Abstract:
RESUMO: O Dengue virus possui uma extensa diversidade genética que consiste na existência de quatro sorotipos virais (DENV 1-4), estes ainda se subdividem em genótipos e linhagens. O genoma viral é um RNA de fita simples, que produz três proteínas estruturais (C, prM e E) e sete não estruturais (NS1, NS2A, NS2B, NS3, NS4A, NS4B e NS5). A proteína de envelope (E) interage diretamente com o sistema imune do hospedeiro, por esta razão o gene E possui a mais alta taxa de mutação entre os flavivirus. Análises desse gene permitem acompanhar a evolução viral. As variações genéticas do vírus interferem na replicação eficaz, na virulência e no potencial epidêmico. Sendo assim, a inserção de um novo sorotipo, genótipo ou linhagem em uma determinada região pode levar ao desenvolvimento de epidemias, inclusive associadas a quadros graves. Portanto, o presente trabalho objetiva analisar a circulação dos sorotipos e realizar um estudo em filogenia dos Dengue virus circulantes no Estado do Piauí. Amostras de soro sugestivas de infecção pelo DENV, provenientes de instituições públicas e privadas, nas cidades de Teresina e Parnaíba-PI, tiveram o RNA extraído e utilizado como molde para reação de RT-PCR. Na amplificação dos produtos foram utilizados iniciadores específicos para os genes C/prM e E. Os sorotipos foram identificados conforme o tamanho padrão de bandas obtido na eletroforese em gel de agarose. Amostras de DENV 4 foram purificadas e sequenciadas. Sendo as sequências obtidas, alinhadas e comparadas quanto ao grau de identidade entre os isolados e sequências depositadas no GenBank. Uma árvore filogenética foi construída por análise de Máxima Verossimilhança. A partir das análises foram identificados os quatro sorotipos circulantes no Estado, o que reflete o padrão hiperendêmico do país, isso coloca o Piauí em situação de risco, pois a circulação de múltiplos sorotipos é um fator predisponente para o desenvolvimento de epidemias e formas severas, essa característica tem sido relatada de maneira crescente no país, sobretudo nas faixas etárias mais jovens. O sequenciamento de amostras locais de DENV 4 circulantes em 2012, revelou que elas pertenciam ao genótipo II, semelhante ao que foi descrito em diversas regiões do Brasil. As amostras encontram-se filogeneticamente próximas as sequências que correspondem as primeiras identificações da reintrodução do DENV 4 no país, que ocorreu em 2010 através do Estado de Roraima. Nossas amostras ainda se agruparam próximas a sequências identificadas em São Paulo, Minas Gerais, Pará e Amazonas, o que reafirma a ideia que após sua reintrodução por Roraima o vírus se dispersou para as demais regiões do país. No mesmo subclado estão diversas amostras da Venezuela, Porto Rico e Colômbia, reforçando a hipótese que este vírus pode ter sido introduzido no Brasil através de Roraima, via Caribe, a partir da Venezuela. A rota Caribenha é conhecida como importante via de entrada de novos vírus na América do Sul e consequentemente no Brasil. Pesquisas apontam a entrada do sorotipo DENV 2 no país através dessa rota. Estudos de monitoramento da inserção e circulação viral, bem como a caracterização molecular dos DENV são de fundamental importância, sobretudo em regiões endêmicas como o Estado do Piauí, pois permitem a previsão de epidemias e auxiliam no estabelecimento de medidas de controle.