OCORRÊNCIA DE INFECÇÕES ENTRE PACIENTES EM ASSISTÊNCIA DOMICILIAR: subsídios para a vigilância epidemiológica

Abstract

RESUMO: Introdução: modelos de assistência à saúde envolvendo a internação em domicílio é uma realidade viável no Brasil e no mundo. Duas das vantagens apontadas desse modelo de assistência é reduzir o risco para infecções por cepas resistentes a multidrogas e o custo para os sistemas de saúde. A diversidade de condições socioeconômicas-sanitárias e as dificuldades de monitoramento dos agravos vivenciados nos domicílios incita uma investigação epidemiológica para conhecer as possíveis ameaças infecciosas que o modelo de internação domiciliar possa oferecer. Objetivo: avaliar a ocorrência de infecção relacionada à assistência à saúde e principais fatores associados em pacientes assistidos pelas Equipes Multiprofissionais de Atenção Domiciliar e, assim contribuir com o processo de vigilância epidemiológica e segurança do paciente. Método: estudo seccional,com coleta retrospectiva realizado no município de Teresina, com uma amostra censitária de 130 prontuários de pacientes assistidos em domicílio com dados relativos ao recorte temporal de abril de 2016 a julho de 2020. A coleta das informações envolveu aplicação de instrumento construído e validado em face e conteúdo para esta pesquisa e ocorreu de agosto a setembro de 2020. Para análise estatística utilizou-se software Statistical Package for the Social Sciences, versão 22.0. Foi realizada análise univariada, por meio de distribuição de frequências. Para investigar evidências de associações utilizou-se o Teste Exato de Fisher e o Teste U-deMann Whitney para análise de comparação. Foi realizada regressão logística de Poisson para verificar razões de chance. O nível de significância adotado para as análises foi de 0,05. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Piauí. Resultados: O estudo evidenciou um público com a maioria de idosos (≥ 60 anos) (53,1%), do sexo masculino (53,1%), cor parda (65,8%), sem cônjuge (61,1%), entre 1-9 anos de estudo (47,2%), com cuidador do sexo feminino (83,2%). A taxa de ocorrência estimada de infecções foi de 46,2%, sendo as topografias mais frequentes: sistema respiratório (47,2%), urinário (32,4%), tegumentar (8,1%) e gastrointestinal (6,8%). As variáveis associadas foram o sexo do cuidador (OR=6,611; IC95%-1,826-23,933), uso de traqueostomia (OR=4,335;IC95%-1,045- 17,977), grau de dependência (OR= 3,892;IC95%- 1,123-12,483), tempo de uso de dispositivo invasivo para alimentação (OR=15,044; IC95%- 2,759-82,033). Outras variáveis analisadas foram a reincidência infecciosa com 37,3% e reinternações hospitalares por infecções 33,3%. A análise comparativa evidenciou que o tempo de assistência domiciliar e o uso de traqueostomia foram decisivos na ocorrência de infecção. Conclusão: a taxa de ocorrência de infecções foi alta e foram encontradas associações com sexo do cuidador e o perfil clínico dos pacientes. O serviço de assistência domiciliar precisa se articular melhor dentro da rede de saúde, reduzindo o longo tempo de espera dos pacientes por procedimentos realizados em outros serviços. Reitera-se ainda a necessidade de protocolos que orientem as práticas dos profissionais de saúde sobre prevenção, controle e manejo das infecções na assistência domiciliar e um olhar especial dos profissionais de saúde para com o cuidador.

ABSTRACT: Introduction: health care models involving home care is a viable reality in Brazil and worldwide. Two of the pointed advantages of this model of assistance is to reduce the risk for infections with resistant multidrug strains and the cost for health systems. The diversity of socioeconomic-sanitary conditions and the difficulties in monitoring the health problems experienced in households prompt an epidemiological investigation to find out about the possible infectious threats that the model of home care can offer. Objective: to evaluate the occurrence of infection related to health care and main associated factors in patients assisted by the Multiprofessional Home Care Teams and, thus, contribute to the process of epidemiological surveillance and patient safety. Method: observational / sectional study, retrospective carried out in the city of Teresina with a census sample of 130 medical records of patients assisted at home with data related to the time frame from April 2016 to July 2020. The collection of information involved the application of an instrument constructed and validated in face and content for this research and it took place from August to September 2020. Statistical Package for the Social Sciences software, version 22.0, was used for statistical analysis. Univariate analysis was performed, using frequency distribution. To investigate evidence of associations, Fisher's Exact Test and Mann Whitney's U-Test were used for comparison analysis. Poisson logistic regression was performed to check odds ratios. The level of significance adopted for the analyzes was 0.05. The study was approved by the Ethics Committee of the Federal University of Piauí. Results: The study showed an audience with the majority of elderly (≥ 60 years), male (53.1%), (53.1%), brown (65.8%), without a spouse (61.1 %), between 1-9 years of study (47.2%), with a female caregiver (83.2%). The estimated rate of occurrence of infections was 46.2%, with the most frequent topographies: respiratory system (47.2%), urinary system (32.4%), integumentary system (8.1%) and gastrointestinal (6.8 %). The associated variables were the caregiver's gender (OR = 6.611; 95% CI - 1.826-23.933), use of tracheostomy (OR = 4.335; 95% CI - 1.045-17.977), degree of dependence (OR = 3.892; 95% CI - 1.113- 12,483), time of use of invasive device for feeding (OR = 15,044; 95% CI - 2,759-82,033). Other variables analyzed were infectious recurrence with 37.3% and hospital readmissions for infections 33.3%. The comparative analysis showed that the time of home care and the use of tracheostomy were decisive in the occurrence of infection. Conclusion: the rate of occurrence of infections was high and associations were found with the sex of the caregiver and the clinical profile of the patients. The home care service needs to articulate better within the health network, reducing the long waiting time for patients for procedures performed in other services. There is also a need for protocols to guide health professionals' practices on prevention, control and management of infections in home care and a special look from health professionals towards the caregiver.