Abstract:
RESUMO
A modernidade-colonialidade produziu estereótipos de inferioridade e subalternidade quanto
aos não contemplados pelo ser masculino, branco, rico e europeu. Este trabalho foi
desenvolvido na Amazônia amapaense e produzido a partir das vozes das amazônicas Marilda
(in memoriam), Rejane e Sônia, protagonistas das narrativas de suas vidas. A pergunta de
pesquisa fundou-se no questionamento de como a territorialidade amazônica atravessa
interseccionalidades de gênero, raça e classe e particulariza a construção das histórias de vida
de mulheres racializadas pertencentes à Amazônia Amapaense para buscar as (in)conclusões
deste estudo. Seu objetivo consistiu em analisar, através da interseccionalidade, como as
opressões da ordem de gênero, raça, classe e territorialidade se intercruzaram nas trajetórias de
vida das protagonistas a partir de suas formações sócio-históricas individuais. O texto
dissertativo literário construiu-se a partir das vozes das narradoras, que me contaram suas vidas
em meio a um encontro presencial com Marilda (in memoriam) e dois encontros virtuais com
Rejane e Sônia. Por entender que a valorização da subjetividade seria imprescindível para criar
uma atmosfera natural quanto aos relatos das narradoras, vislumbrei no método narrativo o
instrumento possível para a fidelidade narrativa a seus olhares sobre suas histórias e o fato de
viverem em um país com feridas coloniais produtoras de racismo, sexismo, preconceitos
regionais etc. Na condução das entrevistas narrativas biográficas, um roteiro com temáticas que
abordaram pontos desde o nascimento até suas visões de futuro foram os fios condutores para
escuta e coleta de suas histórias. A interseccionalidade serviu como ferramenta analítica para
projeção das subalternidades e resistências enfrentadas pelas sujeitas de pesquisas no decorrer
de suas vidas. A subjetividade inerente ao estudo, pela ótica do vislumbre de que a inferioridade
produzida pelo projeto colonial moderno tem na voz do subalterno a força e legitimação de sua
(r)existência, alinhou-se a epistemologia decolonial, antirracista e feminista, a fim de, mesmo
na consciência de não ser o subalterno capaz de mudar o status quo do eurocentrismo nas
relações sociais e cientificas de ser, saber e poder, ser necessário a denotação de maior sentido
a produções acadêmicas a partir de escrevivências pensadas por Conceição Evaristo (2013).
Teóricas como Grada Kilomba (2019), Sueli Carneiro (2011), Angela Davis (2016), Piedade
Videira (2009), Zélia Amador de Deus (2020) e Catherine Walsh (2014) e autores como
Quijano (2009), Dussel (2005), Vieira (2016) e Souza (2002) fizeram coro com protestos de
artistas amazônicas como Gaby Amarantos (2020), Keila (2020) e Tami Martins (2020). Junto
às vozes das protagonistas foi possível apresentar vivências reais em uma Amazônia fora do
espectro colonial dominante, pensando esse território além de conceitos equivocados (“pulmão
do mundo”, “índio” e “mato”). Foi possível, então, vislumbrar uma Amazônia urbana,
encantada, pluricultural, afrofuturista, músico-instrumental... Quanto às suas (in) conclusões,
perceberam-se rastros coloniais responsáveis por introjetarem na mentalidade brasileira
negação e inferiorização de tudo que remeta às vivências divergentes do padrão eurocêntrico
colonial de existir. Re(x)istir resume o que Marilda, Regina e Sônia trouxeram enquanto cernes
para consolidação deste texto, responsável por eternizar suas memórias e transformá-las em
fontes pedagógicas anticoloniais imprescindíveis na continuidade de lutas estratégicas contra
opressões derivadas do projeto colonial europeu.
ABSTRACT
Coloniality modernity produced stereotypes of inferiority and subalternity for those who was
not contemplated by being "me" (colonial), male, white, rich and European. This work was
developed in the Amapa Amazon and produced from the racialized voices of the Amazonians
Marilda (in memoriam), Rejane and Sônia. The protagonists of the narratives of their lives, the
research question was based on the questioning of how the Amazonian territoriality crosses the
intersectionalities of gender, race and class, and particularizes the construction of the life stories
of racialized women belonging to the Amapaense Amazon, in order to seek the (in) conclusions
of the study in question. The objective was to analyze, through intersectionality, how
oppressions of the order of gender, race, class, and territoriality intersected in the life trajectories
of the protagonists, from their individual socio-historical formations. The literary dissertation
was built, in the field, from the voices of the narrators, who told me their lives in the midst of a
face-to-face meeting with Marilda (in memoriam) and two virtual meetings, respectively, with
Rejane and Sônia. By understanding that the valorization of subjectivity would be indispensable
to create a natural atmosphere regarding the narrators' accounts, I glimpsed in the narrative
method the possible instrument for the narratives to be faithful to their views about their
histories, within a spectrum of living in a country with colonial wounds that produce racism,
sexism, regional prejudices, etc. In conducting the biographical narrative interviews, a script
with themes that approached points ranging from birth to their visions of the future were the
guiding threads for listening and collecting their stories. Intersectionality served as an analytical
tool for projecting the subalternities and resistances faced by the research subjects throughout
their lives. The subjectivity inherent to the study, from the perspective of the glimpse that the
inferiority produced by the modern colonial project has in the voice of the subaltern the strength
and legitimation of its (r)existence, was aligned with the decolonial, antiracist, and feminist
epistemology, in order to, even in the awareness of not being the subaltern capable of changing
the status quo of eurocentrism in social and scientific relations of being, knowing and power, It
is necessary to denote greater meaning to academic productions from Latin American
experiences, a concept born in the light of the thought of Conceição Evaristo (2013). In closing,
the voices of theoreticians such as Grada Kilomba (2019), Sueli Carneiro (2011), Angela Davis
(2016), Piedade Videira (2009), Zélia Amador de Deus (2020), and Catherine Walsh (2014),
and authors such as Quijano (2009), Dussel (2005), Vieira (2016), and Souza (2002), were
joined by cries of protest from Amazonian artists such as Gaby Amarantos (2020), Keila (2020),
and Tami Martins (2020). Together with the voices of the protagonists, it was possible to present
real experiences in a different Amazon, outside of a dominant colonial spectrum of thinking
about this territory beyond empty concepts such as (lung of the world, backward place, place
of Indians and bush). On the contrary, a glimpse of an urban, enchanted, multicultural,
contemporary, afrofuturist, musician-instrumental Amazon, etc, etc, was possible. As for its
(in) conclusions, it was possible to glimpse the unveiling of colonial traces responsible for
introjecting into the Brazilian social mentality a negation and inferiorization of everything that
refers to the divergent experiences of a modern Eurocentric colonial standard of existence.
Re(s)ist, perhaps, summarizes what Marilda, Rejane and Sônia brought as primary sources for
the consolidation of this textual whole, responsible for eternalizing their memories and
transforming them into anti-colonial pedagogical sources that are indispensable in the
maintenance and continuity of strategic struggles against socio-structural oppressions derived
from the European colonial imperialist project.