Abstract:
RESUMO:
As performances dês/das jovens transvestigêneres se materializam na relação dos jogos de
poder que desejam instituir a cisheterossexualidade como norma. Neste sentido, as
corporalidades e subjetividades dês/das jovens transvestigêneres carregam as marcas das
práticas heterogêneas de poder exercidas pelas diversas instituições como família, escola,
Estado, igreja e a Universidade. A presente pesquisa, numa abordagem cartográfica,
acompanhou os processos de subjetivações e resistência vividos por jovens transvestigêneres
em duas universidades públicas localizadas na cidade de Teresina-PI. Pesquisa da Andifes
revela que pessoas transvestigêneres representam apenas 0,8% dos estudantes em instituições
públicas de ensino superior, sendo 0,1% de Mulheres Trans*, 01% de Homens Trans* e 0,6%
de pessoas não-binárias, contudo a categoria travesti não é usada na pesquisa. De outro lado,
sobre as juventudes, os dados da ANTRA (2021) apontam, que 5% das vítimas de transfobia
letal tinham entre 13 e 17 anos e 53% das vítimas tinham entre 18 e 29 anos, de modo que a
idade média das vítimas era de 29,3 anos e, em grande maioria, as vítimas são negras e
performam identidades transvestigêneres femininas (travestis ou mulheres transexuais). Dessa
forma, a pesquisa justifica-se na perspectiva de conhecer as histórias dês/das jovens
transvestigêneres que conseguem se inserir em universidades, apesar das dificuldades impostas
pelo preconceito social, pelo risco de mortalidade apontado pela ANTRA, pretendendo-se,
então, desvelar que desafios e táticas de permanência são experimentados por estes jovens desde
a universidade. Para tanto, a pesquisa busca refletir sobre as seguintes questões: Quais os
problemas e dificuldades atravessam as performances dês/das jovens transvestigêneres na
universidade? Quais táticas são criadas e utilizadas por jovens transvestigêneres para sua
permanência na universidade? Que modos de educação as performances dês/das jovens
transvestigêneres criam no processo de afirmação de seus gêneros na universidade? A partir
dessas questões problematizadoras, a pesquisa tem por objetivo: Cartografar os modos de
educar que as performances dês/das jovens transvestigêneres criam dentro das universidades a
partir do confronto com as normas regulatórias de gênero. No que tange aos aspectos
metodológicos, a pesquisa assumiu a perspectiva cartográfica por esta abordagem possibilitar
um mergulho nas subjetividades transvestigêneres, com o intuito de perceber, acompanhar,
descrever e analisar as linhas de subjetividades que compõem as corporalidades
transvestigêneres em suas relações com a universidade. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 5 jovens transvestigêneres (homens trans* e pessoas não-binárias)
universitáries da Universidade Federal do Piauí e da Universidade Estadual do Piauí. Embora
tenha se realizado entrevista com travestis, nenhuma delas atendia ao critério de ser jovem (15
a 29 anos) e universitária, dado revelador sob os modos pelos quais a transfobia possui uma
incidência mais violenta neste segmento. As entrevistas fazem parte de um conjunto maior de
dados produzidos durante a realização do “Estudo Nacional sobre os Perfis Travestis e
Transexuais” executado pelo Observatório da Saúde LGBT, do Núcleo de Estudos em Saúde
Pública da Universidade de Brasília (NESP/UnB), no qual atuei como pesquisadora responsável
pelos dados do Piauí. A partir das análises realizadas percebe-se que, o nome social, apesar de
ser um direito assegurado por normativa interna das universidades, sofre um processo demorado
e burocrático de efetivação com pouca informação disponível. O banheiro é outra problemática
vivida, uma vez que ês jovens sentem receio de utilizá-lo de acordo com suas identidades de
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gênero. Tanto a demanda do nome social como do banheiro requerem mudanças institucionais
como a criação de protocolo específico para a solicitação de inclusão de nome social e
campanhas educativas sobre a importância do nome social e da utilização dos banheiros, de
acodo com a identidade de gênero. Percebe-se que Pedagogia do Cansaço coloca ês jovens
transvestigêneres em exaustão por exercerem o tempo todo uma função educativa acerca de
suas identidades e direitos. Para garantir sua permanência na universidade dês jovens
transvestigêneres utilizam as seguintes táticas de Trans(r)es(x)istências: Transcentrar suas
relações fortalecendo amizades com outres/as transvestigêneres; participar ou ter como
referência coletivos sociais que produzem ações políticas e educativas; interagir com outres/as
jovens transvestigêneres a partir de grupos de Whatsapp e outras redes sociais trocando
informações e afetos. A partir da cartografia desenhada por meio das entrevistas realizadas,
entendeu-se que os jovens enfrentam inúmeros desafios para existir nas instituições de ensino
superior, uma existência que só é possível a partir da Trans(r)es(x)istências.
