Abstract:
RESUMO: Ao longo dos anos, a hanseníase tem se apresentado como uma doença associada a fatores
negativos, de caráter estigmatizante, o que influencia a permanência dessa enfermidade como
uma questão de saúde pública. Diante disso, o objetivo geral deste estudo foi analisar como o
estigma tem contribuído para os resultados obtidos na execução das políticas de combate e
controle da hanseníase em Teresina, na fase pós-isolamento compulsório (1976-2000). A
presente pesquisa estabeleceu como objetivos específicos: investigar como a cidade de Teresina
insere-se no contexto de mudanças de políticas sanitárias nacionais, considerando as
modificações no sistema nacional de saúde durante o período em estudo; discutir os
desdobramentos históricos das políticas sanitárias que se redefiniram, após a abertura dos
leprosários; debater como as políticas nacionais e locais de combate à hanseníase relacionam-se com o estigma; examinar o papel do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela
Hanseníase (Morhan) no fomento de políticas de controle da hanseníase e assistência ao doente.
Quanto à bibliografia, o enfoque deu-se sobre as discussões atreladas às políticas de saúde no
país, em particular sobre aquelas relacionadas com a doença, tanto no âmbito local como
nacionalmente, no recorte proposto. Dessa forma, recorreu-se a autores como Valtéria
Alvarenga (2013), Keila Carvalho (2012), Gilberto Hochman (1998), Laurinda Maciel (2007),
Dilene Nascimento (2005). As contribuições teóricas de Norbert Elias (1993) também foram
importantes, em especial, sobre o processo civilizador e como as características sociais dos
indivíduos vão sendo modificadas, no decorrer do tempo. Da mesma forma, foram de grande
relevância os estudos de Erving Goffman (1988) sobre como o estigma incide sobre as relações
sociais. Por se tratar de uma pesquisa com recorte temporal próximo, levou-se em consideração
os debates sobre História do Tempo Presente, utilizando como base Agnés Chauveau e Philippe
Tétart (1999). Nesse particular, a pesquisa abordou o estigma atrelado à hanseníase e como este
afeta o contexto teresinense. Dessa maneira, considerou-se os estudos sobre cidade, tendo como
referência Raquel Rolnik (1995) e Italo Calvino (1990), além dos aspectos acerca da memória,
utilizando-se autores como Maurice Halbwachs (2006), Pierre Nora (1993), Michael Pollak
(1989) e Jacy Seixas (2004). Vale, ainda, ressaltar que as noções sobre espaço e lugar procedem
da obra de Michel de Certeau (1990). Quanto à metodologia, trata-se de pesquisa qualitativa,
com ênfase em aspectos subjetivos e socioculturais relacionados às políticas e ações de
movimentos sociais, a exemplo do Morhan. Em relação às fontes, elas são bastante
diversificadas: relatórios, legislação, fotografias, entrevistas, jornais, dentre outras. Dito isso,
constituiu-se de natureza bibliográfica e documental, com a utilização da metodologia de
história oral. Por fim, constatou-se que as mudanças no tratamento de combate à doença foram
positivas para a redução da incidência, porém não o suficiente para o cumprimento da meta de
eliminação da doença, uma vez que a hanseníase esteve fortemente ligada a aspectos
socioculturais que dificultam a concretização dessa meta, como é o caso do estigma.
ABSTRACT: Over the years, leprosy has been presented as a disease associated with negative factors, of a
stigmatizing aspect, influencing the permanence of that illness as a public health issue. That
said, the general objective of this study was analyze how the stigma has contributed to the
results obtained in the execution of the combat and control policies of leprosy in Teresina,
during the compulsory post-isolation phase (1976-2000). The present research stablished the
following specific objectives: investigate how the Teresina city is inserted in the context of
changes of national health policies, considering the modifications in the national health system
during the studied period; discuss the historical developments of the sanitary policies that have
been redefined, after the installation of the leprosy hospital; debate how the national and local
combat polices against leprosy are related to the stigma; examine the role of the Movement for
the Reintegration of People Affected by Leprosy (Morhan) in promoting leprosy control
policies and patient care. About the bibliography, the study focused on the discussions linked
to health policies in the country, especially those related to the disease, both locally and
nationally, in the proposed time frame. In this way, the study dialogued with authors such as
Valtéria Alvarenga (2013), Keila Carvalho (2012), Gilberto Hochman (1998), Laurinda Maciel
(2007), Dilene Nascimento (2005). The theoretical contributions of Norbert Elias (1993) were
also important, in particular, about the civilizing process and how the social characteristics of
individuals are being modified, over the years in the course of time. In the same way, of great
relevance were the studies of Erving Goffman (1988) about how the stigma affects the social
relationships. Since it is a research with a close time frame, it considered the discussions about
History of the Present Time, using as base Agnés Chauveau and Philippe Tétart (1999). In this
particular, the research analyzed the stigma coupled up to the leprosy and how it affects the
context in Teresina. Thus, it considered studies about city, having as reference Raquel Rolnik
(1995) and Italo Calvino (1990), besides aspects about memory, using authors such as Maurice
Halbwachs (2006), Pierre Nora (1993), Michael Pollak (1989) and Jacy Seixas (2004). It is also
worth mentioning that the notions about space and place come from the work by Michel de
Certeau (1990). Regarding to the methodology, it is a qualitative research, with an emphasis on
subjective and sociocultural aspects related to policies and actions of social movements such as
Morhan. In relation to the sources, they are very diversified: reports, legislation, photographs,
interviews, newspapers, among others. Said that, the research was constituted of bibliographical
and documentary nature, with the utilization of the oral history methodology. Finally, it was
found that the changes in disease treatment were positive to the reduction in its incidence, but
not enough to meet the goal of eliminating the disease, since the leprosy was strongly linked to
sociocultural aspects that make it difficult to achieve the goal, as is the case of the stigma.