FILOSOFIA E CINEMA:

Abstract

RESUMO: Este estudo tem como objeto de pesquisa o uso do cinema, especificamente o gênero fílmico, nas aulas de Filosofia no Ensino Médio. Seu objetivo central é produzir, a partir de cinco filmes selecionados, um manual de unidades didáticas que contemple cinco eixos temáticos da filosofia, intervindo como contribuição no espaço escolar e como acervo crítico e cultural da disciplina. O ensino de filosofia pode ocorrer de forma dialógica e expositiva sem, no entanto, desprezar as possibilidades de aprendizagem quando se alia o cinema ao uso de livros didáticos baseados na história da filosofia ou no recorte temático. A avaliação sobre a temática do ensino de filosofia encontrada nos autores referenciados e em muitos outros textos que exploram esse tema por diversas perspectivas nos mostra que ainda é muito habitual a apresentação dos conteúdos disciplinares pelos professores de filosofia de forma expositiva, estática e abstrata. No projeto rortyano de uma “utopia liberal”, gêneros como romance, filme e televisão, ocupam o lugar dos vocabulários mais tradicionais por se mostrarem mais eficazes ao provocarem o desenvolvimento da capacidade imaginativa, mais poderosa, que a capacidade investigativa. Essa substituição ainda não ocorre de forma mais acelerada porque, por um lado “a grande parte dos não intelectuais continuam ligados a alguma forma de fé religiosa ou a alguma forma de racionalismo iluminista” (RORTY, 1992, p. 18) e, por outro lado, o número de “ironistas liberais” que não acreditam na existência de uma tal ordem é mínima e insuficiente. Para Rorty (1992), o cinema, como outras formas narrativas, é uma ferramenta mais eficaz para lidarmos com o fato da impossibilidade de encontrarmos um metavocabulário capaz de dar conta de todas as maneiras possíveis de julgar e de sentir, e que tornaria dispensáveis os diversos vocabulários usados por nós. O reconhecimento dessa “contingência da linguagem”, em função da impossibilidade deste metavocabulário, justifica a inconsequência de apreendermos de maneira monoperspectivista, em um único vocabulário, um mundo que se apresenta diante de nós de forma pluriperspectivista, por diversos vocabulários. Para Cabrera (2006), a partir do surgimento do cinema e da noção de “logopatia”, é possível classificar os filósofos como pensadores “apáticos” ou “páticos”, sendo que esses últimos seriam os filósofos cinematográficos. Goodenough (2005) afirma que o filme é feito para a filosofia, pois ele muda ou coloca luz diferente sobre qualquer filosofia que tenha especulado acerca de aparência e realidade, atores e personagens, ceticismo e dogmatismo, presença e ausência, e a partir do possível efeito frozen (congelamento), ainda pode ser caracterizado como filosofia propriamente dita. Assim, este estudo propõe a utilização de filmes como recurso didático-metodológico para um ensino de filosofia menos discursivo-teórico e mais narrativo. Compreendemos que a partir da diversidade dos temas, gêneros e perspectivas abordados pelo cinema, como alternativa à forma expositiva e conceitual que predomina atualmente no cenário escolar, poderemos aproximar os alunos do Ensino Médio à filosofia, tornando-a mais próxima, mais significativa e atribuindo-lhe sentido. Inicialmente, a dissertação apresenta um breve histórico da presença e influência da filosofia no Brasil, do pragmatismo, do Movimento Escola Nova e do neopragmatismo rortyano, da arte e linguagem cinematográfica e posteriormente o manual de unidades didáticas. ABSTRACT: This study has as its research object the use of cinema, specifically the film genre, in Philosophy classes in High School. Its main objective is to produce, from five selected films, a manual of didactic units that contemplates five thematic axes of philosophy, intervening as a contribution in the school space and as a critical and cultural collection of the discipline. Philosophy teaching can take place in a dialogical and expository way, without, however, disregarding the possibilities of learning when cinema is combined with the use of textbooks base don’t he history of philosophy or the thematic framework. The evaluation on the theme of teaching philosophy found in the referenced authors and in many other texts that explore this theme from different perspectives shows us that it is still very usual to present the disciplinary contents per philosophy teachers in an expositive, static and abstract way. In the Rortyan Project of a liberal utopia, genres such as romance, film and television, take the place of more traditional vocabularies because they prove to be more effective in provoking the development of the imaginative capacity, more powerful, than the investigative capacity. This substitution still does not occur more rapidly because, on the one hand, “the great part of non-intellectuals continue to be linked to some form of religious faith or to some form of enligh tenment rationalism” (RORTY, 1992, p. 18) and, on the other hand the number of liberal ironists who do not believe in the existence of such an order is minimal and insufficient. For Rorty (1992), cinema, like other narrative forms, is a more effective tool to deal with the fact that it is impossible to find a metavocabulary capable of handling all possible ways of judging and feeling, and which would render the various vocabularies used by us unnecessar. The recognition of this contingency of language, due to the impossibility of this metavocabulary, justifies the inconsequence of apprehending in a monoperspectivist way, in a single vocabulary, a world that presents itself to us in a pluriperspectivist way, through several vocabularies. For Cabrera (2006), from the emergence of cinema and the notion of logopathy, it is possible to classify philosophers as “apathetic” or “pathetic” thinkers, the latter being cinematographic philosophers. Goodenough (2005) states that the film is made for philosophy, as it changes or sheds different light on any philosophy that has been speculated about appearance and reality, actors and characters, skepticism and dogmatism, presence and absence, and considering the possible frozen effect, it can still be characterized as philosophy itself. Thus, this study proposes the use of films as a didactic-methodological resource for teaching philosophy so that is less discursive-theoretical and more narrative. We understand that from the diversity of themes, genres and perspectives approached by cinema, as an alternative to the expository and conceptual form that currently prevails in the school scenario, we can bring high school students closer to philosophy, making it closer, more meaningful and attributing you sense. Initially, the dissertation presents a brief history of the presence and influence of philosophy in Brazil, of pragmatism, of the Escola Nova Movement and of the Rorty's neopragmatism, of cinematographic art and language and later on the didactic units manual.