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RESUMO: O aumento no número de recém-nascidos com microcefalia e outras desordens neurológicas, ocorridos no Brasil e na Polinésia Francesa durante o surto de infecção pelo vírus Zika (ZIKV), foi responsável pelo alerta internacional que culminou, em 2016, com a declaração da Organização Mundial de Saúde classificando a epidemia pelo ZIKV como Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional. Atualmente, a magnitude da associação entre ZIKV e microcefalia permanece incerta, entretanto com a identificação do envolvimento do sistema imunológico materno, através da interleucina-17, no desenvolvimento de desorganização cortical e do número maior de microcefalia ocorrido no nordeste em comparação com as demais regiões brasileiras, foi proposta uma hipótese de influência da toxoplasmose latente como “amplificador” da produção de interleucina-17 e consequente maior acometimento do sistema nervoso central nas regiões cuja prevalência da toxoplasmose seja elevada, situação frequente no nordeste brasileiro. Objetivo: Atualizar a abordagem pré-natal prestada às gestantes infectadas pelo ZIKV ao gerar novos conhecimentos sobre a relação entre infecção por ZIKV e microcefalia fetal. Método: Delineado como caso-controle, o estudo utilizou os bancos de dados da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do Estado do Piauí para identificar as 25 participantes, sendo 11 no grupo caso e 14 no grupo controle. Os dados foram colhidos diretamente nos bancos de dados como também através do preenchimento de formulário específico desenvolvido para essa pesquisa. Resultados: As gestantes do grupo controle apresentavam idade mais avançada (mediana 29,748 anos e intervalo interquartil (IIQ) 5,4 anos) e em sua maioria estavam empregadas (64,29%) com consequente aumento na renda familiar (mediana 4.092,5 reais e intervalo interquartil 8.433,0 reais). No pré-natal, 84% das gestantes apresentaram sintomas da infecção pelo ZIKV em algum momento, com diferença estatística entre os trimestres (p = 0,001) e 54,17% possuíam sorologia IgG positiva para toxoplasmose porém sem diferença entre os grupos (p = 1,00) e 90,91% dos diagnósticos de microcefalia ocorreram no período pós-natal. Não houve relação entre microcefalia e prematuridade (mediana 38 semanas e IIQ 2 semanas) e não houve diferença entre a via de parto entre os grupos (p = 1,00) apesar de 72% dos partos ocorrerem por via cesariana. Conclusões: A microcefalia relacionada ao ZIKV não evidenciou associação com a toxoplasmose latente, porém a epidemia teresinense apresentou características que devem direcionar as ações de saúde. ABSTRACT: The increased number of newborns with microcephaly and other neurological disorders in Brazil and French Polynesia during the outbreak of Zika virus (ZIKV) was responsible for the international alert that culminated in 2016 with the declaration of World Health Organization classifying the epidemic by the ZIKV as Public Health Emergency of International Interest. Currently, the magnitude of the association between ZIKV and microcephaly remains uncertain. However, with the identification of involvement of the maternal immune system, through interleukin-17, in the development of cortical disorganization and the larger number of microcephaly occurred in the northeast compared to the other Brazilian regions, a hypothesis was proposed for the influence of latent toxoplasmosis as an "amplifier" of interleukin-17 production and consequent greater involvement of the central nervous system in regions with high toxoplasmosis prevalence, a frequent situation in brazilian northeastern. Objective: Update the prenatal approach given to pregnant women infected with ZIKV by generating new knowledge about the relationship between ZIKV infection and fetal microcephaly. Method: Designed as case-control, the study used the databases of the Epidemiological Surveillance of the State Health Department of Piauí to identify the 25 participants, 11 in the case group and 14 in the control group. The data were collected directly from the databases as well as by filling in a specific form developed for this research. Results: The pregnant women in the control group were older (median 29.748 years and interquartile range (IQR) 5.4 years) and were mostly employed (64.29%) with a consequent increase in family income (median 4,092.5 reais and interval interquartile 8,433.0 reais). In prenatal care, 84% of the pregnant women had symptoms of ZIKV infection at some time, with a statistical difference between the quarters (p = 0.001) and 54.17% had positive IgG seropositivity for toxoplasmosis but no difference between groups (p = 1, 00) and 90.91% of microcephaly diagnoses occurred in the postnatal period. There was no relationship between microcephaly and prematurity (median 38 weeks and IQR 2 weeks) and there was no difference between the way of delivery between the groups (p = 1.00), although 72% of the deliveries occurred by cesarean section. Conclusions: ZIKV-related microcephaly did not show any association with latent toxoplasmosis, but the epidemic of Teresina presented characteristics that should guide health actions.