Abstract:
RESUMO: A Neuropatia Diabética é a complicação mais comum do Diabetes Mellitus (DM), afetando mais de 50% dos pacientes. A neuropatia periférica simétrica distal constitui sua forma de apresentação mais freqüente, ocorrendo em 90% dos casos, resultando em alterações sensitivo-motoras e déficits funcionais variáveis, além de acarretar custos financeiros e sociais. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são importantes para prevenir complicações da doença, especialmente o pé diabético. A
assistência às pessoas com DM na Atencão Primária em Saúde deve ser realizada
de acordo com as necessidades gerais previstas no cuidado integral e longitudinal do
diabetes, incluindo o apoio para mudança de estilo de vida, o controle metabólico e a
prevenção das complicações crônicas, incluindo a ND. Nesse contexto, o presente
estudo teve como objetivo estimar a prevalência de neuropatia periférica em pacientes
com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) assistidos na Atenção Primária em Saúde, e
identificar os fatores de risco associados. Trata-se de um estudo observacional,
transversal, quantitativo, realizado em 15 Unidades Básicas de Saúde (UBS) da zona
urbana da cidade de Teresina – PI, com a participação de 263 pacientes com
diagnóstico de DM2, com idade de 30 a 60 anos. Para a coleta de dados foram
utilizados o Instrumento de Classificação de Neuropatia de Michigan (MNSI - Brasil),
o Questionário de Atividades de Autocuidado com o Diabetes (QAD) e um questionário
semi-estruturado, abordando aspectos sociodemográficos, antropométricos, clínicos
e assistenciais. A neuropatia periférica foi diagnosticada em 32% da amostra, a qual
foi constituída majoritariamente de mulheres (69,2%), sendo a maioria dos pacientes
com pouca ou nenhuma instrução (52.8%), casados (58,6%), não consumidores de
álcool (79,5%) ou tabaco (93,2%), não praticantes de atividade física (64,6%), e
apresentando comorbidades (81,7%). Entretanto, não houve influência significativa
das variáveis sociodemográficas sobre a presença de neuropatia. Entre os aspectos
clínicos, apenas a pressão arterial sistólica foi estatisticamente associada à neuropatia
(p=0.0015). Embora a proporção de neuropatias não tenha mostrado relação com o
tempo de admissão na UBS (p=0,2492), houve tendência significativa (p=0,0052) de
aumento proporcional dos casos quanto maior o tempo de diagnóstico da DM2. A
maioria dos pacientes (87,5%) nunca foi submetida à avaliação das condições
neuropáticas em membros inferiores, nem receberam orientações acerca dos
cuidados com os pés (65,4%), porém não houve associação dessas variáveis com a
presença de neuropatia (p = 0,663 e p = 0,9514, respectivamente). A detecção da
neuropatia periférica simétrica distal foi predominantemente atribuída à 2ª parte do
MNSI – Brasil, com 30,4% dos pacientes apresentando sinais clínicos indicativos de
neuropatia (p<0.0001). Em geral, os cuidados com os pés são realizados em média
três vezes por semana, sendo o cuidado de secar entre os dedos o mais praticado.
Entretanto, não houve diferenças estatisticamente significantes entre aqueles com e
sem neuropatia quanto à pratica de autocuidados com os pés. Conclui-se através do
exposto que a prevalência de neuropatia periférica em pacientes com DM2 assistidos
na Atenção Primária em Saúde em Teresina-PI foi de 32%; não havendo associação
com fatores sociodemográficos, presença de comorbidades, prática de autocuidados
com os pés, nem com aspectos relacionados à assistência recebida nas UBSs, tendo
influência apenas o tempo de diagnóstico do diabetes e a pressão arterial sistólica. ABSTRACT: Diabetic Neuropathy is the most common complication of Diabetes Mellitus (DM), affecting more than 50% of patients. Distal symmetrical polyneuropathy is the most
frequent form of presentation, occurring in 90% of the cases, resulting in sensory-motor
alterations and variable functional deficits, as well as financial and social costs. Early
diagnosis and appropriate treatment are important to prevent complications of the
disease, especially diabetic foot. Assistance to people with DM in Primary Health Care
should be performed according to the general needs for full and longitudinal diabetes
care, including lifestyle change support, metabolic control, and prevention of chronic
complications, including ND. In this context, the present study aimed to estimate the
prevalence of peripheral neuropathy in type 2 diabetic patients (T2DM) assisted in
Primary Health Care, and to identify the associated risk factors. This is a crosssectional,
quantitative observational study carried out in 15 Basic Health Units (BHU)
in the urban area of the city of Teresina - PI, with the participation of 263 patients
diagnosed with T2DM, aged 30 to 60 years. To collect data, the Michigan Neuropathy
Classification Instrument (MNSI - Brazil), the Diabetes Self-Care Activity Questionnaire
(DAQ) and a semi-structured questionnaire were used, addressing sociodemographic,
anthropometric, clinical and care aspects. Peripheral neuropathy was diagnosed in
32% of the sample, which consisted mostly of women (69.2%), the majority of patients
with low or no education (52.8%), married (58.6%), nonconsumers of alcohol (79.5%)
or tobacco (93.2%), who did not practice physical activity (64.6%), and had
comorbidities (81.7%). However, there was no significant influence of
sociodemographic variables on the presence of neuropathy. Among clinical aspects,
only systolic blood pressure was statistically associated with neuropathy (p = 0.0015).
Although the proportion of neuropathies was not related to the time of admission in the
BHU (p = 0.2492), there was a significant tendency (p = 0.0052) of proportional
increase of the cases the longer the diagnosis time of T2DM. The majority of the
patients (87.5%) were never submitted to evaluation of neuropathic conditions in the
lower limbs, nor did they receive guidance about foot care (65.4%), but there was no
association of these variables with the presence of neuropathy (p = 0.663 and p =
0.9514, respectively). The detection of distal symmetrical peripheral neuropathy was
predominantly attributed to the second part of the MNSI - Brazil, with 30.4% of patients
presenting clinical signs indicative of neuropathy (p <0.0001). In general, foot care is
practiced on average three times a week, with the most common used technique being
drying between the fingers. However, there were no statistically significant differences
between those with and without neuropathy regarding the practice of self-care with
feet. It is concluded from the above that the prevalence of peripheral neuropathy in
patients with T2DM assisted in Primary Health Care in Teresina-PI was 32%; there
was no association with sociodemographic factors, presence of comorbidities, selfcare
practices with feet, or aspects related to the care received in the BHUs, and only
influenced the time of diabetes diagnosis and systolic blood pressure.