ABSTRACT:
The performances of young transvestigêneres materialize in relation to the power games that
wish to establish cisheterosexuality as a norm. In this sense, the corporalities and subjectivities
of young transvestigêneres carry the marks of the heterogeneous practices of power exercised
by different institutions such as family, school, State, church, University. The present research,
in a cartographic approach, accompanies the processes of subjectivations and resistance
experienced by young transvestigêneres in two public universities located in the city of
Teresina-PI. ANDIFES research reveals that transgender people represent only 0.8% of
students in public institutions of higher education, with 0.1% of Trans* Women, 01% of Trans*
Men and 0.6% of non-binary people, the travesti category is not used in the search. On the other
hand, regarding youths, data from ANTRA (2021) indicate that 5% of victims were between 13
and 17 years old and 53% victims were between 18 and 29 years old, so that the average age of
victims was 29 ,3 years, the vast majority of victims are black and perform female transgender
identities (travesti or transgender women). In this way, the research is justified from the
perspective of knowing the stories of transvestigêneres young people who manage to enter
universities, despite the difficulties imposed by social prejudice, by the risk of mortality pointed
out by ANTRA, it is then intended to reveal what challenges and Permanence tactics are
experienced by these young people since university. Therefore, the research seeks to reflect on
the following questions: What are the problems and difficulties that cross the performances of
young transvestigêneres at the university? What tactics are created and used by
transvestigêneres young people to stay at university? What modes of education do the
performances of young transvestigêneres create in the process of affirming their genders at the
university? From these problematizing questions, the research aims to: Map the ways of
educating that the performances of young transvestite genders create within universities from
the confrontation with regulatory norms of gender. With regard to methodological aspects, the
research assumes a cartographic perspective, as this approach enables a dip into
transvestigêneres subjectivities, in order to perceive, monitor, describe and analyze the lines of
subjectivities that make up transvestite corporalities in their relations with the university. Semistructured interviews were conducted with 5 young transvestigêneres (trans* men and nonbinary people) university students at the Federal University of Piauí and the State University of
Piauí. Although an interview was carried out with transvestites, none of them met the criteria
of being young (15 to 29 years old) and university student, revealing data on the ways in which
transphobia has a more violent incidence in this segment. The interviews are part of a larger set
of data produced during the “National Study on Transvestite and Transgender Profiles” carried
out by the LGBT Health Observatory of the Center for Studies in Public Health at the University
of Brasília (NESP/UnB), in which I acted as the researcher responsible for the data in Piauí.
From the analyzes carried out, the social name, despite being a right guaranteed by internal
regulations of universities, undergoes a lengthy and bureaucratic process of effectiveness with
little information available. The bathroom is another problem experienced, since these young
people are afraid to use it according to their gender identities. Both the demand for the social
name and the bathroom requires institutional changes such as the creation of a specific protocol
for requesting the inclusion of the social name and educational campaigns on the importance of
the social name and the use of bathrooms based on gender identity. It is noticed that Pedagogy
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of Tiredness puts these transvestite young people to exhaustion because they constantly exercise
an educational function about their identities and rights. In order to guarantee their permanence
in the university, transvestite youths use the following Trans(r)es(x)istences tactics:
Transcentrar their relationships by strengthening friendships with other transvestigêneres;
participate in or have as a reference social collective that produce political and educational
actions; interact with or three young transvestigêneres through WhatsApp groups and other
social networks, exchanging information and emotions. From the cartography drawn through
the interviews, it is understood that young people face numerous challenges to exist in higher
education institutions, an existence that is only possible from Trans(r)es(x)istências