Abstract:
RESUMO: Introdução: o consumo de álcool e tabaco envolve situações complexas e múltiplos determinantes que variam de acordo com a cultura, momento histórico e grupo
social. Diante disso, ressalta-se a crescente preocupação quanto às mudanças nos
padrões de consumo apresentadas no universo feminino, visto que tais substâncias
são responsáveis por implicações negativas para a vida das mulheres, dentre as
quais figura a exposição destas à violência por parceiro íntimo. Objetivo: analisar o
consumo de álcool e tabaco por mulheres e a ocorrência de violência por parceiro
íntimo contra a mulher. Materiais e método: estudo transversal, exploratório e
analítico realizado com 369 mulheres na faixa de 20 a 59 anos de idade, atendidas
em Unidades Básicas de Saúde dos municípios de Teresina, Parnaíba, Picos,
Floriano e Bom Jesus. A coleta de dados ocorreu no período de agosto de 2015 a
março de 2016, por meio da aplicação do Alcohol Use Desorders Identification Test
(AUDIT), Non-Student Drugs Use Questionnaire (NSDUQ) e Revised Conflict Tactics
Scales (CTS2). Utilizou-se o software Statistical Package for the Social Science
(SPSS), versão 22.0, para a realização da análise estatística descritiva, bivariada
(teste qui-quadrado de Pearson ou teste exato de Fisher) e multivariada (regressão
logística binária). O desenvolvimento do estudo ocorreu em conformidade com as
exigências das diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo
seres humanos, regidas pelas Resoluções n.º 466/2012 e n.º 510/2016.
Resultados: a prevalência do consumo de álcool foi de 50,1% e do tabaco de
17,9%. Das mulheres entrevistadas, 64,0% foram vítimas de violência por parceiro
íntimo: 61,5% de agressão psicológica (60,7% menor e 41,5% severa), 33,6% de
abuso físico (32,0% menor e 16,0% severa) e 17,1% de coerção sexual (13,6%
menor e 6,2% severa). Ademais, 16,0% relataram a ocorrência de injúrias (14,6%
menor e 7,0% severa). O consumo de álcool e o consumo de tabaco pelas mulheres
associaram-se estatisticamente à ocorrência de violência por parceiro íntimo contra
a mulher, sendo que o consumo de álcool aumenta em 2,15 vezes a chance da
mulher ser violentada pelo parceiro íntimo (p = 0,001; IC 95% = 1,37-3,38), enquanto
o consumo de tabaco aumenta a chance da mulher ser violentada em 2,04 vezes
(p = 0,038; IC 95% = 1,04-4,00). Ao considerar a natureza da violência, constatou-se
que tanto o consumo de álcool quanto o de tabaco mostrou-se associado às
agressões psicológicas menores e severas, aos abusos físicos menores e severos e
às injúrias menores e severas. O consumo de álcool associou-se também à coerção
sexual menor praticada pelo parceiro íntimo contra a mulher. Conclusão: o presente
estudo constatou elevadas prevalências de consumo de álcool e tabaco na amostra
e que essas substâncias apresentam-se como fatores de risco à ocorrência de
violência por parceiro íntimo contra a mulher. Dessa forma, faz-se necessário a
formulação e o fortalecimento de estratégias e políticas públicas que abordem tais
problemáticas no contexto de uma assistência integral e humanizada à saúde das
mulheres. ABSTRACT: Introduction: alcohol and tobacco consumption involves complex situations and multiple determinants that vary according to culture, historical moment and social group. Therefore, the growing concern about the changes in patterns of consumption presented in the female universe is highlighted, since these substances are
responsible for negative implications for the lives of women, among them, their
exposure to intimate partner violence. Objective: to analyze the consumption of
alcohol and tobacco by women and the occurrence of intimate partner violence
against women. Materials and methods: a cross-sectional, exploratory and
analytical study of 369 women between the ages of 20 and 59 years, attended at the
Basic Health Units of the municipalities of Teresina, Parnaíba, Picos, Floriano and
Bom Jesus. Data collection was performed from August 2015 to March 2016, using
the Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT), Non-Student Drugs Use
Questionnaire (NSDUQ) and Revised Conflict Tactics Scales (CTS2). Statistical
Package for Social Science (SPSS), version 22.0, was used for descriptive, bivariate
(Pearson chi-square test or Fisher exact test) and multivariate statistical analysis
(binary logistic regression). The development of the study occurred in accordance
with the requirements of the directives and norms regulating research involving
human beings, governed by Resolutions 466/2012 and 510/2016. Results: the
prevalence of alcohol consumption was 50,1% and tobacco prevalence was 17,9%.
Of the women interviewed, 64,0% were victims of intimate partner violence: 61,5% of
psychological abuse (60,7% lower and 41,5% severe), 33,6% pf physical abuse
(32,0% lower and 16,0% severe) and 17,1% of sexual coercion (13,6% lower and
6,2% severe). In addition, 16,0% reported the occurrence of injuries (14,6% lower
and 7,0% severe). Alcohol consumption and smoking by women were statistically
associated with the occurrence of intimate partner violence against women, with
alcohol consumption increasing by 2,15 times the chance of women being raped by
their intimate partner (p = 0,001, 95% CI = 1,37-3,38), while smoking increased the
chance of women being raped by 2,04 times (p = 0,038, 95% CI = 1,04-4,00). When
considering the nature of violence, it was found that both alcohol and tobacco
consumption were associated with minor and severe psychological aggressions,
minor and severe physical abuse, and minor and severe injuries. Alcohol
consumption was also associated with the lower sexual coercion practiced by the
intimate partner against the woman. Conclusion: the present study found high
prevalence of alcohol and tobacco consumption in the sample and that these
substances presente as risk fator for the occurrence of intimate partner violence
against woman. Thus, it is necessary to formulate and strengthen strategies and
public policies that address such issues in the context of comprehensive and
humanized health care for women.