Abstract:
RESUMO:Esse trabalho tem como foco identificar as estruturas imaginárias que atuam na formação das concepções que os atendentes da rede de combate ao suicídio em Teresina possuem sobre esse fenômeno. Partiu-se da hipótese de que essa proximidade com quem pretende dar cabo da própria vida e os esforços para impedir sua efetivação confere a esses atendentes uma visão mais singular sobre o fenômeno, utilizando-se para isso duas etapas de trabalho de campo: a primeira consistiu em entrevistas semiestruturadas com os atendentes ligados à rede, entre os quais foram levantadas as principais e recorrentes categorias imaginárias sobre o suicídio; a segunda, por sua vez, consistiu na aplicação de um teste tipo Likert, onde foram elencados os principais adjetivos dessas categorias do imaginário, mapeadas na primeira etapa, visando avaliar o nível de ingerência que cada um deles possui a respeito da percepção do suicídio. O trabalho ancorou-se na teoria do imaginário de Gilbert Durand (2014) como principal aporte teórico do estudo em apreço. No primeiro momento buscou-se mostrar a importância da sociologia clássica na desmistificação da prática suicida, ao apontar suas causas sociais como um fato recorrente desde os primeiros agrupamentos humanos, assim como o sentido de morte e do morrer. Além disso, discorreu-se sobre as percepções de larga amplitude que o suicídio tem provocado no imaginário social através do tempo, elegendo, para tanto, quatro categorias binárias: honra e salvação, pecado e crime, loucura e razão e tristeza e patologia. O estudo dessas categorias permitiu-nos mostrar, a partir de uma perspectiva diacrônica, como as diversas teorias do imaginário podem explicar os comportamentos humanos em relação ao suicídio. No corpo final do trabalho, as categorias morte e suicídio ganham mais relevância a partir dos dados de campo, onde se procurou analisar as estruturas socioantropológicas do imaginário do suicídio para os atendentes inseridos na rede que atua no auxílio às pessoas com ideação suicida no Piauí, em especial, em Teresina. Com o estudo concluiu-se que os símbolos arquetípicos presentes no imaginário desses sujeitos estão semanticamente repletos de negatividade, elaborados por imagens que remetem o suicídio a um ato fisicamente nocivo, imoral e pecaminoso, tanto para a sociedade quanto para quem o pratica. Essa simbologia, porém, é amenizada pelo contato que os atendentes possuem com quem tem ideação suicida. Por fim, constatou-se a necessidade de implantação de políticas públicas voltadas para o esclarecimento da população sobre a problemática da morte voluntária, que poderiam arrefecer o estigma e diminuir os índices crescentes de suicídio registrados em Teresina e no Brasil. ABSTRACT:This work is focused on identify the imaginary structures acting in the formation of conceptions of Teresina suicide-fighting network attendants have about this phenomenon. It was hypothesized that this closeness to those who want to end their lives and the efforts to prevent their implementation gives these attendants a more singular view of the phenomenon, using two steps of fieldwork: the first one consisted of semi-structured interviews with the attendants connected to the network, among which were raised the main and recurrent imaginary categories on suicide; on its turn, the second, consisted in the application of a Likert type test, where the main adjectives of these imaginary categories were listed, mapped in the first step, aiming at assessing the level of interference that each of them has regarding the perception of suicide. The work was anchored in Gilbert Durand's theory of the imaginary (2014) as the main theoretical contribution of the study under consideration. In the first moment, it was tried to show the importance of the classic sociology in the demystification of the suicidal practice, highlighting its social causes as a recurring fact from the first human groupings, as well as the sense of death and dying. Furthermore, it was discussed the perceptions of wide amplitude that the suicide has provoked in the social imaginary through the time, electing for this four binary categories: honor and salvation, sin and crime, madness and reason and sadness and pathology. The study of these categories allowed us to show, from a diachronic perspective, how the various imaginary theories can explain human behaviors in relation to suicide. In the final body of work, the death and suicide categories gain more relevance from the field data, where we tried to analyze the socio-anthropological structures of the suicide imaginary for the attendants inserted in the network that works to help people with suicidal ideation in Piauí, in Teresina particularly. With the study concluded that the archetypal symbols present in the imaginary of these subjects are semantically replete with negativity, elaborated by images that refer suicide to a physically harmful, immoral and sinful act, both for society and for those who practice it. This symbology, however, is softened by the contact that the attendants have with those who have suicidal ideation. Finally, it was verified the need to implement public policies aimed at clarifying the population on the issue of voluntary death, which could cool down stigma and reduce the rising rates of suicide in Teresina and Brazil.