ETNOZOOLOGIA E ETNOECOLOGIA NA COMUNIDADE DE PESCADORES ARTESANAIS DO MUNICÍPIO DE MIGUEL ALVES, PI/BRASIL

Abstract

RESUMO: Nas comunidades tradicionais de pescadores artesanais evidencia-se uma importância cultural de sobrevivência por meio do uso dos recursos pesqueiros. Assim, analisou-se o conhecimento etnozoológico e etnoecológico dos pescadores artesanais da comunidade de Miguel Alves / Piauí, filiados à Colônia Z-14, visando conhecer e registrar a diversidade dos recursos animais (peixes), os aspectos relacionados à Taxonomia Folk e Etnoecologia, além de registrar a diversidade sociocultural da comunidade, as estratégias de pesca e a percepção ambiental acerca dos recursos hídricos da região. Miguel Alves abriga a sede da colônia Z-14, e possui 440 associados, destes, apenas 366 pertencem ao município. A metodologia definiuse em entrevistas semiestrururadas, observação direta, registro fotográfico, conversas informais registradas em diário de campo, tabulação e análise qualitativa e quantitativa dos dados. Realizaram-se coleta e identificação do material zoológico. Entrevistou-se 183 pescadores, (59,6%) do gênero masculino e (40,4%) do feminino. Há uma participação das mulheres na pesca que pode ser direta (pescando com os maridos) ou indireta (no preparo do peixe para consumo ou venda). 59,49% dos pescadores possuem apenas o ensino fundamental incompleto, 49,36% produzem artesanalmente artigos para consumo próprio ou venda difundida entre as seguintes categorias: artefatos de pesca, fabricação de canoas, produção de remédios caseiros e bordados. Os pescadores apontaram diversos problemas que afetam o rio Parnaíba: desmatamento nas margens do rio, soterramento de lagoas, assoreamento, poluição com produtos químicos e irrigação. Na comunidade, constatou-se que há um programa de educação ambiental voltado para a valorização e respeito aos recursos naturais, desenvolvido pela prefeitura municipal em conjunto com a colônia de pescadores Z-14 e o IBAMA. Quanto ao conhecimento tradicional em relação aos pescados da região, foram apontadas 42 espécies, distribuídas em seis ordens e 20 famílias. Os apetrechos mais utilizados foram: engancho/rede, seguido de anzol e tarrafa. O índice de Shannon-Wiener demonstrou que a diversidade de citações entre gêneros apresenta valores semelhantes entre homens e mulheres. Por meio do Coeficiente de Pearson, contatou-se que embora a idade e o tempo no ofício da pesca tenham influenciado no número de peixes citados por cada classe, esta foi muito sutil tendo como base os valores numéricos trabalhados. Os peixes foram classificados em raros (18 espécies) e comuns (24 espécies). Constatou-se que a forma do corpo (63%) e a coloração (41%) foram os critérios mais utilizados na identificação dos “tipos” de peixes. Aspectos como o revestimento cutâneo, habitat, tipos de dentes, tamanho e presença ou não de esporão também foram utilizados na classificação. O conhecimento popular sobre a morfologia dos peixes foi específico e minucioso, sendo utilizado no reconhecimento e nomeação das etnoespécies. Foram citados 14 diferentes itens alimentares que compõem a dieta dos peixes locais, sendo 11 encontrados naturalmente no ambiente aquático, e três adicionados no momento da captura das espécies. Os peixes foram classificados quanto ao habitat em quatro categorias: “peixe de rio”; “peixe de lagoa”; “peixe que vive no fundo” e “peixe que vive no raso”. Quanto à reprodução, a diferenciação do macho e da fêmea, só ocorre no momento da retirada das vísceras. Os fenômenos comportamentais percebidos foram agrupados em seis categorias as quais se relacionam com comportamento de fuga, predação, comportamento social, ou ainda a respostas a estímulos artificiais. A valorização do conhecimento tradicional das populações pesqueiras é essencial para a manutenção da diversidade biológica, e para possíveis planos de manejos pesqueiros. ABSTRACT: In traditional communities of artisanal fisherpeople, there is a cultural importance of survival by fishing resources. Thus, ethnozoological and ethnoecological knowledge of artisanal fisherpeople from the community Miguel Alves/PI, affiliated to Colony Z-14, was analysed in order to know and register diversity of animal resources (fishes), the aspects related to Folk Taxonomy and Ethnoecology, as well as to register the sociocultural diversity of the community, their fishing strategies and the environmental perception on the region's water resources. Colony Z-14’s county seat is located at the city of Miguel Alves and has 440 associates, but only 366 belong to the city. Methodology consisted of semi-structured interviews, direct observation, photographic record, informal conversations recorded in field diary, tabulation and qualitative and quantitative data analysis. Collection and identification of zoological material were carried out. 183 fisherpeople were interviewed, (59.6%) male and (40.4%) female. There is a participation of women in fishing that can be direct (fishing with their husbands) or indirect (in the preparation of the fish for consumption or sale). 