Abstract:
RESUMO: O estudo teve como objetivo investigar e entender os sentidos da maternidade para mulheres-mães, que se relacionam em grupos de apoio às questões de maternidade, e como respondem aos dilemas e conflitos que esta as obstina, a partir do contato com ideias sobre empoderamento feminino em grupos de mães via rede social. A pesquisa esclarece se realmente é constituída o marcador identitário de mãe, como ela é construída e de que forma contribuições feministas moldam os pensamentos dessas mulheres, enquanto mães e como sujeitas de direito no exercício de suas individualidades. Os dados foram coletados através de entrevistas individuais com 15 (quinze) mães que participam de grupos de apoio à maternidade, baseadas na associação de ideias sobre maternidade e empoderamento, além de observação participante em encontros dos grupos de mães, nos quais elas interagem também pessoalmente. Em seguida, foi realizada análise de discurso para se trabalhar com os sentidos que as mães dão à maternidade, indicando as ideologias, as histórias e a linguagem por trás das falas. O pressuposto analítico que norteia o estudo é o empoderamento feminino, que conquistado através da interação das mães nos grupos de WhatsApp, guia a construção do marcador identitário de mãe e possibilita o enfrentamento das dificuldades da maternidade. O aporte teórico de discussão é composto pela interlocução entre literatura e teoria feminista, abordagem de gênero e teoria social, estendendo-se nos campos do poder, corpo, família e toda a relação com a maternidade. A análise dos dados revela que as mães passam por muitos obstáculos nas fases iniciais da trajetória materna e, ao superarem cada um deles, vivenciam a maternidade empoderada, que acaba se tornando uma identidade que elas sustentam como forma de darem sentido a suas maternidades, ressignificando os cuidados com os/as filhos/as, tradicionalmente designados às mulheres, e convertendo a maternagem e o marcador identitário de mãe em empoderamento. A partir da ideia de que a mulher detem o dom da natureza e que encontram nela o poder para seguir sua prerrogativa, as mães pesquisadas utilizam-se, acima de tudo, de informação e conhecimento sobre elas mesmas e sobre o mundo a sua volta para assumirem e exercerem esse modelo de maternidade. Com a fácil troca de informações promovida pelos aplicativos de conversação como o WhatsApp, o compartilhamento de experiências entre mulheres se tornou maior e mais rápido e, consequentemente, mais mulheres tiveram contato com ideais feministas quando se veem na condição de mulheres e mães reprimidas em situações diversas de violência, desigualdade e abuso. Desse modo, essas mães procuram viabilizar respostas para o enfrentamento dessas situações e veem uma saída na conquista do empoderamento, concretizado com a rejeição do sistema que impõe e limita a maternidade dessas mulheres e a vivência da maternidade empoderada e intensiva. Não se conformando em serem submissas, as mulheres barram as forças coercitivas que tentam interferir em seu protagonismo, defendem não somente a ideia de vivenciar todos os aspectos da maternidade de forma ativa, mas também como uma maneira de lutar contra dominação e alienação, na família, com a divisão sexual do trabalho, na sociedade, com o senso comum, e no discurso médico androcêntrico, com o poder científico legitimado. As mães resistem. ---------------- ABSTRACT: The study aimed to investigate and understand the meanings of motherhood for women-mothers, who relate themselves in support groups to the maternity issues, and how they respond to the dilemmas and conflicts that persist in them, through contact with ideas about women empowerment in groups of mothers via social network. The research clarifies whether the mother's identity is actually constituted, how it is constructed, and how feminist contributions shape the thoughts of these women as mothers and as subjects of law in the exercise of their individualities. Data were collected through individual interviews with 15 (fifteen) mothers who participate of maternity support groups, based on the association of ideas about maternity and empowerment, besides participant observation in meetings of the groups of mothers, where they also interact personally. Next, a discourse analysis was done to work with the senses which mothers give to motherhood, indicating the ideologies, histories and language behind the speeches. The analytical presupposition that guides the study is female empowerment, which conquered through the interaction of mothers in WhatsApp groups, guides the construction of the mother identity and makes it possible to face the difficulties of motherhood. The theoretical contribution of discussion is composed by the interlocution among literature and feminist theory, approach to gender and social theory, extending in the fields of power, body, family and all relationship with motherhood. The analysis of the data reveals which mothers go through many obstacles in the early stages of the maternal trajectory and, overcoming each one, they experience empowered motherhood, which ends up becoming an identity that they sustain as a way of giving meaning to their maternities, resignifying the care for children, traditionally assigned to women, and converting motherhood and the identity into mother empowerment. Based on the idea which woman got the gift of nature and that find in her the power to follow her prerogative, the researched mothers use, above all, information and knowledge about themselves and the world around them to assume and exercise this maternity model. With the easy exchange of information promoted by chat applications such as the WhatsApp, sharing of experiences among women has become larger and faster and, consequently, more women have come into contact with feminist ideals when they find themselves in the condition of women and mothers repressed in situations of violence, inequality and abuse. Thus, these mothers seek to provide answers to face these situations and see an exit in the conquest of empowerment, concretized with the rejection of the system that imposes and limits the motherhood of these women and the experience of empowered and intensive motherhood. Not conforming to being submissive, women bar the coercive forces which try to interfere in their protagonism, defend not only the idea of experiencing all aspects of motherhood in an active way, but also a way to fight against domination and alienation, in the family, with the sexual division of labor, in society, with common sense, and in androcentric medical discourse, with the legitimized scientific power. Mothers resist.