Abstract:
RESUMO: Introdução: O calazar tem se comportado como uma infecção oportunista nos pacientes portadores do vírus HIV e essa associação têm sido descrita em várias regiões do mundo. As duas doenças exercem um efeito de sinergismo prejudicial na resposta imunitária celular por possuírem células imunitárias semelhantes como alvo. Uma parcela dos pacientes evolui com calazar refratário, apresentando permanência da esplenomegalia, falência terapêutica definitiva do calazar, HIV com persistência de células CD4 + baixas mesmo com carga viral indetectável e perfil hematológico de pancitopenia. Este território hostil ocorre provavelmente devido ao hiperesplenismo, que além de ser responsável pela pancitopenia é um reservatório de Leishmania e linfócitos repletos de vírus HIV. Com base nisso, descrevemos os resultados da esplenectomia em pacientes com calazar refratário coinfectados ou não com HIV tendo como fundamento a experiência positiva de esplenectomia em pacientes com calazar imunocompetentes. Metodologia: Trata-se de uma coorte aberta envolvendo indivíduos com calazar refratário, co-infectados ou não com HIV, acompanhados no Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela, em Teresina, Piauí, Brasil, no período de 2008 a 2018. Os critérios de elegibilidade para a cirurgia foram: pacientes com confirmação de calazar refratário, coinfectados ou não com HIV, que aderiram à profilaxia secundária para calazar e a terapia anti-retroviral, em condições clinicas de se submeter ao procedimento cirúrgico e que aceitaram o procedimento. Resultados: A esplenectomia foi realizada em 13 pacientes, um paciente teve a indicação definida, porém foi a óbito ainda no preparo pré-operatório. Apenas dois pacientes tiveram complicações precoces relacionados diretamente ao procedimento. A única complicação tardia descrita foi a leishmaniose dérmica pós calazar e ocorreu em dois pacientes. Quatro pacientes vieram a óbito ao
longo da coorte. O tempo médio de internação após esplenectomia foi de 6 dias. Para todos os pacientes houve aumento das células CD4 (p = 0,003), diminuição de novas hospitalizações (p=0,001) e melhora da pancitopenia (p < 0,05). A estimativa média do tempo de sobrevida dos indivíduos é de 1327,98 dias após a cirurgia, ou seja, cerca de 3 anos e 7 meses. Peso, tamanho e espessura do baço importa para a programação cirúrgica, quanto maiores, mais difícil será o procedimento. Conclusões: A esplenectomia pode trazer benefícios ao grupo de pacientes com calazar refratário, coinfectados ou não com HIV, que falharam no tratamento de ambas as infecções e desenvolverem hiperesplenismo. ABSTRACT: Introduction: Kala-azar has behaved as an opportunistic disease in patients with the HIV and this association has been described in several places in the world. Both diseases have a harmful synergism on cell immune response because their target cells are the same immune cells. Part of the patients evolve to refractory kala-azar, developing permanent splenomegaly, permanent kala-azar treatment failure, HIV with persistent low CD4+ cell count even with undetectable viral load and pancytopenia blood profile. This hostile scenario happens probably due to hypersplenism in patients with refractory kala-azar, infected or not by the HIV. Methodology: This is an open cohort study with individuals with refractory kala-azar, co-infected by the HIV or not, treated at the Natan Portella Tropical Diseases Institute, in Teresina, Piaui State, Brazil, from 2008 to 2016. Eligibility criteria for surgery were: patients with kala-azar confirmation, infected or not by the HIV, that adhered to secondary prophylaxis and anti-retroviral therapy, in adequate clinical conditions to be submitted to surgery and that accepted the procedure. Results: Splenectomy was performed in 13 patients, and another patient who was recommended for surgery deceased while pre-surgery preparation. Only two patients developed early complications directly related to the procedure. The single late complication was cutaneous leishmaniasis and was reported in two patients. Four patients deceased while in the cohort. Average hospitalization time after splenectomy was 6 days. All patients increased CD4 cell count (p=0.003), reduction of new hospitalizations (p=0.001) and pancytopenia improvement (p<0.05). Average afterlife expectancy is 1327.98 days (standard error of 293.18 days) after surgery, i.e., around 3 years and 7 months. Weight, spleen size and thickness are relevant for surgery planning, the larger, the more difficult the procedure will be. Conclusions: Splenectomy can deliver benefits
to the group of patients with refractory kala-azar, co-infected by the HIV or not, that failed treatment for both infections and developed hypersplenism.