Abstract:
RESUMO: Esta pesquisa foi construída em diálogo com as Comunidades Quilombolas de Barro
Vermelho e Contente, localizadas no município de Paulistana – Piauí. Apesar da
memória/oralidade nos direcionar para registros históricos de 1785 da remanescência de
organização territorial e social em torno de Elias Mariano, como primeiro morador da
Comunidade Contente, o recorte temporal se inicia a partir das duas primeiras décadas do ano
2000, momento de rediscussão da escravidão do negro na sociedade brasileira. Nesse período,
o conceito e significados do ser quilombola começam a serem assumidos e reivindicados
como forma de legitimar direitos territoriais e sociais de iguais pertencentes à nação Brasil e
de reconhecimento social. Ocorrida também à ampliação das políticas públicas para as
populações indígenas e quilombolas e, por fim, uma larga expansão das políticas de titulação
e regularização fundiária, subsidiadas, sobremodo, pela Fundação Palmares e INCRA. Nesse
mesmo contexto, as comunidades Barro Vermelho e Contente iniciam o debate em torno das
questões identitárias do ser negro no sertão do Piauí e passam a encarar as transformações
locais, a exemplo dos processos de modernização, como a Transnordestina, bem como as
políticas educativas do Estado, sobretudo aquelas aplicadas na Unidade Escolar Eusébio
André de Carvalho, a partir de um forte viés étnico e de reconhecimento quilombola. É,
portanto, na interseção entre história, modernização e práticas educativas voltadas à
população quilombola que esta pesquisa levanta o debate sobre as formas como a etnicidade
se revela nas narrativas das referidas comunidades em meio a o olhar da outricidade
(FANON, 2008) que busca fixar identidade em um discurso de fora para dentro. Assim, com
o objetivo de analisar a analisar como a construção da etnicidade negra se expressa pelas
experiências nas lutas por reconhecimento e autorreconhecimento quilombola nas
Comunidades de Barro Vermelho e Contente em Paulistana no Piauí, buscamos traçar as
múltiplas experiências históricas silenciadas em torno das populações negras do Piauí. Desse
modo, e por meio da história oral, inicialmente entrevistando idosos e líderes das
Comunidades acima citadas, além do uso de questionários destinados aos professores (as) e
com o suporte teórico de autores pós-coloniais (MIGNOLO, 2005; QUIJANO, 2005, 2009;
SANTOS, 2009) e do entendimento de autores que versam sobre a experiência do sujeito
enquanto consciência de práxis (GILROY, 2001; THOMPSON, 2011). Assim pudemos
compreender, por meio deste trabalho, que as lutas do presente não são apenas por uma
visibilidade baseada na representação (SPIVAK, 2010), mas de reconhecimento das
experiências enquanto vozes ativas e altivas que constroem e consolidam um ser e fazer-se
afrodescendente nas e das Comunidades.
ABSTRACT: This research was built in dialogue with the Quilombola Communities of Barro Vermelho and
Contente, located in the municipality of Paulistana - Piauí. Despite the memory / orality
directing us to historical records from 1785 of the remaining territorial and social organization
around Elias Mariano, as the first resident of the Contented Community, the time frame
begins from the first two decades of the year 2000, a moment of re-discussion of black slavery
in Brazilian society. During this period, the concept and meanings of being quilombola began
to be assumed and claimed as a way of legitimizing territorial and social rights of equals
belonging to the nation Brazil and of social recognition. There was also the expansion of
public policies for indigenous and quilombola populations and, finally, a wide expansion of
land titling and regularization policies, subsidized, especially, by Fundação Palmares and
INCRA. In this same context, the Barro Vermelho and Contente communities initiate the
debate around the identity issues of black people in the Piauí backlands and begin to face
local transformations, such as modernization processes, such as Transnordestina, as well as
the educational policies of the State, especially those applied at the Eusébio André de
Carvalho School Unit, based on a strong ethnic bias and quilombola recognition. It is,
therefore, at the intersection between history, modernization and educational practices aimed
at the quilombola population that this research raises the debate on the ways in which
ethnicity is revealed in the narratives of the referred communities amid the look of otherness
(FANON, 2008) that seeks to establish identity in an outside-in speech. Thus, in order to
analyze and analyze how the construction of black ethnicity is expressed by experiences in the
struggles for quilombola recognition and self-recognition in the Communities of Barro
Vermelho and Contente in Paulistana in Piauí, we seek to trace the multiple historical
experiences silenced around black populations from Piauí. In this way, and through oral
history, initially interviewing the elderly and community leaders mentioned above, in addition
to the use of questionnaires for teachers and with the theoretical support of post-colonial
authors (MIGNOLO, 2005; QUIJANO, 2005, 2009; SANTOS, 2009) and the understanding
of authors that deal with the subject's experience as awareness of praxis (GILROY, 2001;
THOMPSON, 2011). Thus we were able to understand, through this work, that the struggles
of the present are not only for a visibility based on representation (SPIVAK, 2010), but for the
recognition of experiences as active and proud voices that build and consolidate a being and
become an Afro-descendant Communities and the Communities.