Abstract:
RESUMO: Nas últimas quatro décadas, no Brasil, um maior número de grupos indígenas passou a se
autodeclarar e a reivindicar o reconhecimento de sua condição étnica e de seus direitos
constitucionais. No Piauí, destacamos os grupos indígenas da etnia Tabajara que se
organizam politicamente através da Associação Indígena Itacoatiara de Piripiri, da
Associação Organizada dos Indígenas do Canto da Várzea e da Associação dos Povos
Indígenas Tabajara-Tapuio-Itamaraty, inaugurando um novo capítulo na história indígena
piauiense, visto que, por muito tempo, a presença indígena no estado foi invisibilizada e
silenciada. Nesse bojo, o presente estudo buscou analisar o processo de indianização dos
grupos indígenas da etnia Tabajara no Piauí, tomando por base o resgate da sua história, o
seu processo de organização política e as suas indianidades. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa, com base nos estudos sobre produção de sentido no cotidiano. O estudo ocorreu
nos municípios de Piripiri/PI e de Lagoa de São Francisco/PI. Participaram 20 lideranças
indígenas, mediante os seguintes recursos metodológico: a) observação no cotidiano; b)
conversa no cotidiano; c) entrevista semi-estruturada individuais ou grupais. A análise, com
base na técnica do mapa de associação de ideias, resultou nos seguintes capítulos de
resultados que versam sobre: a) a trajetória dos grupos indígenas Tabajara no Piauí; b) a luta
por reconhecimento e por garantia de direitos dos Tabajaras no Piauí; e, por fim, c) os
campos de sentidos atribuídos pelos Tabajaras aos seus processos de indianidades. Em
suma, observamos que à medida que os grupos indígenas Tabajara foram (re)elaborando sua
identidade étnica e coletiva em torno de um vínculo ancestral, de parentesco e de território
comum, esses foram mudando o olhar sobre si e foram colocando em análise aspectos
constitutivos de um discurso colonial sobre o “ser indígena”. De modo que, passaram a
(re)criar práticas discursivas em torno de suas histórias de vida e de suas indianidades,
assumindo-as enquanto estratégia de luta, de resistência e de (re)existência, no intuito de
contrapor os discursos dominantes e totalizantes sobre o ser indígena e as relações de
colonialidade do poder, saber e ser postas no cotidiano da vida.
ABSTRACT: In the last four decades in Brazil, a larger number of indigenous groups started to declare
their ethnic background and claim recognition of their ethnicity and their constitutional
rights. In Piauí, we highlight the indigenous groups of Tabajara ethnicity, which is
politically organised through the Indigenous Association of Itacoatiara de Piripiri, Organised
Indigenous Association of Canto da Várzea, and Association of Indigenous People of
Tabajara-Tapuio-Itamaraty. This ethnic group inaugurated a new chapter in the indigenous
history in Piauí considering that, for a long period, the indigenous presence in the state did
not have visibility or a voice. Therefore, the present study aimed to analyse the process of
indianization of indigenous groups of Tabajara ethnicity, starting from the rescue of their
history, their process of political organization and their indigenous identity. This was a
qualitative study based on studies of productions of everyday meaning. The study was
conducted in the cities of Piripiri/PI and Lagoa de São Francisco/PI. Participants were 20
indigenous leaders, who took part in the following activities: a) observation of daily
activities; b) everyday conversations; and c) semi-structured individual or group interviews.
The analysis adopted the technique of map of association of ideas, which resulted in the
following chapters with the themes of: a) trajectory of Tabajara indigenous groups in Piauí;
b) fight for recognition and rights of Tabajaras in Piauí; and, finally, c) meaningful aspects
for Tabajara people about their identity. In sum, we observed that indigenous Tabajara
groups redeveloped their ethnic and collective identity based on ancestral links related to
common family and territory, which changed their self-views and allowed a critical analysis
of colonialist discourses about “being indigenous”. Hence, they recreated discursive
practices about their life story and their indigenous identity, using it as a strategy to fight,
resist and (re)exist, aiming to oppose dominant and totalitarian discourses about indigenous
groups ways of living, power relationships based on colonialism imposed on their daily
lives.