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RESUMO: Na atualidade ainda permeia no imaginário social a representação negativa referente à mulher
afrodescendente e aos lugares ocupados pela mesma na sociedade. Apesar desse pensamento, que às
colocam como um dos grupos mais marginalizados da sociedade, em sua tripla acepção: gênero-raça-classe, há aquelas que estão conseguindo superar os desafios e alcançar a mobilidade social. Com a
pesquisa “Histórias que se cruzam na EJA: as Trajetórias de Vida de Mulheres Afrodescendentes de
Sucesso Educacional” problematizamos como algumas mulheres afrodescendentes, interpretam a sua
trajetória educacional, em especial sua passagem pela Educação de Jovens e Adultos (EJA), e quais
as implicações disso, em suas formas de organização da vida e no enfrentamento das suas dificuldades
socioculturais, baseadas nas questões de gênero-raça-classe. Tem como objetivo geral: compreender
a partir das Histórias de Vida de mulheres afrodescendentes, a importância das experiências escolares
na EJA, como garantia do direito à educação, em suas formas de organização da vida e no
enfrentamento das suas dificuldades socioculturais, baseadas nas questões de gênero-raça-classe.
Estabelece como objetivos específicos: descrever as experiências de vida, que fizeram com que estas
mulheres afrodescendentes percebessem a EJA como possibilidade de conclusão da escolarização
básica e garantia do direito à educação; identificar na trajetória de vida de mulheres afrodescendentes,
a importância da EJA, como possibilidade de sucesso educacional/profissional, frente às adversidades
da vida social e escolar e caracterizar as táticas utilizadas por mulheres afrodescendentes em suas
experiências na EJA, a fim de que possam alcançar o sucesso educacional/profissional, desejado por
cada uma delas, de maneira singular. Fundamenta-se nos seguintes autores/as: sobre a Educação de
Jovens e Adultos, enquanto direito humano e política de ação afirmativa: Moura (2003), Paiva (2009),
Capucho (2012), Costa e Machado (2017), Branco (2015), Arroyo (2014; 2017) e Carreira (2014);
sobre a intersecção das categorias de gênero-raça-classe na EJA: Carneiro (2005), Crenshaw (2002),
Gonzáles (1980), Euclides (2017), Rocha, Batista e Boakari (2013), Gomes (2005) e Guimarães
(2013) e sobre mulheres afrodescendentes de sucesso educacional: Boakari (2010; 2015; 2019),
Martins (2013); Certeau (1994); Reis (2017) e Santana (2011). Trata-se de uma pesquisa com
abordagem qualitativa, (DESLANDES; MINAYO, 2012), adotou alguns conceitos das Metodologias
Feministas (CHANTLER; BURNS, 2015), especificamente o Feminismo Interseccional
(CRENSHAW, 2002) e teve como método de investigação as Histórias de Vida, baseada nos estudos
de Josso (2004) e Souza (2006). Para análise das informações da pesquisa, nos inspiramos na Análise
de Conteúdo de Bardin (2011) e Poirier, Valladon e Raybaut (1999) e utilizamos como instrumentos
as Entrevistas de Histórias de Vida (REIS, 2017) e (SOUSA, 2015) e o Memorial de Formação
(PRADO; CUNHA; SOLIGO, 2008). O campo geográfico foi o município de Teresina-PI e as
participantes da pesquisa foram duas mulheres afrodescendentes egressas da EJA, que acessaram o
Ensino Superior. O estudo evidenciou que as narrativas dessas mulheres indicam que o Brasil tem
conseguido reduzir algumas de suas desigualdades históricas, por meio do acesso à educação, em
especial na EJA. Há lições nas trajetórias educativas descritas, que nos mostram como essas duas
mulheres utilizaram o direito a educação, como ferramenta para superar algumas dificuldades
impostas pela condição de ser mulher-afrodescendente-pobre no Brasil. Essas mulheres
afrodescendentes, por meio de inúmeras táticas subverteram a lógica social brasileira e ocuparam
lugares que não eram comuns a elas, nem para muitas com características semelhantes e em condições
parecidas.
ABSTRACT: Currently, the negative representation of Afro-descendant women and the places they occupy in
society still permeates the social imagination. Despite this thinking, which places them as one of the
most marginalized groups in society, in its triple meaning: gender-race-class, there are those who are
managing to overcome the challenges and achieve social mobility. With the research “Stories that
intersect in EJA: the Life Trajectories of African Women of Educational Success” we problematize
how some Afro-descendant women interpret their educational trajectory, especially their passage
through Youth and Adult Education (EJA), and which the implications of this, in their ways of
organizing life and in facing their socio-cultural difficulties, based on gender-race-class issues. Its
general objective: to understand, from the Life Stories of Afro-descendant women, the importance of
school experiences in EJA, as a guarantee of the right to education, in their ways of organizing life
and in facing their sociocultural difficulties, based on questions of gender-race-class. It sets out as
specific objectives: to describe life experiences, which made these Afro-descendant women perceive
EJA as a possibility of completing basic schooling and guaranteeing the right to education; identify
in the life trajectory of Afro-descendant women, the importance of EJA, as a possibility of educational
/ professional success, in the face of the adversities of social and school life and characterize the
tactics used by Afro-descendant women in their experiences in EJA, so that they can achieve the
educational / professional success, desired by each of them, in a unique way. It is based on the
following authors: on Youth and Adult Education, as a human right and affirmative action policy:
Moura (2003), Paiva (2009), Capucho (2012), Costa and Machado (2017), Branco ( 2015), Arroyo
(2014; 2017) and Carreira (2014); on the intersection of gender-race-class categories in EJA: Carneiro
(2005), Crenshaw (2002), Gonzáles (1980), Euclides (2017), Rocha, Batista and Boakari (2013),
Gomes (2005) and Guimarães ( 2013) and on Afro-descendant women of educational success:
Boakari (2010; 2015; 2019), Martins (2013); Certeau (1994); Reis (2017) and Santana (2011). This
is a research with a qualitative approach, (DESLANDES; MINAYO, 2012), adopted some concepts
of Feminist Methodologies (CHANTLER; BURNS, 2015), specifically the Intersectional Feminism
(CRENSHAW, 2002) and had the Histories of Vida, based on the studies of Josso (2004) and Souza
(2006). For analysis of the research information, we were inspired by the Content Analysis of Bardin
(2011) and Poirier, Valladon and Raybaut (1999) and used as instruments the Life Story Interviews
(REIS, 2017) and (SOUSA, 2015) and the Training Memorial (PRADO; CUNHA; SOLIGO, 2008).
The geographic field was the municipality of Teresina-PI and the research participants were two Afro-descendant women graduated from EJA, who accessed Higher Education. The study showed that the
narratives of these women indicate that Brazil has managed to reduce some of its historical
inequalities, through access to education, especially in EJA. There are lessons in the educational
trajectories described, which show us how these two women used the right to education, as a tool to
overcome some difficulties imposed by the condition of being a poor African-descendant woman in
Brazil. These Afro-descendant women, through numerous tactics, subverted Brazilian social logic
and occupied places that were not common to them, nor to many with similar characteristics and in
similar conditions. |
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