SEXUALIDADE PÓS-LESÃO MEDULAR: a percepção de mulheres em Teresina - Piauí

Abstract

RESUMO: Introdução: A sexualidade da mulher está relacionada a aspectos que vão muito além do ato sexual. Envolve toda a complexidade do ser humano, e integra sentimentos, feminilidade, desejo sexual, autoestima e subjetividade. A lesão medular pode afetar aspectos físicos, psicológicos e socioculturais da sexualidade nas mulheres acometidas por esta deficiência. Objetivo: Conhecer o impacto da lesão medular na sexualidade de mulheres atendidas no Centro Integrado de Reabilitação (CEIR), em Teresina, PI. Métodos: Pesquisa do tipo descritiva, exploratória, de abordagem qualitativa. A amostra foi composta por mulheres selecionadas por conveniência. Foram realizadas 15 entrevistas guiadas por roteiro estruturado até a saturação dos dados, com duração média de 16 minutos. Os critérios de inclusão foram: mulheres maiores de 18 anos, com relato de lesão medular de qualquer natureza e com no mínimo 6 meses de evolução. O critério de exclusão foi: mulheres com alterações cognitivas e/ou neurológicas que poderiam dificultar a comunicação e a entrevista. Os dados foram analisados e codificados a partir das categorias de análise previamente estabelecidas na elaboração do roteiro estruturado de entrevista: 1. Aspectos biológicos e funcionais da resposta sexual; 2. Aspectos psicológicos e emocionais da sexualidade; 3. Aspectos socioculturais que envolvem a sexualidade. Trechos das falas das mulheres foram descritas em todas as categorias de análise, sendo possível identificar subcategorias. Resultados: A amostra foi caracterizada, na sua maioria, por mulheres jovens, de raça/etnia negra, com escolaridade e renda familiar baixas e até 8 anos de lesão medular. Pelo relato das mulheres, houve mudanças biopsicossociais significativas nas suas vivências após a lesão medular. A necessidade de se readaptar às atividades anteriormente realizadas e a dependência de outras pessoas constituem desafios. As mudanças corporais mais frequentes foram alterações nas funções do corpo e na sensibilidade, constipação, dor, variação no peso corporal, mudanças estéticas negativas, transpiração corporal assimétrica e espasticidade. As transformações corporais mobilizaram sentimentos e atitudes de superação, indiferença ou insatisfação com a autoimagem. A prática sexual se manteve com a sensação de algum tipo de prazer, apesar ter sido descrita como qualitativamente pior. A qualidade da vida sexual das mulheres entrevistadas piorou pela ausência ou dificuldade de sentir prazer no toque do corpo e frequente anorgasmia. Houve também a percepção do constrangimento de ser um corpo passivo a esperar pelo outro. O autoerotismo pela prática da masturbação permaneceu infrequente depois da lesão medular. Conclusão: Houve manutenção da vida sexual, embora menos prazerosa, com menos orgasmos e com atitude de passividade durante a prática sexual. ABSTRACT: Introduction: Woman’s sexuality is related to aspects that go far beyond the sexual act. It involves the complexity of the human being, and integrates feelings, womanhood, sexual desire, self-esteem and subjectivity. The injury of spinal cord can affect physical, psychological and sociocultural aspects of the sexuality in the women stricken by this disability. Aim: To know the impact of the spinal cord injury in the sexuality of women cared in the Rehabilitation Integrated Center (CEIR) for disabled persons, Teresina, PI. Methods: Descriptive, exploratory, of qualitative approach research. The sample was composed by women selected by convenience. There were carried out 15 interviews guided by structure script until data’s saturation, with an average duration of 16 minutes. The inclusion criteria were: women over 18 years old, with report of spinal cord injury of any nature and with at least 6 months of evolution. The criterion for exclusion was: women with cognitive and/or neurological alterations that could difficult the communication and the interview. The data were analyzed and encoded from the categories of analysis previously established in the elaboration of interview’s structured script: 1. Biologic and functional aspects of the sexual response; 2. Psychological and emotional aspects of the sexuality; 3. Sociocultural aspects that involves the sexuality. Segments of women’s talks were described into all categories of analysis, being possible to identify subcategories. Results: The sample was characterized, mostly, by young women, of black race/ethnicity, with both low school attainment and familiar income and up to 8 years of spinal cord injury. By women’s report, there were significative biological, psychological and social changes in their livelihood after the spinal cord injury. The need to readapt to the activities anteriorly performed and the dependence on other people constitute challenges. The most frequent physical changes were alterations in body functions and in the sensibility, constipation, pain, weight variation, negative aesthetic changes, asymmetrical body sweating and spasticity. The transformations of the body mobilize feelings and attitudes of overcoming, indifference or dissatisfaction with self-image. The sexual practice kept with the fell of some sort of pleasure, despite of being described as qualitatively worse. Sexual life’s quality of interviewed women got worse because of either the lack or the difficulty on feeling pleasure when the body is touched and, frequently, anorgasmia. There also was the perception of the embarrassment of being a passive body waiting by the other. The autoeroticism by the masturbation remained infrequent after the injury. Conclusion: There was maintenance of the sexual life, although less pleasant, with fewer orgasms and with an attitude of passivity during sexual practice.