central part of Piauí and recognized as a regional hub due to its significance to neighboring
cities. The disorderly urban expansion, coupled with the geological and geomorphological
particularities of the municipality, led to socio-spatial and landscape differentiations. This
process is intensified by environmental racism, manifesting in the unequal distribution and
direction of Black populations to stigmatized areas, economically disadvantaged and highly
exposed to socio-environmental risks and vulnerabilities. The core purpose of the research is to
analyze the areas of the municipality with the highest concentration of Black residents and the
mechanisms of racism that perpetuate cultural stereotypes, establishing an urban hierarchy tied
to environmental injustices and socio-environmental segregation. This study adopts a
qualitative, interdisciplinary approach, grounded in historical and dialectical materialism. It
employs empirical analysis and other methods of evaluation focused on specific nuances of the
investigated reality, unveiling underlying racial, environmental, and social issues, and pointing
towards possible transformations. The research, in its initial phase, was based on theoretical
and documentary reviews, encompassing data from IBGE 2010 and the Geological Service of
Brazil (CPRM). Furthermore, it made use of daily records, through field diaries, interviews,
and conversations with individuals familiar with the analyzed social context, as well as
photographs, images, and cartography for a deeper sociological analysis. The results indicate
that the most vulnerable ethnic-racial groups, throughout the evolution of the urban space of
Picos, were relegated to areas where environmental injustices are prevalent, facing challenges
like flooding, landslides, and lack of basic urban infrastructure. This scenario impedes the social
mobility of this group, confining them to areas marked by socio-environmental disparities. Such
an approach suggests the necessity to consider the territory from a racial, color, income, and
class perspective as fundamental elements for understanding the socio-spatial differentiation
and the unequal exposure of the municipality's Black population to environmental injustices
compared to the non-Black population of the city, so that Public Authorities and social agents
can overcome the disparities in the social living conditions of the municipality's Black
population, understood as a dimension of Brazilian structural racism.