59.49% of fisherpeople have incomplete elementary education, 49.36% produce handicrafts articles for their own consumption or sale diffused among the following categories: fishing artifacts, canoe manufacturing, home medicine production and embroidery. Fisherpeople pointed out several problems that affect Parnaíba River: deforestation along river banks, lagoon landslides, siltation, chemical pollution and irrigation. In the community, it was verified that there was an environmental education program focused on valorization and respect for natural resources, developed by municipal government together with the fisherpeople's colony Z-14 and IBAMA. Traditional knowledge regarding local fishes identifies 42 species, distributed into six orders and 20 families. The most used paraphernalia were: fishing net, followed by fish hook and cast nets. The Shannon-Wiener index demonstrated that the diversity of citations between genders presents similar values between men and women. Using Pearson's coefficient, it was found that, although age and time in the fishing trade influenced the number of fishes cited by each class, it was very subtle based on numerical values. Fishes were classified as rare (18 species) and common (24 species). Body shape (63%) and coloration (41%) were the most commonly used criteria for identifying "types" of fish. Aspects such as skin, habitats, tooth types, size and presence or absence of spur were also used in the classification. Popular knowledge on morphology of fishes was specific and meticulous, as well as useful for recognition and naming of ethno-species. There were identified 14 different food items in local fish diet, 11 naturally found in the aquatic environment, and three added at the time of capture. Concerning habitat, fishes were classified into four categories: “river fish”; “lagoon fish”; “fish that lives at the bottom” and “fish that lives at the top”. Regarding reproduction, differentiation between male and female is observed when viscera are removed. The perceived behavioral phenomena were grouped into six “categories” which are related to escape behavior, predation, social behavior or responses to artificial stimuli. Recognizing the importance of traditional knowledge from fishing populations is essential for the maintenance of biological diversity, as well as for possible plans of fishing management. RESUMEN: En las comunidades tradicionales de pescadores artesanales se evidencia una importancia cultural de supervivencia por medio del uso de los recursos pesqueros. Así, se analizó el conocimiento Etnozoológico y Etnoecológico de los pescadores artesanales de la comunidad de Miguel Alves / PI, afiliados a la Colonia Z-14, visando conocer y registrar la diversidad de los recursos animales (peces), los aspectos relacionados a la Taxonomía Folk y etnoecología, además de registrar la diversidad sociocultural de la comunidad, estrategias de pesca y la percepción ambiental sobre los recursos hídricos de la región. Miguel Alves alberga la sede de la colonia Z-14, y posee 440 asociados, de éstos, sólo 366 pertenecen al municipio. La metodología se definió en entrevistas semiestrururadas, observación directa, registro fotográfico, conversaciones informales registradas en diario de campo, tabulación y análisis cualitativo y cuantitativo de los datos. Se realizaron una colecta y identificación del material zoológico. Se entrevistó 183 pescadores, (59,6%) del género masculino y (40,4%) del femenino. Hay una participación de las mujeres en la pesca que puede ser directa (pescando con los maridos) o indirecta (en la preparación del pescado para el consumo o la venta). El 59,49% de los pescadores tienen sólo la enseñanza fundamental incompleta, el 49,36% producen artesanalmente artículos para su propio consumo o venta difundida entre las siguientes categorías: artefactos de pesca, fabricación de canoas, producción de remedios caseros y bordados. Los pescadores apuntaron diversos problemas que afectan al río Parnaíba: deforestación en las márgenes del río, soterramiento de lagunas, sedimentación, contaminación con productos químicos e y irrigación. En la comunidad, se constató que hay un programa de educación ambiental orientado a la valorización y respeto a los recursos naturales, desarrollada por el ayuntamiento municipal en conjunto con la colonia de pescadores Z-14 y el IBAMA. En cuanto al conocimiento tradicional en relación a los pescados de la región, fueron apuntadas 42 especies, distribuidas en seis órdenes y 20 familias. Los utensilios de pesca más utilizados fueron: enganche / redes, seguido de anzuelo y tarraya. El índice de Shannon-Wiener demostró que la diversidad de citas entre géneros presenta valores similares entre hombres y mujeres. Por medio del Coeficiente de Pearson, se ha entendido que aunque la edad y el tiempo de la actividad pesquera han influido en el número de peces citados por cada clase, esta ha sido muy sutil teniendo como base los valores numéricos trabajados. Los peces fueron clasificados en raros (18 especies) y comunes (24 especies). Se constató que la forma del cuerpo (63%) y la coloración (41%) fueron los criterios más utilizados en la identificación de los tipos de peces. Los aspectos como el revestimiento cutáneo, habitat, tipos de dientes, tamaño y presencia o no de esporón también se utilizaron en la clasificación. El conocimiento popular sobre la morfología de los peces fue específico y minucioso, siendo utilizado en el reconocimiento y nombramiento de las etnoespecies. Se citó 14 diferentes ítems alimentarios que componen la dieta de los peces locales, siendo 11 encontrados naturalmente en el ambiente acuático, y tres añadidos en el momento de la captura de las especies. Los peces fueron clasificados en cuanto al habitat en cuatro categorías: "pescado de río"; "Pescado de la charca"; "Pescado que vive en el fondo" y "pez que vive en el raso". En cuanto a la reproducción, la diferenciación del macho y de la hembra, sólo ocurre en el momento de la retirada de las vísceras. Los fenómenos comportamentales percibidos fueron agrupados en seis categorías las cuales se relacionan con comportamiento de fuga, depredación, comportamiento social, o aún a respuestas a estímulos artificiales. La valorización del conocimiento tradicional de las poblaciones pesqueras es esencial para el mantenimiento de la diversidad biológica, y para posibles planes de manejo pesquero.