Abstract:
RESUMO
Os Coletivos se apresentam como uma “nova” forma de mobilização de pessoas que atuam na
sociedade brasileira, na sua grande maioria, nas universidades e por meio digital, discutindo
temas relacionados a marcadores sociais de diferença, de gênero, de raça, educação,
sexualidade, classe, arte e urbanismo. Alguns estudos os apontam como grupos fluidos,
fragmentados, sem liderança, diferenciados, autônomos e sob a influência de ideias anarquistas
e libertárias, que se afastam do Estado, partidos políticos e de formas tradicionais de ações
coletivas. O objetivo deste trabalho é contribuir para a compreensão dos coletivos que se
formam na região Nordeste do Brasil, examinando a organização, os sujeitos, a composição e
a relação social com a sociedade, com o Estado e demais organizações tradicionais. A hipótese
desta pesquisa é: os coletivos seriam novas formas de ação ou extensões de movimento social
travestidos de novidade. Parte-se da suposição de que os coletivos se apresentam na literatura
como organizações “novas”, mas, empiricamente, observando suas pautas e demandas, eles
almejam os mesmos objetivos já reclamados historicamente por formas tradicionais de ações
coletivas, como movimentos sociais e partidos políticos. Eles adotam um perfil autonomista e
até mesmo anarquista, no qual buscam (ou não) o Estado para concretizar suas demandas, e
esse nível de relação pode depender das clivagens sociais que enfrentam enquanto sujeitos. Os
dados empíricos desta pesquisa foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas, com
sete coletivos de seis estados da região Nordeste, onde todos apresentam questões de classe
como pauta principal. Os resultados do estudo mostram que esse tipo de organização se tornou
preferível porque tem por base união e comunhão entre os participantes, sem a existência de
hierarquias, de formalizações institucionais, de dirigentes e regras que possam engessar o seu
funcionamento. As decisões são tomadas com base na deliberação democrática entre seus
membros; o perfil dos participantes depende dos outros marcadores sociais da diferença; nos
coletivos entrevistados eles se concentram em questões de gênero, raça e estudantil e; o número
de participantes não é fixo. Além desses resultados, que demonstram atribuições um tanto
“inovadoras”, é perceptível, nos coletivos pesquisados, a convivência entre passado e futuro,
pois mantêm relação com o Estado, movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos e ainda
acreditam na necessidade de atuação política em espaços públicos para alcançar seus objetivos
e promoverem mudanças. Os coletivos pesquisados na região Nordeste, aqui denominados de
classistas, vão de encontro a muitas características apontadas na literatura sobre essas
organizações. As novidades conferidas a eles estão mescladas de características antigas e
tradicionais, possível consequência da transição entre a modernidade e a pós-modernidade e a
necessidade de construção de paradigmas epistemológicos explicativos dessa sociedade pós-moderna, com olhar atento às questões locais, universais e particulares.
ABSTRACT
Collectives present themselves as a “new” form of mobilization of people working in Brazilian
society, mostly in universities and digitally, discussing themes related to social markers of
difference, gender, race, education, sexuality , class, art and urbanism. Some studies point to
them as fluid, fragmented groups, without leadership, differentiated, autonomous and under the
influence of anarchist and libertarian ideas, which distance themselves from the State, political
parties and traditional forms of collective action. The objective of this work is to contribute to
the understanding of the collectives that are formed in the Northeast Region of Brazil,
examining the organization, the subjects, the composition and the social relationship with
society, with the State and other traditional organizations. The hypothesis of this research is:
the collectives would be new forms of action or extensions of social movement dressed again.
It starts with the assumption that collectives present themselves in the literature as “new”
organizations, but, empirically, observing their agendas and demands, they aim at the same
objectives that have been historically claimed by traditional forms of collective actions, such as
social movements and political parties. . They adopt an autonomist and even anarchist profile,
where they seek (or not) the State to fulfill their demands, and this level of relationship may
depend on the social divides they face as subjects. The empirical data of this research were
collected through semi-structured interviews, with seven collectives from six states in the
Northeast region, where all present class issues as the main agenda. The results of the study
show that this type of organization has become preferable because it is based on unity and
communion among the participants, without the existence of hierarchies, institutional
formalizations, leaders and rules that may hamper its functioning. Decisions are made based on
democratic deliberation among its members; the profile of the participants depends on the other
social markers of the difference; in the collectives interviewed they focus on gender, race and
student issues and; the number of participants is not fixed. In addition to these results, which
demonstrate somewhat “innovative” attributions, it is noticeable in the researched collectives
experience between the past and the future, as they maintain a relationship with the State, social
movements, political parties, unions and still believe in the need for political action in public
spaces for achieve their goals and promote change. The collectives surveyed in the Northeast
region, here called classists, go against many characteristics pointed out in the literature about
these organizations. The novelties conferred to them are mixed with ancient and traditional
characteristics, a possible consequence of the transition between modernity and postmodernity
and the need to build epistemological paradigms that explain this postmodern society, with a
watchful eye on local, universal and particular issues.