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RESUMO: Nas últimas décadas, a crise do sistema penitenciário tem demonstrado sua ineficiência e
realidade mais cruel indicando a prisão como um local de exclusão e de morte. São
recorrentes as situações de precariedade, insegurança e violência existentes, decorrentes
do grande encarceramento e da superlotação. Na composição do sistema prisional
brasileiro, diversas são as práticas que interseccionam os poderes disciplinar, biopolítico
e necropolítico, práticas que conformam a prisão em um território de suspenção de
direitos, um Estado de Exceção permanente. Dentre estes corpos colocados a exceção na
prisão, as mulheres são alvos principais da incidência incessante dos poderes que
encarnam seus corpos e suas subjetividades. Tomando a prisão como um diagrama de
forças, esse trabalho é uma pesquisa de base qualitativa e trata-se de uma analítica
foucaultiana de poderes. Desta forma, teve como objetivo geral: analisar as relações de
poder que incidem sobre os corpos femininos na prisão. O local de pesquisa foi a
Penitenciária Mista de Parnaíba – PI, e utilizou-se o registro em diários de campo e
entrevistas coletivas. O diagrama de poderes na prisão é composto por linhas de
disciplinarização das mulheres, com o esquadrinhamento de seus espaços, do controle das
atividades, da punição de comportamentos transgressores e uma vigilância permanente;
por linhas de controle biopolítico dos corpos, como a limitação de suas sexualidades e
ineficiência dos serviços específicos para a saúde da mulher; e por linhas que operam pela
lógica necropolítica, como a precária alimentação fornecida, ociosidade, além do
abandono ou esquecimento a que muitas são submetidas no cárcere. Constatou-se que o
sistema penal opera por meio de práticas machistas, classistas e racistas, prolongamento
da estruturação social, excludente e discriminatória, concedendo às mulheres presas uma
dupla penalização. Mas também há resistência, como a organização e solidariedade do
grupo, as transgressões de normas e a construção de amizades, além das expressões
feministas próprias aos modos de vida das mulheres encarceradas, o que indica a
necessidade de estudos interseccionais e que considerem suas particularidades e formas
de militância. Por fim, o encontro com mulheres presas também interpela o corpo de
mulher-psicóloga-pesquisadora, produz dessubjetivações e novos territórios, tensionando
suas representações acerca de sua condição de mulher branca, acadêmica, seus ideais
feministas e também sua condição de liberdade.
ABSTRACT: In recent decades, the crisis in the prison system has demonstrated its inefficiency and
cruelest reality, indicating prison as a place of exclusion and death. Existing situations of
precariousness, insecurity and violence are recurrent, resulting from the great
incarceration and overcrowding. In the composition of the Brazilian prison system, there
are several practices that intersect the disciplinary, biopolitical and necropolitical powers,
practices that make up the prison in a territory of suspension of rights, a permanent State
of Exception. Among these bodies placed the exception in prison, women are the main
targets of the incessant incidence of the powers that embody their bodies and their
subjectivities. Taking the prison as a diagram of forces, this work is a qualitative research
and it is a Foucaultian analysis of powers. Thus, it had as its general objective: to analyze
the power relationships that affect female bodies in prison. The research site was the
Mixed Penitentiary of Parnaíba - PI, and the use of field diaries and collective interviews
was used. The diagram of powers in prison consists of disciplinary lines for women, with
the scanning of their spaces, the control of activities, the punishment of transgressive
behaviors and permanent surveillance; by lines of biopolitical control of bodies, such as
limiting their sexuality and inefficiency of specific services for women's health; and by
lines that operate by the necropolitical logic, such as the precarious food provided,
idleness, in addition to the abandonment or forgetfulness to which many are subjected in
prison. It was found that the penal system operates through sexist, classist and racist
practices, prolonging the social structure, excluding and discriminating, granting women
prisoners a double penalty. But there is also resistance, such as the organization and
solidarity of the group, the transgression of norms and the building of friendships, in
addition to feminist expressions proper to the ways of life of incarcerated women, which
indicates the need for intersectional studies and considering their particularities and
militancy forms. Finally, the encounter with women prisoners also challenges the body
of a woman-psychologist-researcher, produces desubjectivations and new territories,
tensioning her representations about her condition as a white, academic woman, her
feminist ideals and also her condition of freedom. |
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