Abstract:
RESUMO
A leishmaniose visceral americana (LVA) é uma zoonose causada por protozoários do gênero Leishmania. No Brasil, a infecção é causada pelo protozoário Leishmania infantum chagasi, sendo seu principal vetor insetos flebotomíneos da espécie Lutzomyia longipalpis. O vetor está presente tanto em ecótopos naturais como em ambientes rurais e urbanos, se adaptando muito bem as áreas peridomiciliares. O cão tem sido incriminado como o principal reservatório doméstico do parasito, devido a isso uma das principais medidas de controle da doença se baseia na eliminação dos animais sororreagentes, supostamente infectados. Entretanto, essas medidas não tem se mostrado efetivas, uma vez que a doença continua em franca expansão. O gradativo processo de urbanização da leishmaniose visceral tem sido atribuído, pelo menos em parte, às transformações ambientais e ocupação urbana em más condições sanitárias, mas ainda existem pouco estudos explorando a associação entre estes fatores e a ocorrência de infecção por Leishmania infantum chagasi em cães. Assim, o objetivo deste trabalho é avaliar a associação entre fatores sócio-econômicos e ambientais e a ocorrência da leishmaniose visceral canina no município de Teresina. O estudo transversal foi conduzido em dez bairros de Teresina, com 800 cães avaliados em 536 propriedades. Foram colhidas amostras de sangue sem anticoagulante para realização do exame sorológico (reação de imunofluorescência indireta e ensaio imunoenzimático - ELISA) em todos os cães. Foram considerados soropositivos os cães reagentes em ambos os testes. Nos domicílios visitados foram aplicados questionários envolvendo aspectos sócio-econômicos e ambientais. Obteve-se uma prevalência geral de soropositividade canina de 42%. Dentre os fatores estudados não se observou associação estatisticamente significativa entre prevalência de infecção e faixa etária e sexo dos animais, escolaridade do chefe do domicílio, presença de outros animais domésticos na residência ou com características das residências, tais como tipo de parede, teto, piso, forro, acesso a rede geral de abastecimento de água e de esgotamento sanitário. Ausência de muro de alvenaria no domicílio, presença de canil, maior tempo de posse do cão e raça não definida estiveram associados a chances maiores de soropositividade. Estes resultados sugerem que determinadas condições peri-domiciliares, em particular a ausência de barreiras que permitam o livre acesso dos animais à rua em conjunto com a criação de cães nestes ambientes, podem estar contribuindo para a manutenção do ciclo de transmissão da infecção entre cães. Intervenções orientadas para o manejo do ambiente peri-doméstico e posse responsável de cães poderiam ser estratégias adicionais a serem implementadas em meio urbano de forma a contribuir para a redução da carga da doença nas áreas endêmicas do país.
ABSTRACT
American visceral leishmaniasis (AVL) is a zoonosis caused by protozoan Leishmania genus. In Brazil, this important disease is caused by protozoan Leishmania (infantum) chagasi and main vector is phlebotomine sandfly Lutzomyia longipalpi, found both in natural ecotopes and in the rural and urban environments and this vector adapt easily to the peridomestic environment. The domestic dog has been incriminated as the main reservoir of the parasite in the urban environment, but the control measures based on culling seropositive dogs have not shown to be effective to contain the spread of the disease throughout the country. VL is a neglected disease of neglected populations. Poverty, migration, unplanned land occupation in urban areas, environmental damage, substandard living conditions and malnutrition are just some of many determinants of its occurrence. Many studies evaluated risk factors for human visceral leishmaniasis but few focused on the infection among dogs. The objective of this study is to assess the association between socioeconomic and environmental factors and occurrence of canine leishmaniasis at Teresina city. This transversal study was developed in ten districts of Teresina, involving 536 houses and 800 dogs. Peripheral blood samples were collected by vein punction using vacuntainer tubes without anticoagulant for performed serological tests (indirect immunofluorescence test (IFAT) and Enzyme linked immunosorbent assay (ELISA)) in all dogs samples serum. Serum samples were considered positive when it was positive in both tests. Owners of the selected dwellings were interviewed using a semi-structured questionnaire containing socioeconomic and environment aspects. Global seropositive prevalence was 42%. There was no statistically significant difference between infection prevalence and age and sex of animals, scholarship of household head, presence of other domestic animals or with household characteristic like water supply, inadequate sewage disposal system, walls, floor and roof. Absence of mansory walls, presence of kennel, major time of dogs possession and presence of non breed dogs showed more chances to present a seropositive dog. These results suggest that some peridomestic environments, especially absence of barriers that allow dogs have a free access to street, in association to presence of kennel in these areas can be contributing to maintain the infection cycle between dogs. Intervention measures oriented for peridomestic environment management and responsible dog possession could be useful tools for control strategic for reduce disease cases numbers in endemic area.