Abstract:
RESUMO Entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, os destinos das mulheres passaram a ser questionados devido às mudanças advindas do mundo moderno com o desenvolvimento do capitalismo. Tem-se, então, dessa época, uma representação abundante de figuras femininas nos textos literários, nas artes em geral, nos tratados médicos e religiosos, sejam eles de autoria masculina ou feminina. Partindo disso, esses autores buscaram compor uma taxonomia feminina com o intuito de definir o que era a mulher naquela sociedade, para, em última instância, manter a ordem do gênero. Com este objetivo, Clodoaldo Freitas (1855-1924), bacharel em direito, livre-pensador, jornalista e literato piauiense, escreveu sua prosa ficcional no início do século XX, centralizada, em grande medida, na figura feminina em aspectos concernentes ao amor, o casamento, a família burguesa, a maternidade e a religião. Esta pesquisa analisou como Clodoaldo Freitas representa as mulheres em parte de sua literatura. Para tanto, é necessário apresentar a trajetória de vida do literato a partir de sua família, sua formação educacional, sua atuação como bacharel, como jornalista, como literato, como marido e pai. Ao apresentar o literato e a sociedade de seu tempo, buscou-se compreender o que motivou sua escrita, para, após, deter-se por sobre as representações femininas na sua literatura. Para compor a análise dessas representações articuladas com a sociedade, foram criadas categorias de mulheres a partir das relações que essas exercem com as figuras masculinas dentro das narrativas, tais quais as de solteiras, amásias, casadas, adúlteras, entre outras, finalizando com uma reflexão a respeito da relação entre gênero, literatura e sociedade. O conjunto de fontes utilizadas nesta pesquisa foi composto por jornais, um processo de divórcio, textos literários de Clodoaldo Freitas, junto com bibliografia pertinente ao período e à temática. O referencial teórico que instrumentaliza a análise são os conceitos de representação (CHARTIER, 1991), gênero (JOAN SCOTT, 1990) e prática escriturística (CERTEAU, 1998).ABSTRACT:One started to question the fate of women between the latter half of the 19th century and the earlier decades of the 20th century due to changes that the modern world had been through with the development of capitalism. An abundant depiction of feminine figures was presented during that period by its literary texts, the arts in general, medical and religious treatises, being them either from male and female authorship. Such authors aimed at portraying a feminine taxonomy to define what women were in their society with the ultimate agenda of keeping the gender order. Therefore, in the early 20th century, Clodoaldo Freitas (1855-1924), a bachelor in Law, freethinker, journalist, and Piauiense literate, centered his fictional prose, to a great extent, on aspects of the feminine figure concerning love, marriage, the bourgeois family, motherhood, and religion. This research analyzed how Freitas represents women in part of his own literature. For that, one needed to present the writer’s life trajectory from his family upbringing, his education, his professional performance as a man of laws, a journalist, and a literate, as well as his role as a husband and a father. By presenting the literate and the society of his time, one sought to understand what drove his writing to, then, focus on the female representations within Freitas’ literature. In order to compose the analysis of such articulated representations with society, one created categories of women from their relationships with the male characters in the narratives, such as the singles ones, the mistresses, the married ones, the adulteresses, etc., finishing it with a reflection on the relations among gender, literature, and society. The set of sources used throughout this research covered newspapers, divorce proceedings, Clodoaldo Freitas' literary texts, as well as specific bibliography regarding the period and subject matter. The theoretical framework that conducted the analysis was based on the concepts of representation (CHARTIER, 1991), gender (JOAN SCOTT, 1990), and scriptural practice(CERTEAU, 1998).