Abstract:
RESUMO
Esse trabalho busca se debruçar sobre as apropriações que o cinema brasileiro fez da literatura
de Jorge Amado, principalmente do ano de 1962-1977, período que as relações entre literatura
e cinema se deram de forma ainda mais intensa. Um fator em comum entre a literatura amadiana
e o cinema nacional está no impacto que o pensamento sobre a identidade nacional manteve
fortes relações com a leitura de Gilberto Freyre. A partir de 1965 o ideal de uma nação mestiça
se torna parte do próprio pensamento oficial da Ditadura militar, tornando-se elemento da
proposta de cultura oficial do regime. Essa dissertação tem por objetivo escrutinar as
apropriações que os cineastas brasileiros fizeram da produção literária de Amado na
tematização dos filmes envolvendo a representação do negro e sua cultura que acabou
desencadeando a inserção de topos como “raça” e etnia na cinematografia nacional.
Estabelecemos particular centralidade no romance Tenda dos Milagres (1969) e sua adaptação
para o cinema pelas lentes de Nelson Pereira dos Santos em 1977, uma vez que foi nesse período
que a adesão por parte do cinema ao modelo miscigenado proposto por Amado recebeu
contornos cada vez mais nítidos. A princípio, nossa discussão parte da hipótese de que os
começos do contato de Jorge Amado com o cinema já se davam pela centralidade que seus
romances empregavam na politização do personagem negro, em que este representava o signo
do “povo brasileiro explorado”, compreensão cara aos projetos cinematográficos de meados
dos anos 1950 e idos de 1960. Chegado os anos 1970, as proposições de um “cinema popular”
tomam sentidos diferentes, onde a celebração da cultura negra passa a se associar ao processo
de uma identidade mestiça, fato que concorreu para a constituição de uma crítica negativa
advinda das novas leituras raciais e representações propostas, principalmente, pelo movimento
negro contemporâneo.
ABSTRACT
This work seeks to focus on the appropriations that Brazilian cinema made of Jorge Amado's
literature, mainly from the year 1962-1977, a period in which the relations between literature
and cinema were even more intense. A common factor between Amadian literature and national
cinema is the impact that thinking about national identity has maintained strong relationships
with the reading of Gilberto Freyre. From 1965 onwards, the ideal of a mestizo nation became
part of the official thinking of the military dictatorship, becoming an element of the regime's
official culture proposal. This dissertation aims to scrutinize the appropriations that Brazilian
filmmakers made of Amado's literary production in the thematization of films involving the
representation of black people and their culture that ended up triggering the insertion of topos
such as "race" and ethnicity in national cinematography. We establish a particular centrality in
the novel Tenda dos Milagres (1969) and its adaptation for the cinema through the lens of
Nelson Pereira dos Santos in 1977, since it was in this period that the adhesion by the cinema
to the miscegenated model proposed by Amado received contours each time sharper. At first,
our discussion starts from the hypothesis that the beginnings of Jorge Amado's contact with
cinema were already due to the centrality that his novels employed in the politicization of the
black character, in which he represented the sign of the "explored Brazilian people", a dear
understanding to the cinematographic projects of the mid-1950s and 1960s. When the 1970s
arrived, the propositions of a “popular cinema” took on different meanings, where the
celebration of black culture became associated with the process of a mestizo identity, a fact that
contributed to for the constitution of a negative criticism arising from the new racial readings
and representations proposed, mainly, by the contemporary black movement.