Abstract:
RESUMO Intervenções dietéticas como restrição calórica, jejum e dieta cetogênica tem sido propostas como terapia metabólica para o tratamento do câncer. Isso se deve ao fato de que as células cancerosas são altamente dependentes do metabolismo glicolítico (efeito Warburg) e a escassez energética pode sensibilizar os tumores à quimioterapia. No entanto, ainda não está completamente esclarecido se a restrição dietética pode trazer benefícios no tratamento do câncer hepático. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito das dietas restritivas em comparação com a alimentação livre (ad libitum) no desenvolvimento e progresso do câncer hepático em modelos pré-clínicos in vivo. Para isso, a pesquisa foi desenvolvida nas bases de dados Pubmed, Scopus e Web of Science. Os ensaios pré-clínicos foram incluídos se realizados em modelos animais de câncer hepático submetidos a uma das intervenções dietéticas restritivas e se avaliassem desfechos relacionados à iniciação, crescimento e metástase do tumor de fígado. Os estudos foram selecionados de forma independente por dois cientistas usando o software Rayyan e avaliados quanto ao viés com a ferramenta SYRCLE. A meta-análise foi realizada através do software Review Manager (RevMan) da Colaboração Cochrane, com o modelo de efeitos aleatórios e o método do inverso da variância. Foram incluídos 19 ensaios pré-clínicos in vivo desenvolvidos entre 1983 e 2020. Destes, 63,2% investigaram a restrição calórica com diferentes percentuais (20%, 30%, 32%, 40% e 50%), 21% utilizaram a dieta cetogênica e 15,8% analisaram o efeito do jejum. O tempo de intervenção variou entre 48 horas e 221 semanas. Na análise qualitativa, foi verificado se a intervenção poderia reduzir a incidência e o progresso do tumor. No entanto, apenas um estudo verificou efeitos positivos das estratégias dietéticas sobre a ocorrência de metástase. A meta-análise mostrou que há uma menor probabilidade de desenvolver câncer de fígado ao seguir uma dieta restritiva e que essas estratégias dietéticas podem diminuir o tamanho do tumor no fígado. Além disso, foi constatado que a restrição calórica por um período de até 1 ano está relacionada à redução da incidência de câncer hepático. Portanto, os resultados da revisão são coerentes com a hipótese de que as dietas restritivas têm uma associação protetora contra o desenvolvimento de câncer de fígado, sugerindo que a adoção dessas abordagens nutricionais pode oferecer benefícios adicionais no tratamento do câncer.
ABSTRACT Dietary interventions, such as calorie restriction, intermittent fasting, and the ketogenic diet, have been proposed as metabolic therapies for cancer treatment. This is because cancer cells are highly dependent on glycolytic metabolism (the Warburg effect), and energy scarcity can sensitize tumors to chemotherapy. However, it is not yet fully clarified if the dietary restriction can benefit the treatment of liver cancer. Therefore, the objective of this work was to evaluate the effect of restrictive diets in comparison to free feeding (ad libitum) on the development and progression of liver cancer in preclinical in vivo models. To do this, the research was developed in the databases Pubmed, Scopus, and Web of Science. Preclinical trials were included if they had been conducted in animal models of liver cancer submitted to one of the restrictive dietary interventions and if they evaluated outcomes related to the initiation, growth, and metastasis of the liver tumor. Using the Rayyan software, two scientists independently selected the studies, and the SYRCLE tool checked them for bias. The meta-analysis was performed through the Review Manager (RevMan) software of the Cochrane Collaboration with the random effects model and the inverse variance method. Nineteen in vivo preclinical trials developed between 1983 and 2020 were included. Of these, 63.2% investigated calorie restriction with different percentages (20%, 30%, 32%, 40%, and 50%), 21% used the ketogenic diet, and 15.8% analyzed the effect of fasting. The intervention time varied between 48 hours and 221 weeks. In the qualitative analysis, it was verified if the intervention could reduce the incidence and progression of the tumor. However, only one study verified the positive effects of dietary strategies on the occurrence of metastasis. The meta-analysis revealed that there is a significantly lower risk of developing liver cancer when using a restrictive diet and that these dietary strategies reduce the hepatic tumor volume. Furthermore, it was found that calorie restriction implemented for a period equal to or less than 1 year is associated with a reduction in the incidence of liver cancer. Therefore, the findings of the review are consistent with the hypothesis that restrictive diets have a protective association against the development of liver cancer, suggesting that the implementation of these nutritional approaches may provide an additional beneficial effect to oncological treatment.