Abstract:
RESUMO: Os mercados constituem espaço privilegiado inerente ao patrimônio etnobiológico, sendo possível conhecer os produtos da sociobiodiversidade e da diversidade biológica, de uma região nas diferentes formas de apropriação. Na pesquisa buscou-se responder como é construído o etnoconhecimento sobre os produtos da sociobiodiversidade nos mercados públicos de Teresina, Piauí. Partiu-se do pressuposto de que há trocas de informações no processo de comercialização e consequentemente, os permissionários disseminam conhecimento e saber nesses locais. Diante da necessidade em trazer informações sobre os usos de produtos da sociobiodiversidade, por meio da valorização do conhecimento local sobre os recursos biológicos disponíveis nos mercados Laurindo Veloso, Dirceu Arcoverde I, Tersando Paz, Piçarra e São José, objetivou-se verificar o aspecto etnobotânico das espécies que constituem os produtos da sociobiodiversidade. Especificadamente procurou-se investigar a realidade socioeconômica dos permissionários; verificar a diversidade de plantas medicinais, além de conhecer e registrar os usos que constituem os produtos da sociobiodiversidade. Os dados foram analisados quali-quantitativamente, por meio de rapport, lista livre, entrevistas com emprego de formulários semiestruturados, índices de Diversidade de Shannon-Wiener, Consenso do Informante, Diagrama de Venn e análise da Rede de Interação. O total de 48 permissionários (as) participaram da pesquisa (39 mulheres e 9 homens), com predominância nas faixas etárias de 50 a 59 anos (20,8%), 60 a 69 (18,7%) e acima de 69 anos (31,3%). A atividade nos mercados não foi mencionada como a principal renda, é uma complementação pelos proventos recebidos, especialmente do Governo Federal (87,2%). Registraram-se 115 espécies, distribuídas em 48 famílias, sendo Fabaceae (15), Lamiaceae e Solanaceae (8) e Malvaceae (6) as mais representativas, com predomínio para espécies nativas (51,2%). Estratificou-se em cinco categorias úteis: medicinal; alimentícia, cosmético, construção e artesanal, sobressaiu-se a medicinal (70,17%). Em relação a essa categoria, as partes das plantas mais citadas foram as folhas (37,5%), e as principais formas de comercialização são plantas secas, in natura, ou produtos beneficiados. Dentre as principais afecções tratadas por meio do uso de plantas medicinais, as mais expressivas apresentaram para doenças infecciosas, virais e do aparelho respiratório. Registraram-se as 10 espécies que, possuem maior importância mercadológica: Dysphania ambrosioides (L.) Mosyakin & Clemants, Ximenia americana L., Myracrodruon urundeuva M. Allemão, Zingiber officinale Roscoe., Allium cepa L., Eucaluptus globulus Labill., Mentha villosa Huds., Punica granatum L., Pneumus boldus Molina e Amburana cearenses (Allemão) A. C. Sm. O Índice de Diversidade de Shannon-Wiener variou (H’=0,99 a 1,25) entre os mercados. Para a similaridade botânica foi constatada nos mercados do Mafuá e da Vermelha a maior presença (9 spp) e na rede de interação o Mercado da Piçarra concentrou-se o maior número de espécies de uso alimentício (61,6%). A atividade de comercialização dos produtos da sociobiodiversidade envolve uma rede que engloba uma cadeia com os atores bem definidos. Nenhum dos investigados cultiva as espécies comercializadas, ou atua como coletor destas espécies, limitam-se a venda dos produtos. Os comerciantes de plantas medicinais desempenham importante papel socioeconômico no município, pois a utilização destas reduz e, muitas vezes chegam a eliminar gastos com medicamentos farmacêuticos. Por outro lado, não há um padrão mínimo de qualidade e nem uma fiscalização sanitária e ambiental, sendo necessária a implantação de políticas públicas para a capacitação destes profissionais, agregando valor ao saber popular sobre plantas medicinais. O aprendizado sobre o uso das plantas veio do seio familiar, caracterizando o conhecimento horizontal, descartando a hipótese levantada.
ABSTRACT: Markets constitute a privileged space inherent to the ethnobiological heritage, making possible to know products of sociobiodiversity and biological diversity of a region in different forms of appropriation. This research aimed to answer how ethnoknowledge is built on sociobiodiversity products in public markets in Teresina, Piauí. It assumed there is an exchange of information in the commercialization process and, consequently, permit holders disseminate knowledge and wisdom in these places. Given the need of bringing information on the uses of products from sociobiodiversity, by valuing local knowledge about biological resources available in markets of Laurindo Veloso, Dirceu Arcoverde I, Tersando Paz, Piçarra and São José, the objective was to verify the ethnobotanical aspect of the species that constitute the products of biodiversity. Specifically, this study aimed to investigate the socioeconomic reality of permit holders, to verify the diversity of medicinal plants, in addition to knowing and recording uses that constitute the products of sociobiodiversity. Data were analyzed quali-quantitatively, through rapport, free list, interviews using semi-structured forms, Shannon-Wiener Diversity index, Informant Consensus Factor, Venn Diagram and Interaction Network analysis. A total of 48 permit holders participated in the survey (39 women and 9 men), with a predominance in the age groups of 50 to 59 years (20.8%), 60 to 69 (18.7%) and over 69 years (31.3%). Activity in the markets was not mentioned as the main income, but as a complement to the earnings received, especially from the Federal Government (87.2%). 115 species were registered, distributed in 48 families, being Fabaceae (15), Lamiaceae/Solanaceae (8) and Malvaceae (06) the most representative, with predominance for native species (51.2%). It was stratified into five useful categories: medicinal, food, cosmetic, construction and handicraft, in which medicinal one stood out (70.17%). Regarding this category, the parts of the plants most cited were leaves (37.5%), and the main forms of commercialization are dried plants, in natura or processed products. Among the main conditions treated using medicinal plants, the most expressive were infectious, viral and respiratory diseases. The 10 species that have the greatest market importance were registered: Dysphania ambrosioides (L.) Mosyakin & Clemants, Ximenia americana L., Myracrodruon urundeuva M. Allemão, Zingiber officinale Roscoe., Allium cepa L., Eucaluptus globulus Labill., Mentha villosa Huds., Punica granatum L., Pneumus boldus Molina and Amburana cearenses (Allemão) AC Sm. The Shannon-Wiener Diversity Index varied (H’=0.99 to 1.25) between markets. For botanical similarity, the largest presence was found in Mafuá and Vermelha markets (9spp), and regarding the interaction network, Piçarra market concentrated the largest number of species for food use (61.6%). The commercialization of sociobiodiversity products involves a network that includes a chain with well-defined actors. None of the investigated cultivate the commercialized species or work collecting these species, since they are limited to selling the products. The traders of medicinal plants play an important socioeconomic role in the city, since using these products reduces and even eliminate expenses with pharmaceutical drugs. On the other hand, there is neither a minimum quality standard nor a sanitary and environmental inspection, and it is necessary to implement public policies for the training of these professionals, adding value to popular knowledge about medicinal plants. Learning about the use of plants came from the family, characterizing horizontal knowledge, discarding the hypothesis raised.